James Dean e o seu adorado «Porsche 550 Spyder», ao volante
do qual haveria de perder a vida aos 24 anos, em 30.09.1955.
[fonte: web]
Quando procuramos explicar um acontecimento, ensinam os estudiosos que devemos fazer uma análise em três planos distintos. Primeiro, identificaremos as causas profundas, as ditas razões de fundo. Depois, invocaremos as razões particularmente importantes. Daí, passaremos para as causas intermédias e, por último, para a causa precipitante.
Olhando para trás, os acontecimentos parecem sempre inevitáveis. E isto explica-se porque nos atemos à causa precipitante, a última no tempo, mas que é, curiosamente, a de menor importância. No fundo, não é uma explicação, não é uma razão, é somente o fósforo que ateia fogo à pilha de papéis antes, e por múltiplos motivos, montada.
Se não fosse aquela a causa precipitante, seria qualquer outra. Não vale a pena fazer a análise das condicionais contrafactuais e perguntar: «E se aquilo não tivesse sucedido?». A resposta será sempre a mesma: as probabilidades de o desfecho ter sido igual continuaria a ser elevada ou muito elevada. Mas «elevada» ou «muito elevada» nunca será sinónimo de «inevitável».
O busílis de tudo está nisto: a invocação da causa precipitante tranquiliza-nos. Por um lado, escusa-nos ao trabalho de descortinar as causas profundas e as intermédias, bem como as razões particularmente importantes. Por outro lado, é a mais recente, a mais viva na memória, a que, ao ser invocada, criará a nuvem de fumo que esconde o muito ou, quem sabe, o nada que está por detrás dela.
Alguém - não sei quem, mas alguém muito antes de mim - disse que as causas precipitantes são como os eléctricos: surgem de 10 em 10 minutos. Dão jeito, efectivamente (já disse porquê), mas não serão o bastante para quem sabe que não passam disso mesmo, de causas que precipitaram o desfecho, e que, por isso mesmo, por si só, não tornariam os acontecimentos realidade.
O que é curioso observar é que as pessoas - todas as pessoas -, depois dos grandes acontecimentos das suas vidas[*], se conformam, seguem em frente, retomam o seu dia-a-dia. Os espíritos mais inquietos, contudo, não deixam de fazer a análise global e ponderada dos três planos distintos, porque querem ver e perceber para além da insignificante causa precipitante. Os outros, bem, os outros eu simplesmente não sei o que fazem.
[*] Por «grandes acontecimentos das suas vidas» pode entender-se tudo e mais alguma coisa, desde uma guerra civil, um despedimento, a crise económica da Europa, o fim de uma relação amorosa ou de amizade, a perda de um pai ou de um filho, uma doença grave. O raciocínio aplica-se ao que quisermos, se quisermos.
© [m.m. botelho]
Olhando para trás, os acontecimentos parecem sempre inevitáveis. E isto explica-se porque nos atemos à causa precipitante, a última no tempo, mas que é, curiosamente, a de menor importância. No fundo, não é uma explicação, não é uma razão, é somente o fósforo que ateia fogo à pilha de papéis antes, e por múltiplos motivos, montada.
Se não fosse aquela a causa precipitante, seria qualquer outra. Não vale a pena fazer a análise das condicionais contrafactuais e perguntar: «E se aquilo não tivesse sucedido?». A resposta será sempre a mesma: as probabilidades de o desfecho ter sido igual continuaria a ser elevada ou muito elevada. Mas «elevada» ou «muito elevada» nunca será sinónimo de «inevitável».
O busílis de tudo está nisto: a invocação da causa precipitante tranquiliza-nos. Por um lado, escusa-nos ao trabalho de descortinar as causas profundas e as intermédias, bem como as razões particularmente importantes. Por outro lado, é a mais recente, a mais viva na memória, a que, ao ser invocada, criará a nuvem de fumo que esconde o muito ou, quem sabe, o nada que está por detrás dela.
Alguém - não sei quem, mas alguém muito antes de mim - disse que as causas precipitantes são como os eléctricos: surgem de 10 em 10 minutos. Dão jeito, efectivamente (já disse porquê), mas não serão o bastante para quem sabe que não passam disso mesmo, de causas que precipitaram o desfecho, e que, por isso mesmo, por si só, não tornariam os acontecimentos realidade.
O que é curioso observar é que as pessoas - todas as pessoas -, depois dos grandes acontecimentos das suas vidas[*], se conformam, seguem em frente, retomam o seu dia-a-dia. Os espíritos mais inquietos, contudo, não deixam de fazer a análise global e ponderada dos três planos distintos, porque querem ver e perceber para além da insignificante causa precipitante. Os outros, bem, os outros eu simplesmente não sei o que fazem.
[*] Por «grandes acontecimentos das suas vidas» pode entender-se tudo e mais alguma coisa, desde uma guerra civil, um despedimento, a crise económica da Europa, o fim de uma relação amorosa ou de amizade, a perda de um pai ou de um filho, uma doença grave. O raciocínio aplica-se ao que quisermos, se quisermos.
© [m.m. botelho]