tindersticks | «the hungry saw» | 2008
É impossível tentar definir de um modo simples e directo os Tindersticks. Descrevê-los é invocar a combinação perfeita entre o timbre grave e rico em harmónicos de Stuart A. Staples (às vezes propositadamente aquém das notas, outras fazendo lembrar Leonard Cohen); melodias simples (repescadas das canções clássicas dos anos 60 e 70) e, contudo, profundamente emotivas; orquestrações e arranjos pouco imediatos, e, por isso, surpreendentes. E ainda há as letras, entre as quais se destacam os extraordinários (por vezes, deprimentes) monólogos de Staples. O somatório não é somente apelativo, é apaixonante.
Foi preciso esperar cinco anos por «The Hungry Saw», provavelmente o melhor álbum de originais da banda de Nottingham nos últimos doze anos. Nele, o piano introduz um conjunto de canções marcantes que conjugam soberbamente a sonoridade a que os Tindersticks já nos habituaram com novas influências, canções que oscilam entre o folk de «The Flicker Of A Little Girl», o instrumental psicadélico de «E-Type» (quem estava à espera da voz feminina suportada pelo órgão como pano de fundo?) e as (belíssimas e nostálgicas) reminiscências fantasmagóricas de «The Organist Entertains». O single que dá titulo ao álbum encharca-nos de blues e sangue à medida que Staples nos conta a história de uma jovem que sucumbe às mãos de um homem ardiloso: «the first cut is the skin, second is the muscle, then there's a crack of the bone and he's at your heart». E damos por nós como ela: retalhados.
Em «The Hungry Saw» os Tindersticks voltam a ser eles mesmos. E nós voltamos a render-nos ao modo como cantam para nós.
Tindersticks. «Introduction to "The Hungry Saw"».
«The Hungry Saw» [2008].
[Também publicado em PNETmulher.]
© Marta Madalena Botelho
Foi preciso esperar cinco anos por «The Hungry Saw», provavelmente o melhor álbum de originais da banda de Nottingham nos últimos doze anos. Nele, o piano introduz um conjunto de canções marcantes que conjugam soberbamente a sonoridade a que os Tindersticks já nos habituaram com novas influências, canções que oscilam entre o folk de «The Flicker Of A Little Girl», o instrumental psicadélico de «E-Type» (quem estava à espera da voz feminina suportada pelo órgão como pano de fundo?) e as (belíssimas e nostálgicas) reminiscências fantasmagóricas de «The Organist Entertains». O single que dá titulo ao álbum encharca-nos de blues e sangue à medida que Staples nos conta a história de uma jovem que sucumbe às mãos de um homem ardiloso: «the first cut is the skin, second is the muscle, then there's a crack of the bone and he's at your heart». E damos por nós como ela: retalhados.
Em «The Hungry Saw» os Tindersticks voltam a ser eles mesmos. E nós voltamos a render-nos ao modo como cantam para nós.
Tindersticks. «Introduction to "The Hungry Saw"».
«The Hungry Saw» [2008].
[Também publicado em PNETmulher.]
© Marta Madalena Botelho