- Ena, tantos! E quando vais ler isto tudo? – A pergunta foi feita pela minha mãe quando veio cá a casa e se deparou com a pilha de livros que tenho em cima da secretária onde escrevo este texto. Respondi-lhe que ainda não sei onde irei arranjar tempo para os ler, mas também não estou preocupada com isso. Sei apenas que vou ler alguns, tal como tenho a certeza de que não os lerei todos.
Pus-me a olhar para o pequeno monte de títulos à minha frente. As capas são coloridas, algumas muito coloridas, mesmo. Capas atractivas, como que a antecipar um conteúdo também ele empolgante e que me prenderá como leitora. Mas há mais em comum entre estes livros. À excepção de um deles, todos são de prosa. À parte disso, são todos livros «magros». O de lombada mais generosa talvez tenha umas 130 a 150 páginas. Estou a olhá-los de esguelha, por isso, pode ser que me engane. Mas não, não devo estar enganada. E digo isto porque entre os livros que compro e que leio há um certo padrão, do qual há já algum tempo me dei conta.
Gosto de histórias curtas, escorreitas, bem contadas. Gosto que me deixem espaço para as minhas próprias construções em torno das personagens e dos cenários. Gosto de ser induzida, mas não conduzida pelo escritor. E, acima de tudo, acho que as histórias, principalmente se forem histórias de amor, devem ser breves.
Todas as histórias de amor são breves. «A» conhece «B», apaixonam-se, amam-se e, depois, ou vivem felizes para sempre, ou se separam, umas vezes para viverem outras histórias de amor, outras não. O que sucede pelo meio é mais ou menos complexo, porque as histórias de amor são como as sanduíches, senão vejamos. As sanduíches começam e acabam sempre da mesma maneira – com duas fatias de pão – e o recheio varia consoante o gosto de quem as vai comer – com mais ou menos fiambre, mais ou menos tomate, mais ou menos maionese. Do mesmo modo, todas as histórias de amor começam e acabam da mesma maneira – com uma intensa paixão que se vai esfumando no tempo, umas vezes para se transformar no que os entendidos chamam «amor», outras vezes para desaparecer – e o que vai acontecendo no meio varia consoante a inspiração e o romantismo dos amantes – com mais ou menos sensualidade, mais ou menos envolvimento, mais ou menos entrega.
Entre os livros que comprei há algumas histórias de amor, que é como quem diz, algumas sanduíches. Importa, por isso, que quando as leia tenha alguma fome. Muita fome, de preferência. Eis por que sei que não as lerei a todas, eis por que sei que certamente lerei algumas. Deixar-me-ei saciar, mas sem me empanzinar, até porque o menu é extenso e para degustar cada uma delas convenientemente, importa que o estômago esteja perfeitamente livre de vestígios da degustação anterior. Mais tarde, quem sabe, talvez venha a escrever sobre algumas dessas histórias de amor. Para já, há que encontrar tempo para as saborear devidamente.
[Também publicado em PNETmulher.]
© Marta Madalena Botelho
Pus-me a olhar para o pequeno monte de títulos à minha frente. As capas são coloridas, algumas muito coloridas, mesmo. Capas atractivas, como que a antecipar um conteúdo também ele empolgante e que me prenderá como leitora. Mas há mais em comum entre estes livros. À excepção de um deles, todos são de prosa. À parte disso, são todos livros «magros». O de lombada mais generosa talvez tenha umas 130 a 150 páginas. Estou a olhá-los de esguelha, por isso, pode ser que me engane. Mas não, não devo estar enganada. E digo isto porque entre os livros que compro e que leio há um certo padrão, do qual há já algum tempo me dei conta.
Gosto de histórias curtas, escorreitas, bem contadas. Gosto que me deixem espaço para as minhas próprias construções em torno das personagens e dos cenários. Gosto de ser induzida, mas não conduzida pelo escritor. E, acima de tudo, acho que as histórias, principalmente se forem histórias de amor, devem ser breves.
Todas as histórias de amor são breves. «A» conhece «B», apaixonam-se, amam-se e, depois, ou vivem felizes para sempre, ou se separam, umas vezes para viverem outras histórias de amor, outras não. O que sucede pelo meio é mais ou menos complexo, porque as histórias de amor são como as sanduíches, senão vejamos. As sanduíches começam e acabam sempre da mesma maneira – com duas fatias de pão – e o recheio varia consoante o gosto de quem as vai comer – com mais ou menos fiambre, mais ou menos tomate, mais ou menos maionese. Do mesmo modo, todas as histórias de amor começam e acabam da mesma maneira – com uma intensa paixão que se vai esfumando no tempo, umas vezes para se transformar no que os entendidos chamam «amor», outras vezes para desaparecer – e o que vai acontecendo no meio varia consoante a inspiração e o romantismo dos amantes – com mais ou menos sensualidade, mais ou menos envolvimento, mais ou menos entrega.
Entre os livros que comprei há algumas histórias de amor, que é como quem diz, algumas sanduíches. Importa, por isso, que quando as leia tenha alguma fome. Muita fome, de preferência. Eis por que sei que não as lerei a todas, eis por que sei que certamente lerei algumas. Deixar-me-ei saciar, mas sem me empanzinar, até porque o menu é extenso e para degustar cada uma delas convenientemente, importa que o estômago esteja perfeitamente livre de vestígios da degustação anterior. Mais tarde, quem sabe, talvez venha a escrever sobre algumas dessas histórias de amor. Para já, há que encontrar tempo para as saborear devidamente.
[Também publicado em PNETmulher.]
© Marta Madalena Botelho