Após meses e meses de resistência, o Ministério da Educação resolveu assumir alguns dos seus erros e aceitou rever a sua posição na matéria da implementação da avaliação dos docentes. A Plataforma Sindical clamou vitória e nós, pais, alunos ou simples portugueses que estão fartinhos até à ponta dos cabelos de ouvir vezes sem conta as mesmas notícias a abrir os noticiários da rádio e da televisão rejubilámos todos, pensando que finalmente sucederia o tão aclamado diálogo e que o Ministério da Educação iria finalmente aceitar ouvir as propostas dos professores.
A verdade é que, ao aceitar voltar a discutir a questão, a Ministra Maria de Lurdes Rodrigues reconheceu três aspectos: (1) que o modelo proposto pelo Ministério era demasiado complexo, moroso e burocrático, (2) que existiam conflitos entre os avaliadores e os avaliados e que (3) mais do que propor, tinha imposto. Os sindicatos, por sua vez, não ficaram satisfeitos. Depois da reunião desta semana, ficou mais do que claro que a sua intenção não era rever o modelo de avaliação, mas sim exterminá-lo.
Isso mesmo ficou bem patente na proposta que a Plataforma Sindical apresentou na reunião, que consistia num modelo de auto-avaliação baseado na assiduidade, que cada professor apresentaria junto do Conselho Pedagógico da escola, órgão a que incumbiria acompanhar o seu cumprimento.
Ora, um modelo como este é risível. Depois de meses e meses de luta em que os professores clamavam em brados que não temiam a avaliação, vêm esses mesmos professores apresentar uma proposta de auto-avaliação. Até os mais distraídos sabem que a auto-avaliação, em rigor, não é avaliação alguma. Em suma, o que esta atitude acaba de demonstrar é que, afinal, a Ministra da Educação não estava assim tão longe da verdade quando dizia que o descontentamento dos professores se devia exclusivamente ao facto de não quererem ser avaliados. Se é por medo da avaliação ou não, ficámos todos sem saber, mas que não querem ser avaliados passou a ser claro como água.
Se, até aqui, a opinião pública sempre foi acompanhando a posição dos professores, não creio que continue a fazê-lo, pelo simples facto de que é convicção de muitos que o projecto de reforma em curso é fundamental para a melhoria da qualidade do ensino em Portugal. O importante é a formação dos indivíduos, pois é para isso que servem as escolas e não apenas para garantir a realização profissional de todos os que sentem a vocação de ensinar ou o ordenado de funcionário público de alguns no final do mês.
Não está já em causa a avaliação, que todos reconhecem necessária, mas tão somente o modo como haverá de ser feita e os requisitos a que obedecerá. Se os professores não aceitam o modelo de avaliação proposto pelo Ministério da Educação, terão necessariamente de propor outro, mas essa proposta terá de consistir num modelo de verdadeira avaliação e não numa forma camuflada de a evitar, como sucede com a auto-avaliação.
O braço-de-ferro que os sindicatos insistem em manter com o Governo não tem qualquer razão de ser e a sua manutenção revela-se prejudicial para todos, principalmente para os professores, que nitidamente perdem o terreno entretanto ganho perante a opinião pública e se afastam do reforço que poderia ser garantido pela oposição político-parlamentar, com quem demonstraram não estar em consonância. Na «guerra» de que falaram os sindicatos talvez o resultado venha a ser favorável ao Governo, o que ninguém deveria arriscar pagar para ver...
De tudo isto resta uma conclusão, a de que a montanha pariu o rato. O modelo de avaliação apresentado pelos professores é, afinal, um modelo de «não-avaliação» e isso, francamente, não é alternativa.
[Também publicado em PnetMulher]
© Marta Madalena Botelho
A verdade é que, ao aceitar voltar a discutir a questão, a Ministra Maria de Lurdes Rodrigues reconheceu três aspectos: (1) que o modelo proposto pelo Ministério era demasiado complexo, moroso e burocrático, (2) que existiam conflitos entre os avaliadores e os avaliados e que (3) mais do que propor, tinha imposto. Os sindicatos, por sua vez, não ficaram satisfeitos. Depois da reunião desta semana, ficou mais do que claro que a sua intenção não era rever o modelo de avaliação, mas sim exterminá-lo.
Isso mesmo ficou bem patente na proposta que a Plataforma Sindical apresentou na reunião, que consistia num modelo de auto-avaliação baseado na assiduidade, que cada professor apresentaria junto do Conselho Pedagógico da escola, órgão a que incumbiria acompanhar o seu cumprimento.
Ora, um modelo como este é risível. Depois de meses e meses de luta em que os professores clamavam em brados que não temiam a avaliação, vêm esses mesmos professores apresentar uma proposta de auto-avaliação. Até os mais distraídos sabem que a auto-avaliação, em rigor, não é avaliação alguma. Em suma, o que esta atitude acaba de demonstrar é que, afinal, a Ministra da Educação não estava assim tão longe da verdade quando dizia que o descontentamento dos professores se devia exclusivamente ao facto de não quererem ser avaliados. Se é por medo da avaliação ou não, ficámos todos sem saber, mas que não querem ser avaliados passou a ser claro como água.
Se, até aqui, a opinião pública sempre foi acompanhando a posição dos professores, não creio que continue a fazê-lo, pelo simples facto de que é convicção de muitos que o projecto de reforma em curso é fundamental para a melhoria da qualidade do ensino em Portugal. O importante é a formação dos indivíduos, pois é para isso que servem as escolas e não apenas para garantir a realização profissional de todos os que sentem a vocação de ensinar ou o ordenado de funcionário público de alguns no final do mês.
Não está já em causa a avaliação, que todos reconhecem necessária, mas tão somente o modo como haverá de ser feita e os requisitos a que obedecerá. Se os professores não aceitam o modelo de avaliação proposto pelo Ministério da Educação, terão necessariamente de propor outro, mas essa proposta terá de consistir num modelo de verdadeira avaliação e não numa forma camuflada de a evitar, como sucede com a auto-avaliação.
O braço-de-ferro que os sindicatos insistem em manter com o Governo não tem qualquer razão de ser e a sua manutenção revela-se prejudicial para todos, principalmente para os professores, que nitidamente perdem o terreno entretanto ganho perante a opinião pública e se afastam do reforço que poderia ser garantido pela oposição político-parlamentar, com quem demonstraram não estar em consonância. Na «guerra» de que falaram os sindicatos talvez o resultado venha a ser favorável ao Governo, o que ninguém deveria arriscar pagar para ver...
De tudo isto resta uma conclusão, a de que a montanha pariu o rato. O modelo de avaliação apresentado pelos professores é, afinal, um modelo de «não-avaliação» e isso, francamente, não é alternativa.
[Também publicado em PnetMulher]
© Marta Madalena Botelho