13.8.10

estrela-cadente

Nunca acreditei convictamente em fenómenos de sorte ou de azar. Tenho muita resistência em crer que atirar uma moeda para a Fontana di Trevi garanta um regresso a Roma, que oferecer dinheiro ao São João assegure um amante apaixonado, que depositar um óbulo qualquer na estátua em frente à Igreja de Santo António de Lisboa determine um pedido de casamento. Do mesmo modo, não vejo como particularmente assustadora uma sexta-feira 13, como a de hoje, um gato preto que atravesse o meu caminho ou uma escada sob a qual eu tenha de passar.

Se por outro motivo não for, que seja porque o desenrolar da vida demonstra à saciedade que nem todos tornam a Roma, nem todos encontram a cara-metade, nem todos sobem ao altar ou ao registo civil e quase todos escapam ilesos às sextas-feiras 13, porque uma sexta-feira 13 é um dia tão aziago para morrer ou sofrer um acidente como outro qualquer.

Já o mesmo não se passa com as estrelas-cadentes. Não sei se por serem um fenómeno mais raro, se por serem algo que depende do acaso e não de nós, se por serem tão rápidas e fugazes, mas o facto é que tenho simpatia pela ideia de que devemos pedir um desejo quando vemos uma estrela-cadente, naquele preciso momento em que ela rasga o céu, naquele segundo ou nem isso em que ela se torna visível aos nossos olhos e nos faz sentir especiais porque conseguimos avistá-la. Esta é, que me lembre agora, a excepção à minha regra do desinteresse pela sorte e o azar obtidos em função de gestos ou datas.

Esta madrugada, a Terra esteve no centro da passagem das Perseidas, pequenos meteoritos que, ao atravessar a atmosfera, dão origem ao que correntemente designamos estrelas-cadentes.

Por volta das duas da manhã (ainda não completas, mas perto disso), lá aconteceu que, na varanda de minha casa, olhei para o céu e vi uma fugaz estrela em movimento descendente aparecer e desaparecer no escuro. E de imediato pedi um desejo, em duas palavras, duas pequeninas palavras que me parecem concentrar o rumo que seria desejável que todas as vidas tivessem, ainda aquela estrela-cadente não se tinha perdido na noite.

Uma noite, o acaso, uma estrela-cadente, um desejo e, enfim, a confirmação de que aquela minha regra da descrença também tem a sua excepção. Porque nem tudo o que existe debaixo dos céus é racionalmente explicável, mesmo para alguém que, como eu, assume que não se importaria nada que fosse.

© [m.m. botelho]

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