Fingimos que não, mas somos todos obcecados pela ideia da morte. Poucos são os que proclamam não lhe ter medo, poucos são os que vivem sem se preocuparem com ela. A grande maioria de nós, conhecendo-lhe a inevitabilidade, procura um modo de lhe diminuir os efeitos, como se uma espécie de imortalidade simbólica, que continue para além do nosso tempo de vida e do espaço em que nos movemos e existimos, nos tranquilizasse sempre que nos lembramos da nossa finitude.
- Temos filhos porque acreditamos que, através deles, deixaremos uma marca no mundo. Desejamos ter netos com o mesmo propósito. Perpetuamos neles os nomes de família, o ADN, a linhagem, uma extensão de nós mesmos fora e para além de nós mesmos.
- Escrevemos, pintamos, compomos, criamos na esperança de que o que é produto da nossa autenticidade, da nossa criatividade e da nossa unicidade perdure para lá do nosso desaparecimento, na esperança de que a História venha a gravar em si o nosso nome.
- Abraçamos as religiões e as suas reconfortantes teorias de uma existência extraterrena, de um plano paralelo, onde não há princípio nem fim. Acreditamos em "alma", "reencarnação", "céu", "inferno" e "eternidade", em tudo o que possa constituir uma promessa de continuação após a morte, de transcendência.
- Vemo-nos como elementos de um universo que existe há biliões e biliões de anos. Dizemo-nos parte de uma imensa cadeia sem fim e, através dela, sentimo-nos, de certa forma, também nós perenes.
- Agarramo-nos à ideia de que viver intensamente a vida, aproveitar ao máximo cada instante e cada oportunidade, explorar tudo até ao limite, fazer tudo o que seja possível, existir de forma avassaladora no «aqui e agora» nos permite prolongar os momentos, talvez até parar o tempo. Ignoramos, então, que haverá um «depois» e recusamo-nos a pensar nos desenvolvimentos, nas consequências, no fim.
Sabemos que todos morreremos um dia, mas todos queremos ser imortais. Não sei se o desejamos porque somos ansiosos e angustiados, temerosos e crentes ou apenas humanos. Talvez seja porque somos todos um pouco de tudo isso. Porque somos.
© [m.m. botelho]
- Temos filhos porque acreditamos que, através deles, deixaremos uma marca no mundo. Desejamos ter netos com o mesmo propósito. Perpetuamos neles os nomes de família, o ADN, a linhagem, uma extensão de nós mesmos fora e para além de nós mesmos.
- Escrevemos, pintamos, compomos, criamos na esperança de que o que é produto da nossa autenticidade, da nossa criatividade e da nossa unicidade perdure para lá do nosso desaparecimento, na esperança de que a História venha a gravar em si o nosso nome.
- Abraçamos as religiões e as suas reconfortantes teorias de uma existência extraterrena, de um plano paralelo, onde não há princípio nem fim. Acreditamos em "alma", "reencarnação", "céu", "inferno" e "eternidade", em tudo o que possa constituir uma promessa de continuação após a morte, de transcendência.
- Vemo-nos como elementos de um universo que existe há biliões e biliões de anos. Dizemo-nos parte de uma imensa cadeia sem fim e, através dela, sentimo-nos, de certa forma, também nós perenes.
- Agarramo-nos à ideia de que viver intensamente a vida, aproveitar ao máximo cada instante e cada oportunidade, explorar tudo até ao limite, fazer tudo o que seja possível, existir de forma avassaladora no «aqui e agora» nos permite prolongar os momentos, talvez até parar o tempo. Ignoramos, então, que haverá um «depois» e recusamo-nos a pensar nos desenvolvimentos, nas consequências, no fim.
Sabemos que todos morreremos um dia, mas todos queremos ser imortais. Não sei se o desejamos porque somos ansiosos e angustiados, temerosos e crentes ou apenas humanos. Talvez seja porque somos todos um pouco de tudo isso. Porque somos.
© [m.m. botelho]