Uma das minhas mais marcantes características é conseguir pôr as pessoas que estão em contacto comigo bem-dispostas. Não sou o «bobo da corte», mas consigo criar momentos de descontracção e risota a partir de simples observações, que não precisam de ser apimentadas nem maldosas, nem de escarnecer de nada nem de ninguém. Geralmente, são observações nonsense, que são as que eu mais gosto. Creio que herdei esta característica do meu Avô materno, ao pé de quem ninguém chorava ou ficava triste. [Obrigada, Avô.]
Talvez seja por isso que é tão fácil que as pessoas me apreciem. Não preciso de recorrer à beleza, nem à inteligência, nem ao saldo da conta bancária para que as pessoas, mal entram em contacto comigo, gostem de me ouvir e de partilhar comigo as suas histórias. Sou capaz de quebrar o mais rígido dos gelos, desenhando sorrisos nos rostos das pessoas mesmo quando o assunto é um funeral. Não sei porque sou assim, nem sei explicar como o faço. É-me inato, é uma característica minha como tantas outras [boas e más].
Há dias disseram-me que eu era uma daquelas pessoas de quem os outros podem não sentir saudades, mas de quem nunca se esquecem. Disseram-me que a propósito de palavras, situações ou lugares, volta e meia eu haveria de lhes surgir na memória, elas haveriam de se lembrar do quanto eu as fiz rir ou de uma observação qualquer que eu tenha feito. Ouvi atentamente e acabei por dar razão à minha interlocutora. O mesmo sucede comigo quando conheço pessoas assim, como eu. É por isso que haverá sempre expressões, lugares e situações que eu associarei a determinadas pessoas, o que me fará lembrar que elas existem algures à face desta Terra, sem que isso signifique que tenho saudades delas. Prefiro que seja assim: memórias sem saudades e sem nostalgia. As memórias reservo-as para os bons momentos, por isso são sempre boas. A saudade é outra coisa, é uma falta, é a angústia proveniente da necessidade de uma partilha naquele exacto momento e a constatação da sua impossibilidade.
Uma noite, numa despedida, disse a alguém que haveria de ter saudades suas durante muito tempo, mas que haveria de passar. Não fazia ideia de que, naquele momento, estava a proferir uma das frases que incluo no grupo das «frases da minha vida». É verdade, temos saudades das pessoas durante muito tempo, mas depois passa. As memórias, que eu reservo para o bom, ficam e, não havendo saudades, não me custa regressar a elas.
Demora-se uma data de tempo a chegar aqui, mas chega-se. É por isso que, depois das saudades passadas, nos é indiferente saber por onde essas pessoas andam, o que fazem, com quem estão, se pensam muito, pouco ou mesmo nada em nós. O que passa a interessar-nos e o que mantemos vivos são as memórias das coisas boas e, mesmo essas, só nos importam quanto nos afloram a propósito de algo que as vai despertar. O resto é ruído e, um dia, o ruído passa a silêncio. Deve ser nessa altura que as saudades que se tinha passam. E o sentimento que se instala é bom, é tranquilo. Rasga-nos um sorriso e liberta-nos para coisas novas, que esperamos melhores. Ter saudades é uma grande chatice. Ter memórias faz de nós gente com história, dá-nos património e, acima de tudo, faz-nos crescer, ainda que não envelheçamos.
[Growing up it's a long hard way, but it's definitely worth it.]
© [m.m. botelho]
Talvez seja por isso que é tão fácil que as pessoas me apreciem. Não preciso de recorrer à beleza, nem à inteligência, nem ao saldo da conta bancária para que as pessoas, mal entram em contacto comigo, gostem de me ouvir e de partilhar comigo as suas histórias. Sou capaz de quebrar o mais rígido dos gelos, desenhando sorrisos nos rostos das pessoas mesmo quando o assunto é um funeral. Não sei porque sou assim, nem sei explicar como o faço. É-me inato, é uma característica minha como tantas outras [boas e más].
Há dias disseram-me que eu era uma daquelas pessoas de quem os outros podem não sentir saudades, mas de quem nunca se esquecem. Disseram-me que a propósito de palavras, situações ou lugares, volta e meia eu haveria de lhes surgir na memória, elas haveriam de se lembrar do quanto eu as fiz rir ou de uma observação qualquer que eu tenha feito. Ouvi atentamente e acabei por dar razão à minha interlocutora. O mesmo sucede comigo quando conheço pessoas assim, como eu. É por isso que haverá sempre expressões, lugares e situações que eu associarei a determinadas pessoas, o que me fará lembrar que elas existem algures à face desta Terra, sem que isso signifique que tenho saudades delas. Prefiro que seja assim: memórias sem saudades e sem nostalgia. As memórias reservo-as para os bons momentos, por isso são sempre boas. A saudade é outra coisa, é uma falta, é a angústia proveniente da necessidade de uma partilha naquele exacto momento e a constatação da sua impossibilidade.
Uma noite, numa despedida, disse a alguém que haveria de ter saudades suas durante muito tempo, mas que haveria de passar. Não fazia ideia de que, naquele momento, estava a proferir uma das frases que incluo no grupo das «frases da minha vida». É verdade, temos saudades das pessoas durante muito tempo, mas depois passa. As memórias, que eu reservo para o bom, ficam e, não havendo saudades, não me custa regressar a elas.
Demora-se uma data de tempo a chegar aqui, mas chega-se. É por isso que, depois das saudades passadas, nos é indiferente saber por onde essas pessoas andam, o que fazem, com quem estão, se pensam muito, pouco ou mesmo nada em nós. O que passa a interessar-nos e o que mantemos vivos são as memórias das coisas boas e, mesmo essas, só nos importam quanto nos afloram a propósito de algo que as vai despertar. O resto é ruído e, um dia, o ruído passa a silêncio. Deve ser nessa altura que as saudades que se tinha passam. E o sentimento que se instala é bom, é tranquilo. Rasga-nos um sorriso e liberta-nos para coisas novas, que esperamos melhores. Ter saudades é uma grande chatice. Ter memórias faz de nós gente com história, dá-nos património e, acima de tudo, faz-nos crescer, ainda que não envelheçamos.
[Growing up it's a long hard way, but it's definitely worth it.]
© [m.m. botelho]