Se calhar, só eu e Deus sabemos o quanto eu quis livrar-me de 2010. Recordo-me bem da passagem de ano de 2009-2010 e foi muito, muito boa. Estava muito feliz, foi uma grande noite na companhia de pessoas que eu amava muito e por quem era amada. Os primeiros telefonemas, foram para outros da mesma condição com quem, infelizmente, não pude estar ao vivo. Bati com tachos e panelas na varanda, atordoando o Porto. Dei abraços e beijos. Lavei a loiça do jantar e depois saímos para dançar. Lembro-me da animação do sítio, das palavras sussurradas ao ouvido, do isqueiro preto no bolso a acender os cigarros de toda a gente.
Também me recordo bem do dia em que fiz 30 anos. A manhã foi passada em Lisboa, a tarde em Sintra. Lembro-me do que vesti nesse dia: jeans, camisa azul escura, camisola de algodão vermelha, casaco e botas verde-tropa. Fartei-me de passear por Sintra. Andei imenso, subi ladeiras, desci a pé uma estrada pejada de automóveis que contornei com a testa a transpirar, mas com a satisfação de ter calcorreado aquilo tudo a pé. Parei na Piriquita e, depois de esperar numa fila considerável, comprei travesseiros, queijadas e uma garrafa de água lisa. Depois, fui de carro para o Parque da Pena. Comi um travesseiro ainda no carro, estacionado no parque, entre os carvalhos. As portas abertas, o calor de um dia de Primavera, um braço esticado para fora do carro e, na ponta, um cigarro. Bebi água lisa. Lembro-me muito bem da primeira frase que disse quando entrei no Parque da Pena: disse o mesmo que dizia sempre que entrava num sítio onde ainda não tinha estado. Lembro-me dos minutos de descanso junto ao bar do Palácio da Pena e do telefonema para reservar a mesa no Restô, «uma das que ficam voltadas para a janela, por favor». Lembro-me do menu: mousse de queijos, cogumelos Portobello gratinados, veado à Vila Viçosa, picanha com chocolate, uma garrafa de água lisa e natural, uma garrafa de EA tinto de 2008, tarte de framboesa para a sobremesa, dois cafés e um par de cigarros no terraço que dá para o bar. Lembro-me de tudo muito bem. Feliz ou infelizmente - confesso que já não sei - tenho uma memória do caraças.
Mas a verdade é que eu queria muito livrar-me dos 30. Gostei muito do dia em que fiz 30 anos, tanto, que ainda me lembro exactamente do que fiz e dos telefonemas que recebi, dos mimos que me deram, mas não gostei do facto de fazer 30 anos. Não sei porquê, não me interessa. Agora não quero pensar nisso. Não sei se alguma vez quererei.
Hoje, estou finalmente em 2011 e finalmente nos 31! Sinto um misto de alívio, leveza, felicidade, alegria e emoção. Fazer 31 anos é, neste momento, para mim, simplesmente maravilhoso! É grandioso! É libertador! Sinto-me feliz, caramba! Sinto-me bem! Sinto que é um novo ciclo que começa. Um ciclo que se iniciou no dia 1 de Janeiro, mas que arranca definitivamente no dia 1 de Abril. Um ciclo que se iniciou com a chegada de 2011, mas que arranca definitivamente com os meus 31 anos.
Os 30 foram, na globalidade, bastante maus, tal como 2010 foi um ano, na generalidade, também mau. Sim, foi quase tudo péssimo, mas eu não quero mais pensar nem em 2010 nem nos 30. Quero olhar para tudo o que me aconteceu enquanto os dois (ano e aniversário) se sobrepuseram como se tivesse acontecido numa outra encarnação. Quero começar de novo e, para isso, nada melhor do que um aniversário. Hoje não irei a Lisboa, nem a Sintra, nem jantarei no Restô numa mesa voltada para a janela, mas serei igualmente feliz. Vou voltar a vestir jeans, mas tudo o resto será diferente. Não será melhor, nem pior, será só diferente. De uma diferença pacífica, de uma diferença desejada. De uma diferença que me faz sentir que hoje é um novo começo. Não sei dizer isto de outra forma: fazer 31 anos é magnífico. E eu precisava tanto disto, meu Deus, como, provavelmente, só eu e Tu sabemos.
© [m.m. botelho]
Também me recordo bem do dia em que fiz 30 anos. A manhã foi passada em Lisboa, a tarde em Sintra. Lembro-me do que vesti nesse dia: jeans, camisa azul escura, camisola de algodão vermelha, casaco e botas verde-tropa. Fartei-me de passear por Sintra. Andei imenso, subi ladeiras, desci a pé uma estrada pejada de automóveis que contornei com a testa a transpirar, mas com a satisfação de ter calcorreado aquilo tudo a pé. Parei na Piriquita e, depois de esperar numa fila considerável, comprei travesseiros, queijadas e uma garrafa de água lisa. Depois, fui de carro para o Parque da Pena. Comi um travesseiro ainda no carro, estacionado no parque, entre os carvalhos. As portas abertas, o calor de um dia de Primavera, um braço esticado para fora do carro e, na ponta, um cigarro. Bebi água lisa. Lembro-me muito bem da primeira frase que disse quando entrei no Parque da Pena: disse o mesmo que dizia sempre que entrava num sítio onde ainda não tinha estado. Lembro-me dos minutos de descanso junto ao bar do Palácio da Pena e do telefonema para reservar a mesa no Restô, «uma das que ficam voltadas para a janela, por favor». Lembro-me do menu: mousse de queijos, cogumelos Portobello gratinados, veado à Vila Viçosa, picanha com chocolate, uma garrafa de água lisa e natural, uma garrafa de EA tinto de 2008, tarte de framboesa para a sobremesa, dois cafés e um par de cigarros no terraço que dá para o bar. Lembro-me de tudo muito bem. Feliz ou infelizmente - confesso que já não sei - tenho uma memória do caraças.
Mas a verdade é que eu queria muito livrar-me dos 30. Gostei muito do dia em que fiz 30 anos, tanto, que ainda me lembro exactamente do que fiz e dos telefonemas que recebi, dos mimos que me deram, mas não gostei do facto de fazer 30 anos. Não sei porquê, não me interessa. Agora não quero pensar nisso. Não sei se alguma vez quererei.
Hoje, estou finalmente em 2011 e finalmente nos 31! Sinto um misto de alívio, leveza, felicidade, alegria e emoção. Fazer 31 anos é, neste momento, para mim, simplesmente maravilhoso! É grandioso! É libertador! Sinto-me feliz, caramba! Sinto-me bem! Sinto que é um novo ciclo que começa. Um ciclo que se iniciou no dia 1 de Janeiro, mas que arranca definitivamente no dia 1 de Abril. Um ciclo que se iniciou com a chegada de 2011, mas que arranca definitivamente com os meus 31 anos.
Os 30 foram, na globalidade, bastante maus, tal como 2010 foi um ano, na generalidade, também mau. Sim, foi quase tudo péssimo, mas eu não quero mais pensar nem em 2010 nem nos 30. Quero olhar para tudo o que me aconteceu enquanto os dois (ano e aniversário) se sobrepuseram como se tivesse acontecido numa outra encarnação. Quero começar de novo e, para isso, nada melhor do que um aniversário. Hoje não irei a Lisboa, nem a Sintra, nem jantarei no Restô numa mesa voltada para a janela, mas serei igualmente feliz. Vou voltar a vestir jeans, mas tudo o resto será diferente. Não será melhor, nem pior, será só diferente. De uma diferença pacífica, de uma diferença desejada. De uma diferença que me faz sentir que hoje é um novo começo. Não sei dizer isto de outra forma: fazer 31 anos é magnífico. E eu precisava tanto disto, meu Deus, como, provavelmente, só eu e Tu sabemos.
© [m.m. botelho]