As conclusões relatadas no documento «Acesso aos cuidados de Saúde: um Direito em risco? Relatório de Primavera 2015», elaborado pelo Observatório Português dos Sistemas de Saúde [OPSS], são gravíssimas. Todavia, ontem os telejornais abriram todos com o regresso de férias de Jorge Jesus. Lá no meio das outras notícias, uma reportagenzinha com declarações do Secretário de Estado e Adjunto da Saúde. Ninguém perguntou nada sobre isto ao Primeiro-Ministro, ao Ministro da Saúde, a António Costa.
A malta que se dane a tomar a medicação diária apenas uma vez por semana e que coma os nutrientes do que a terra dá; que acorde às 6h da manhã para conseguir uma senha para ser vista por um médico que dá os ares de sua graça pela terra uma vez por semana; que durma na rua na noite anterior para conseguir uma das trinta senhas que dão acesso à colonoscopia com anestesia no dia seguinte; que espere horas a fio nas urgências, mesmo que a situação seja grave; que passe fome e sede porque não há quem lhe venha trazer comida ou bebida enquanto aguarda; que morra sem ninguém dar por isso numa maca, encostada no corredor das urgências; que dê à luz nas ambulâncias ou nos táxis, em suma, a malta que aguente e não seja piegas!
Os indicadores do Governo são contrários ao do OPSS, alega o Secretário de Estado. «O país está muito melhor», dizem uns, enquanto outros acenam mecanicamente com a cabeça em sinal de assentimento.
Eu e eles vivemos em realidades paralelas, certamente. A deles dourada; a minha escura como as paredes da caverna em que o país está a tornar-se.
© [m.m. botelho]
A malta que se dane a tomar a medicação diária apenas uma vez por semana e que coma os nutrientes do que a terra dá; que acorde às 6h da manhã para conseguir uma senha para ser vista por um médico que dá os ares de sua graça pela terra uma vez por semana; que durma na rua na noite anterior para conseguir uma das trinta senhas que dão acesso à colonoscopia com anestesia no dia seguinte; que espere horas a fio nas urgências, mesmo que a situação seja grave; que passe fome e sede porque não há quem lhe venha trazer comida ou bebida enquanto aguarda; que morra sem ninguém dar por isso numa maca, encostada no corredor das urgências; que dê à luz nas ambulâncias ou nos táxis, em suma, a malta que aguente e não seja piegas!
Os indicadores do Governo são contrários ao do OPSS, alega o Secretário de Estado. «O país está muito melhor», dizem uns, enquanto outros acenam mecanicamente com a cabeça em sinal de assentimento.
Eu e eles vivemos em realidades paralelas, certamente. A deles dourada; a minha escura como as paredes da caverna em que o país está a tornar-se.
© [m.m. botelho]