Entrou uma pessoa, que julgava ter fechado a porta sem o ter feito. O Rufus apercebeu-se disso e esgueirou-se para a rua. Só dei pela falta dele passado um bom pedaço, porque estava convicta de que estaria lá em cima. Saí feita douda à procura dele. Dei a volta inteira ao quarteirão e quando estava prestes a regressar e desistir, encontro-o. Não se deixou apanhar e voltou a fugir. Atravessou a estrada e só não foi atropelado porque o carro parou a tempo. Depois veio um grupo de miúdos e ele fugiu novamente. Como a maior parte das pessoas não sabe como são os Jack Russell, acha que os pulos e saltos que ele dá são sinónimo de que "o cão não está bem", "o cão está doente" e alguém me puxou pela camisola para mo dizer, quando tudo o que eu queria era não perder o Rufus de vista. Soltei-me com um gesto abrupto, eu, que detesto sequer que me toquem, quanto mais que me agarrem. À procura da porta conhecida, ao Rufus deu-lhe para entrar numa loja ao lado e a senhora, que sabia que eu estava à procura dele, conseguiu segurá-lo. Corri e cheguei instantes depois. Lá o segurei e agradeci muito à senhora. Trouxe-o para casa e não sei se lhe dê um ralhete, se o aperte com força contra o meu peito, porque quero fazer ambas as coisas. Enquanto escrevo, ele está deitado numa das suas caminhas e olha para mim com as orelhitas baixas. Gosto dele como de uma pessoa, como de uma daquelas pessoas de quem gosto muito, muito, muito. Palavras ele não vai entender, mas vai pressentir a minha angústia e a minha alegria simultâneas, que isso percebe ele bem. Decido que vou só abraçá-lo e pedir-lhe que nunca mais repita o feito. Não sei se o meu coração aguentaria.
© [m.m.b.]
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