Daquilo que tenho tido oportunidade de conversar com amigos e conhecidos sobre a questão que ontem trouxe para a rua milhares de professores, "avaliação" parece-me ser, de longe, a palavra mais repetida por toda a gente e, também, a pedra-de-toque que vai dividindo opiniões, mesmo entre aqueles que não são governo nem professores. Todavia, não parece que a "avaliação" seja contestada em si, enquanto ideia, enquanto elemento que todos parecem reconhecer como aceitável e que deve perpassar o novo estatuto da carreira docente. Ao invés, ela é tida como algo aceitável e, até, desejável, sendo que a questão que opõe as duas facções é a do modelo a que deverá obedecer. Mas será que a tão falada "avaliação" é, simultaneamente, a mãe de todos os problemas e a salvação para todos os males?
Mais importante do que discutir a avaliação, não seria, por exemplo, discutir se ela é ou não o meio adequado para aferir aquilo que pretende aferir-se, ou seja, o sucesso – ou a falta dele – do ensino em Portugal? E não seria, também, conveniente apurar se os critérios propostos pelo Ministério da Educação são os indicados para contabilizar resultados? Mas, antes disso, será que os resultados que pretendem quantificar-se são mesmo quantificáveis, isto é, a excelência de um sistema de ensino (só) é medível, graduável, avaliável em função de "avaliações" feitas aos seus professores? E os que desempenharão o papel de avaliadores, estarão investidos em tais funções por que motivos? Têm, de facto, a competência técnica e o correcto domínio das matérias para poderem, com propriedade, isenção e rectidão, avaliarem os docentes?
Pela minha parte, responderia «não» a todas estas perguntas, pelo que, obviamente, encontro muitas razões válidas para a realização de uma «Marcha da Indignação». Creio, contudo, que o ponto de partida não deveria ser a contestação, pura e simples, da "avaliação", só porque não se temem avaliações, como os professores dizem não temer. Talvez não fosse má ideia começar por derrubar as ideias pela base, demonstrando de que modo e por que razões são manifestamente desadequadas aos propósitos e, nessa medida, votadas ao fracasso. Escusaríamos, então, de ter de as testar na prática para chegarmos a essa mesma conclusão.
[Também publicado em PNETcrónicas.]
© Marta Madalena Botelho
Mais importante do que discutir a avaliação, não seria, por exemplo, discutir se ela é ou não o meio adequado para aferir aquilo que pretende aferir-se, ou seja, o sucesso – ou a falta dele – do ensino em Portugal? E não seria, também, conveniente apurar se os critérios propostos pelo Ministério da Educação são os indicados para contabilizar resultados? Mas, antes disso, será que os resultados que pretendem quantificar-se são mesmo quantificáveis, isto é, a excelência de um sistema de ensino (só) é medível, graduável, avaliável em função de "avaliações" feitas aos seus professores? E os que desempenharão o papel de avaliadores, estarão investidos em tais funções por que motivos? Têm, de facto, a competência técnica e o correcto domínio das matérias para poderem, com propriedade, isenção e rectidão, avaliarem os docentes?
Pela minha parte, responderia «não» a todas estas perguntas, pelo que, obviamente, encontro muitas razões válidas para a realização de uma «Marcha da Indignação». Creio, contudo, que o ponto de partida não deveria ser a contestação, pura e simples, da "avaliação", só porque não se temem avaliações, como os professores dizem não temer. Talvez não fosse má ideia começar por derrubar as ideias pela base, demonstrando de que modo e por que razões são manifestamente desadequadas aos propósitos e, nessa medida, votadas ao fracasso. Escusaríamos, então, de ter de as testar na prática para chegarmos a essa mesma conclusão.
[Também publicado em PNETcrónicas.]
© Marta Madalena Botelho