Esta noite, Madonna pisará pela terceira vez um palco em Portugal. À sua frente, 75.000 fanáticos pela sua música, mas não só. Madonna tem «seguidores», «idólatras», gente que está onde a sua «diva» está. Madonna não prende pela música ou, pelo menos, não só pela música. A ousadia, a postura de confronto, o constante desafio aos poderes instituídos, as subliminares mensagens de sátira política, social e religiosa levam a que uma legião de pessoas de todo o mundo a venere. Por ela, pagam-se pequenas fortunas no mercado negro dos bilhetes para concertos, passam-se noites ao relento a dormir na calçada dura e fria, percorrem-se quilómetros, atravessam-se fronteiras, sufoca-se entre milhares de pessoas para ser um dos sete mil que estão mais próximos do palco. Por ela, tudo isto fazem os súbditos da rainha da música pop.
O que é que Madonna tem? Tem tudo como ninguém. Aos cinquenta anos continua a ter mais versatilidade do que muitas cantoras com metade da sua idade. Madonna assume e adora o trono da personificação de tudo o que seja «contra a corrente». É, por tudo o que fez e a que se sujeitou, uma sobrevivente.
Lembro-me perfeitamente do quão piroso era gostar de Madonna nos meus tempos de liceu. Acreditem, era muito, muito piroso. Os véus, os crucifixos, as rendas, os colares chegados ao pescoço eram conotados com tudo o que de mais parolo podia existir debaixo dos céus (é preciso ter em conta que nos anos 90 estávamos todos ultra-sensíveis: andávamos a ressacar de uma década com laca nos cabelos, chumaços nos blasers e tecidos com padrões de figuras geométricas...). Mas Madonna é uma camaleoa e, como tal, soube percorrer o caminho que muitos deixam a meio e consolidar definitivamente a sua carreira alicerçando-a na diferença. Nos nossos dias deixou de ser piroso gostar de Madonna e Madonna – convenhamos – está ela mesma muito menos pirosa.
Não há alminha que nunca tenha cantarolado «Like a virgin» tentando imitar a voz delico-doce com que ela canta essa canção. Mas de virgem, inocente e doce a autora do polémico Sex tem muito pouco. É precisamente por estarem conscientes disso que tantos a adoram: porque Madonna encarna muito daquilo que não ousam ser.
[Também publicado em PNETmulher.]
© Marta Madalena Botelho
O que é que Madonna tem? Tem tudo como ninguém. Aos cinquenta anos continua a ter mais versatilidade do que muitas cantoras com metade da sua idade. Madonna assume e adora o trono da personificação de tudo o que seja «contra a corrente». É, por tudo o que fez e a que se sujeitou, uma sobrevivente.
Lembro-me perfeitamente do quão piroso era gostar de Madonna nos meus tempos de liceu. Acreditem, era muito, muito piroso. Os véus, os crucifixos, as rendas, os colares chegados ao pescoço eram conotados com tudo o que de mais parolo podia existir debaixo dos céus (é preciso ter em conta que nos anos 90 estávamos todos ultra-sensíveis: andávamos a ressacar de uma década com laca nos cabelos, chumaços nos blasers e tecidos com padrões de figuras geométricas...). Mas Madonna é uma camaleoa e, como tal, soube percorrer o caminho que muitos deixam a meio e consolidar definitivamente a sua carreira alicerçando-a na diferença. Nos nossos dias deixou de ser piroso gostar de Madonna e Madonna – convenhamos – está ela mesma muito menos pirosa.
Não há alminha que nunca tenha cantarolado «Like a virgin» tentando imitar a voz delico-doce com que ela canta essa canção. Mas de virgem, inocente e doce a autora do polémico Sex tem muito pouco. É precisamente por estarem conscientes disso que tantos a adoram: porque Madonna encarna muito daquilo que não ousam ser.
[Também publicado em PNETmulher.]
© Marta Madalena Botelho