Há dias, numa entrevista ao «Público», Paulo Rangel disse que interromperá o mandato de deputado europeu «por mera impossibilidade física, se [eu] vier a ser eleito» líder do PSD. Ora, atendendo a que é humano e não dotado do dom da omnipresença, seria impossível a Rangel estar em Portugal (onde se espera que esteja o líder do maior partido da oposição) e em Bruxelas (onde se espera que esteja um deputado europeu) ao mesmo tempo. Rangel analisou ambas as posições e optou claramente pela de líder do PSD.
Pela minha parte, confesso que não me espantou a posição agora assumida, já que em Junho passado, cerca de uma semana depois da sua eleição para o PE, Rangel expressou idêntica vontade caso o PSD vencesse as eleições legislativas. Segundo o próprio, são sempre as excepcionais circunstâncias que justificam a ponderação do abandono do PE. Rangel lá saberá as razões das escolhas que faz, estando certamente consciente do preço a pagar por elas.
O cenário que Rangel avança é politicamente possível - de resto, não seria a primeira pessoa a ser eleita para determinado cargo a renunciar ao mesmo para ocupar outra posição -; se é ou não censurável é outra questão. Quanto a este ponto, tenho a minha impressão pessoal, mas não vou expressá-la aqui, porque não é esse o objectivo deste texto. Direi apenas que cada vez mais me parece premente reflectir um pouco sobre a ética da política, uma tónica em que, se bem me lembro, Rangel muito insistiu quando estava no Parlamento português.
A razão de ser deste texto prende-se com a tentativa de estabelecer uma comparação entre a situação de Ana Gomes e Elisa Ferreira - ambas muito criticadas pelo próprio Rangel - e a do agora candidato à presidência do PSD. Trata-se de circunstancialismos bastante diversos, pelo que não me parece correcto tentar fazer equivalências entre ambos.
Embora sabendo de antemão que apenas poderiam exercer um dos mandatos, Ana Gomes e Elisa Ferreira apresentaram-se como candidatas a duas eleições feitas por sufrágio universal. Ambas se apresentaram ao eleitorado como estando disponíveis para desempenhar dois cargos sabendo, de antemão, que quer por impossibilidade física quer por incompatibilidade apenas poderiam exercer um deles.
A situação de Rangel é bem diferente, pelo menos em três aspectos: (1) enquanto candidato a líder do PSD, Rangel não está impedido de exercer o mandato de eurodeputado (a não ser pelas evidentes razões de impossibilidade física), isto é, não existe qualquer incompatibilidade entre ambos os cargos; (2) Rangel não foi candidato a dois cargos em simultâneo (ou quase); (3) o eleitorado de cada um dos cargos a que se candidatou é diferente (um é constituído pelos cidadãos portugueses com direito de voto, o outro é formado pelos militantes do PSD).
As situações não são, portanto, sequer comparáveis. Um pouco de bom senso é, parece-me, tudo o que é preciso para o perceber.
Declaração de interesses - Não tenho qualquer interesse em fazer a defesa de Paulo Rangel, nem é isso que este texto pretende. Não sou sou militante de qualquer partido, nem apoiante de qualquer das candidaturas apresentadas a líder do PSD.
© Marta Madalena Botelho
Pela minha parte, confesso que não me espantou a posição agora assumida, já que em Junho passado, cerca de uma semana depois da sua eleição para o PE, Rangel expressou idêntica vontade caso o PSD vencesse as eleições legislativas. Segundo o próprio, são sempre as excepcionais circunstâncias que justificam a ponderação do abandono do PE. Rangel lá saberá as razões das escolhas que faz, estando certamente consciente do preço a pagar por elas.
O cenário que Rangel avança é politicamente possível - de resto, não seria a primeira pessoa a ser eleita para determinado cargo a renunciar ao mesmo para ocupar outra posição -; se é ou não censurável é outra questão. Quanto a este ponto, tenho a minha impressão pessoal, mas não vou expressá-la aqui, porque não é esse o objectivo deste texto. Direi apenas que cada vez mais me parece premente reflectir um pouco sobre a ética da política, uma tónica em que, se bem me lembro, Rangel muito insistiu quando estava no Parlamento português.
A razão de ser deste texto prende-se com a tentativa de estabelecer uma comparação entre a situação de Ana Gomes e Elisa Ferreira - ambas muito criticadas pelo próprio Rangel - e a do agora candidato à presidência do PSD. Trata-se de circunstancialismos bastante diversos, pelo que não me parece correcto tentar fazer equivalências entre ambos.
Embora sabendo de antemão que apenas poderiam exercer um dos mandatos, Ana Gomes e Elisa Ferreira apresentaram-se como candidatas a duas eleições feitas por sufrágio universal. Ambas se apresentaram ao eleitorado como estando disponíveis para desempenhar dois cargos sabendo, de antemão, que quer por impossibilidade física quer por incompatibilidade apenas poderiam exercer um deles.
A situação de Rangel é bem diferente, pelo menos em três aspectos: (1) enquanto candidato a líder do PSD, Rangel não está impedido de exercer o mandato de eurodeputado (a não ser pelas evidentes razões de impossibilidade física), isto é, não existe qualquer incompatibilidade entre ambos os cargos; (2) Rangel não foi candidato a dois cargos em simultâneo (ou quase); (3) o eleitorado de cada um dos cargos a que se candidatou é diferente (um é constituído pelos cidadãos portugueses com direito de voto, o outro é formado pelos militantes do PSD).
As situações não são, portanto, sequer comparáveis. Um pouco de bom senso é, parece-me, tudo o que é preciso para o perceber.
Declaração de interesses - Não tenho qualquer interesse em fazer a defesa de Paulo Rangel, nem é isso que este texto pretende. Não sou sou militante de qualquer partido, nem apoiante de qualquer das candidaturas apresentadas a líder do PSD.
© Marta Madalena Botelho