Dez da noite. Toca o telefone. Eu atendo. Do outro lado, a voz mais deliciosa do mundo a chamar por mim. Eu respondo, perguntando-lhe se está bom. Diz-me que sim. Como de costume, espero que um adulto surja do outro lado para me dar conta do real motivo da chamada, mas não surge. Pergunto-lhe se foi ele que ligou e ele responde que sim. Pergunto-lhe onde está a mamã e ele diz que está ali e corre a chamá-la. Chegado à outra ponta da casa, a mãe mira-o de telemóvel na mão e intriga-se. Pega no aparelho e vê que está estabelecida uma ligação. Pede-lhe o telemóvel, que ele faculta sem qualquer resistência. A mãe fala comigo. Diz-me que S. Exa., o seu querido bebé, fez, moto proprio e pela primeira vez, uma chamada telefónica, sem que ela ou o pai se tenham apercebido. Tem dois anos, dois meses e dois dias, o que é uma bela fórmula para memorizar o dia em que o meu querido sobrinho e afilhado nos demonstrou mais uma das suas inesperadas habilidades: sabe usar um telemóvel e entabula conversas como gente grande. Não, isto não é treta de tia e madrinha babada. É apenas a constatação de que o F. é uma criatura excepcional e surpreendente. Todos os dias.
© [m.m. botelho]
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