A última década foi pródiga em tiroteios ocorridos em escolas e universidades, principalmente nos E.U.A.. Só entre os anos de 1997 e de 1999 as escolas americanas foram palco de oito episódios fatais envolvendo alunos que dispararam armas sobre colegas, professores e funcionários. Dois episódios ficaram famosos pelas suas proporções avassaladoras: os recentes tiroteios no Virginia Tech, em Blacksburg, em 16/04/2007, perpetrados por Seung-Hui Cho, no qual morreram 32 pessoas e outras 6 ficaram feridas; e aquele que ficou conhecido como o massacre de Columbine, ocorrido em 20/04/1999, no qual dois estudantes, Eric Harris, de 18 anos, e Dylan Klebold, de 17, assassinaram 13 pessoas e feriram outras 23, num liceu em Littleton, no Colorado.
Esta semana, o choque voltou a abalar-nos quando, no dia 11 de Março, em Winnenden, na Alemanha, Tim Kretschmer, de 17 anos, assassinou 12 pessoas na Albertville-Realschule, e ainda 3 outras pessoas antes de cometer suicídio.
Notícias como esta deixam-nos aterrorizados. A única pergunta que conseguimos balbuciar enquanto, incrédulos, ouvimos o relato deste tipo de acontecimentos, é «Porquê?». Mais do que a própria ocorrência destas situações, inquieta-nos a incompreensão das motivações de alguns jovens para levarem a cabo actos gratuitos de violência armada contra pessoas indefesas em ambientes escolares.
Estes fenómenos encontram-se próximos do bullying, já que em ambos os casos se trata de comportamentos agressivos praticados em situações de desequilíbrio de poderes entre agressor e agredido (ou porque o agressor é mais forte ou porque está armado). Contudo, distinguem-se por ocorrerem isoladamente, pois o bullying consiste na execução repetida de actos de agressão. Em qualquer dos casos, porém, assume particular importância o facto de a conduta ser negativa e, regra geral, violenta. Todavia, enquanto no bullying a violência é psicológica e física e com vista a humilhação da vítima, já nas agressões armadas é essencialmente física e adequada a provocar a morte. Por outro lado, os agressores do bullying são tanto do sexo feminino como do masculino, enquanto os ataques armados são perpetrados por rapazes ou homens. Mas relações com o bullying não se ficam por aqui.
Grande parte dos jovens que executam estes ataques foi ou sentiu-se vítima de bullying, perseguições, insultos e difamações. Em consequência, não raramente apresentam problemas psicológicos, estados depressivos, comportamentos obsessivos e são facilmente influenciáveis perante a exposição a cenários de violência (em filmes e videojogos). Além disso, os massacres levados a cabo em escolas ou universidades raramente são actos repentinos ou impulsivos. Na maior parte dos casos, as intenções são atempadamente anunciadas a amigos e divulgadas na internet, sem que as vítimas sejam identificadas ou sequer previamente ameaçadas. Contudo, isto não significa que os comportamentos possam facilmente ser qualificados como gestos de vingança, dado que tudo se esbate no desesperado acto que costuma caracterizar o desfecho destes morticínios: o suicídio do atacante (traço comum a Columbine, aos tiroteios do Virginia Tech e ao ataque desta semana, por exemplo).
Estas reflexões poderão ajudar a delinear os cenários circunstanciais em que ocorrem estes acontecimentos e a determinar os perfis dos jovens que cometem estes incompreensíveis actos, mas não apresentam respostas conclusivas. Talvez nunca venhamos a compreender porque sucedem estes desesperados e desesperantes acontecimentos. Todavia, enquanto pais, avós, irmãos, amigos, professores, colegas e vizinhos talvez nos caiba um papel um pouco mais atento, um pouco mais desperto, um pouco mais activo do que simplesmente lamentar. É nisso, parece-me, que é imperioso e urgente investir.
[Também publicado em PnetCrónicas.]
© Marta Madalena Botelho
Esta semana, o choque voltou a abalar-nos quando, no dia 11 de Março, em Winnenden, na Alemanha, Tim Kretschmer, de 17 anos, assassinou 12 pessoas na Albertville-Realschule, e ainda 3 outras pessoas antes de cometer suicídio.
Notícias como esta deixam-nos aterrorizados. A única pergunta que conseguimos balbuciar enquanto, incrédulos, ouvimos o relato deste tipo de acontecimentos, é «Porquê?». Mais do que a própria ocorrência destas situações, inquieta-nos a incompreensão das motivações de alguns jovens para levarem a cabo actos gratuitos de violência armada contra pessoas indefesas em ambientes escolares.
Estes fenómenos encontram-se próximos do bullying, já que em ambos os casos se trata de comportamentos agressivos praticados em situações de desequilíbrio de poderes entre agressor e agredido (ou porque o agressor é mais forte ou porque está armado). Contudo, distinguem-se por ocorrerem isoladamente, pois o bullying consiste na execução repetida de actos de agressão. Em qualquer dos casos, porém, assume particular importância o facto de a conduta ser negativa e, regra geral, violenta. Todavia, enquanto no bullying a violência é psicológica e física e com vista a humilhação da vítima, já nas agressões armadas é essencialmente física e adequada a provocar a morte. Por outro lado, os agressores do bullying são tanto do sexo feminino como do masculino, enquanto os ataques armados são perpetrados por rapazes ou homens. Mas relações com o bullying não se ficam por aqui.
Grande parte dos jovens que executam estes ataques foi ou sentiu-se vítima de bullying, perseguições, insultos e difamações. Em consequência, não raramente apresentam problemas psicológicos, estados depressivos, comportamentos obsessivos e são facilmente influenciáveis perante a exposição a cenários de violência (em filmes e videojogos). Além disso, os massacres levados a cabo em escolas ou universidades raramente são actos repentinos ou impulsivos. Na maior parte dos casos, as intenções são atempadamente anunciadas a amigos e divulgadas na internet, sem que as vítimas sejam identificadas ou sequer previamente ameaçadas. Contudo, isto não significa que os comportamentos possam facilmente ser qualificados como gestos de vingança, dado que tudo se esbate no desesperado acto que costuma caracterizar o desfecho destes morticínios: o suicídio do atacante (traço comum a Columbine, aos tiroteios do Virginia Tech e ao ataque desta semana, por exemplo).
Estas reflexões poderão ajudar a delinear os cenários circunstanciais em que ocorrem estes acontecimentos e a determinar os perfis dos jovens que cometem estes incompreensíveis actos, mas não apresentam respostas conclusivas. Talvez nunca venhamos a compreender porque sucedem estes desesperados e desesperantes acontecimentos. Todavia, enquanto pais, avós, irmãos, amigos, professores, colegas e vizinhos talvez nos caiba um papel um pouco mais atento, um pouco mais desperto, um pouco mais activo do que simplesmente lamentar. É nisso, parece-me, que é imperioso e urgente investir.
[Também publicado em PnetCrónicas.]
© Marta Madalena Botelho