Em quase trinta anos de vida, como está bom de ver, já mudei de opinião em relação a imensas coisas, sobre os mais variados assuntos, por diversas vezes. Nada de especial, suponho. Por algum motivo existe um ditado que diz que «só os burros é que não mudam». Todavia, continua a haver um núcleo intangível de matérias em relação às quais me mantenho “saudavelmente casmurra”. São considerações, hábitos e manias que, por mais velhinha que seja, acho que nunca vou mudar.
Não se trata de teimosia nem de personalidade forte, nem de qualquer outro nome que se tente invocar. Sinceramente, não perco muito tempo a pensar nisso, mas acho que não passam de coisas que cada um e todos nós temos que nos permitem achar alguma coerência dentro de nós mesmos. Ao longo dos anos tudo se vai transformando: o estilo de vida, a saúde física e mental, a memória, as responsabilidades. Perante tanta mudança, talvez seja reconfortante sabermos que há determinados aspectos que serão do mesmo modo para sempre, pelo menos durante o nosso «para sempre».
Há uns anos atrás, na sequência de um jantar desagradabilíssimo (cujo motivo que gerou o incómodo nada teve que ver comigo), decidi que jamais me sentaria à mesa com pessoas de quem não gostasse. Foi uma espécie de jura interna, daquelas seladas com sangue e lacre que eu imaginei fidedignamente para a tornar tão real quanto possível. De então para cá, tenho feito um esforço para me manter fiel à minha decisão. E, que me lembre, tenho-o conseguido.
É claro que já estive à mesa com pessoas com quem não simpatizava por aí além, o que sucede bastas vezes em jantares de grupo em que o único elo de ligação entre os convidados é o anfitrião. Mas tirando isso, nunca me permiti sentar-me numa mesa onde estivesse alguém com que não tivesse boas relações.
As refeições são actos de partilha. Enquanto comemos expomos muito de nós e observamos muito dos outros. Dividir uma mesa com alguém implica que entre nós e essa pessoa haja uma ponte, para que essa partilha possa feita e as exposições/observações ocorram sem receios.
Sempre considerei – e continuo a fazê-lo – que sentar-me à mesa com alguém que não aprecie a minha companhia ou alguém cuja companhia eu não aprecie seria uma espécie de afronta mútua, algo de infame e incomportável para alguém que exige de si mesmo aquilo que eu exijo. Uma ignomínia, portanto, e isto fazendo apenas os juízos mínimos...
Não vou onde não sou bem-vinda e também não concedo o privilégio da minha companhia a quem dele não é merecedor, muito menos se isso implicar uma refeição em conjunto. Respeito verdadeiramente o acto de comer e isso não me permite conspurcá-lo, por questões de trato social ou outras. Há quem diga que são peneiras, outros dizem que são caprichos, outros ainda que é “uma grande pancada”. Pois que seja. Pode até ser que seja mesmo. Para mim, é somente o meu esforço em ser fiel a mim e aos meus princípios e valores. Se isso é ser snob, obsessiva ou maluca, então sê-lo-ei, com todo o gosto e muita determinação.
[Também publicado em PNETmulher.]
© Marta Madalena Botelho
Não se trata de teimosia nem de personalidade forte, nem de qualquer outro nome que se tente invocar. Sinceramente, não perco muito tempo a pensar nisso, mas acho que não passam de coisas que cada um e todos nós temos que nos permitem achar alguma coerência dentro de nós mesmos. Ao longo dos anos tudo se vai transformando: o estilo de vida, a saúde física e mental, a memória, as responsabilidades. Perante tanta mudança, talvez seja reconfortante sabermos que há determinados aspectos que serão do mesmo modo para sempre, pelo menos durante o nosso «para sempre».
Há uns anos atrás, na sequência de um jantar desagradabilíssimo (cujo motivo que gerou o incómodo nada teve que ver comigo), decidi que jamais me sentaria à mesa com pessoas de quem não gostasse. Foi uma espécie de jura interna, daquelas seladas com sangue e lacre que eu imaginei fidedignamente para a tornar tão real quanto possível. De então para cá, tenho feito um esforço para me manter fiel à minha decisão. E, que me lembre, tenho-o conseguido.
É claro que já estive à mesa com pessoas com quem não simpatizava por aí além, o que sucede bastas vezes em jantares de grupo em que o único elo de ligação entre os convidados é o anfitrião. Mas tirando isso, nunca me permiti sentar-me numa mesa onde estivesse alguém com que não tivesse boas relações.
As refeições são actos de partilha. Enquanto comemos expomos muito de nós e observamos muito dos outros. Dividir uma mesa com alguém implica que entre nós e essa pessoa haja uma ponte, para que essa partilha possa feita e as exposições/observações ocorram sem receios.
Sempre considerei – e continuo a fazê-lo – que sentar-me à mesa com alguém que não aprecie a minha companhia ou alguém cuja companhia eu não aprecie seria uma espécie de afronta mútua, algo de infame e incomportável para alguém que exige de si mesmo aquilo que eu exijo. Uma ignomínia, portanto, e isto fazendo apenas os juízos mínimos...
Não vou onde não sou bem-vinda e também não concedo o privilégio da minha companhia a quem dele não é merecedor, muito menos se isso implicar uma refeição em conjunto. Respeito verdadeiramente o acto de comer e isso não me permite conspurcá-lo, por questões de trato social ou outras. Há quem diga que são peneiras, outros dizem que são caprichos, outros ainda que é “uma grande pancada”. Pois que seja. Pode até ser que seja mesmo. Para mim, é somente o meu esforço em ser fiel a mim e aos meus princípios e valores. Se isso é ser snob, obsessiva ou maluca, então sê-lo-ei, com todo o gosto e muita determinação.
[Também publicado em PNETmulher.]
© Marta Madalena Botelho