26.10.11

uma vez = para sempre

Faz hoje treze anos, mais ou menos por esta hora, estava eu numa rampa que dava acesso ao rio Mondego a ser baptizada como "Caloira" pela minha "Madrinha", que foi a minha irmã. Como o sangue corre pelas veias, o meu "penico" não transbordava, como a maior parte deles, e a minha "Madrinha" molhou-me apenas alguns cabelos e a parte de cima da cabeça e disse qualquer coisa como isto: «Mana, agora és oficialmente uma "Caloira" de Coimbra, uma estudante de Coimbra. Lembra-te: uma vez de Coimbra, para sempre de Coimbra».

Eu lá inculquei aquilo, ainda muito temerosa do que viria a ser Coimbra para mim, do que por lá iria passar, do penoso Curso em que me matriculara e coisas do género. Todavia, tudo isso passou, tudo teve um tempo, tudo teve um fim e agora, as memórias que sobram são as de dias como o de hoje há treze anos, dias de sol, únicos, especialíssimos, que não angustiam. E sobra aquela frase, aquela frase à qual na altura não dei grande importância e que viria a resumir tudo: «Uma vez de Coimbra, para sempre de Coimbra». Não há muito a dizer sobre isto, mas tenho a certeza de que quem passou por lá sente o mesmo e sabe o que ela significa.

© [m.m. botelho]

«ela faz cinema»

«Quando ela chora
Não sei se é dos olhos para fora
Não sei do que ri
Eu não sei se ela agora
Está fora de si
Ou se é o estilo de uma grande dama [...]
Ela é a tal
Sei que ela pode ser mil
Mas não existe outra igual [...]
Quando vestida de preto
Dá-me um beijo seco
Prevejo meu fim [...]
Talvez nem me queira bem
Porém faz um bem que ninguém
Me faz [...]
Ela é assim
Nunca será de ninguém
Porém eu não sei viver sem
E fim.»



Chico Buarque. «Ela faz cinema».
Do álbum «Carioca» [2006].

Se a letra desta canção, toda a letra desta canção, não é uma das cinco melhores letras do Chico Buarque, então, eu não percebo nada-nadinha-de-nada de música.

© [m.m. botelho]

25.10.11

ser pequenino

Mãe - F., vá lá, come a sopa. Já sabes que tens de comer a sopa.
F. [fazendo a voz mais mimalha que possa imaginar-se] - Ó Mamã, por favor, hoje não.
Mãe - Hoje, sim. Tens de comer a sopa todos os dias para cresceres e seres grande.
F. - Ó Mamã, mas hoje, não. Hoje eu quero ser pequenino.

E quando me contaram eu lembrei-me disto:

ser pequenina nas mãos de Deus
ser um sinal,
ser um sinal cheio de Amor, sempre a sorrir.
ser pequenina nas mãos de Deus,
pequenina.


© [m.m. botelho]

24.10.11

instantâneos [39]

© Jolin Masson [2011]
[visto aqui]

18.10.11

meia-noite e elefantes

Sobre «Midnight in Paris» [2011], último filme de Woody Allen: gostei muito. Parece-me que, se devidamente analisadas, o filme passa algumas mensagens muito interessantes e de forma nada óbvia (sobre os sonhos, os desejos secretos, os fracassos, as convenções sociais, as mudanças radicais de vida). O humor é muito subtil e não creio que seja característica marcante do filme. Paris, como todas as cidades dos filmes de Allen, aparece maravilhosamente filmada.

Em certa medida, achei este filme muito parecido com o «Vicky, Cristina Barcelona» [2008]: a acção não gira em torno do humor, mas do movimento do filme, da aceleração e do abrandamento, aspectos nos quais Woody Allen é mestre, sem dúvida. A interpretação da Marion Cotillard é particularmente bem conseguida.

Agora uma coisa é facto: este filme do Allen não é para qualquer um. Quem não dominar minimamente os conceitos dos anos 20 do século passado, as figuras literárias, da pintura, do pensamento, não vai perceber muitas cenas, inclusive, não vai perceber momentos de humor que estão aí contidos, como, por exemplo, algumas tiradas do Hemingway, a sequência em que o Buñuel diz "Vejo nisso um filme." e o Dalí diz "Vejo aí elefantes!" (aliás, quem não conhecer a obra do Dalí não vai perceber as piadas insistentes sobre os elefantes). No aspecto cultural, o filme é exigente.

Gostei bastante, não obstante a personagem central ser um escritor frustrado, como em «You will meet the man of your dreams» [2010], mas talvez isso seja a prova de que partindo do mesmo ponto se podem construir histórias muito diferentes e ambas muito interessantes. Isto claro, se formos o Woody Allen.

© [m.m. botelho]

17.10.11

promessas, juras e decisões

Há um povo, não sei se os ingleses, se os americanos, não faço ideia, que tem um ditado popular ou algo do género que, traduzido, diz assim: «Não faças promessas quando estás feliz, nem juras quanto estás zangado».

Há uns dias, ao telefone, a meio de uma conversa comigo, a minha Amiga J. disse-me: «Amanhã é outro dia e depois pensas nisso melhor. Não decidas nada à noite». Imediatamente, lembrei-me da tal frase supra citada e disse à J. que, graças a ela e porque achava que me tinha dado um belíssimo conselho, passaria a dizer a frase assim: «Não faças promessas quando estás feliz, juras quando estás zangado, nem tomes decisões à noite».

Não tomei. E no dia seguinte voltei a pensar sobre o assunto e as coisas acabaram por se resolver por elas mesmas. Ainda bem que atendi ao que me disse a J., mas isso é o que menos importa. O que mais importa é que eu sou sortuda o suficiente para ter na minha vida quem me diga frases como a que a J. me disse, sortuda o suficiente para ter quem me escute e pense comigo sobre as coisas que me inquietam.

O conselho foi-me útil. Fica aqui, para quem o quiser usar.

© [m.m. botelho]

13.10.11

instantâneos [38]

visto aqui

E quando o Amor é, ele mesmo, uma (r)evolução? :)

© [m.m. botelho]

8 anos

Há oito anos, por esta hora, estava eu a acabar de saber que tinha concluído a licenciatura em Direito. Recordo-me de ter passado sob a Porta Férrea e de ter sentido um misto de alegria e tristeza (nunca mais iria entrar por aquela Porta como estudante de Licenciatura, nunca mais ia reunir-me em frente a ela para formar trupes à meia-noite, nunca mais).

Olhei a cidade do topo das Escadas Monumentais, ao pé de onde tinha estacionado o carro e quase me pareceu que não a conhecia. Desci as Monumentais e respirei a cidade como nunca o tinha feito antes.

Continuo a celebrar o dia do meu baptismo de Caloira (26.10.1998) e o dia da minha Licenciatura (13.10.2003). Pelo meio, continuo a celebrar muita coisa, mas isso fica (só) para mim. Mas continuo sem saber se «Coimbra tem mais encanto na hora da despedida»: hei-de fazer sempre parte dela e ela de mim.

© [m.m. botelho]

11.10.11

a "lasca no ponto"

Há coisas muito estranhas que podem acontecer-nos quando estamos numa loja a fazer compras (por acaso, estávamos a comprar lingerie), como, por exemplo, entrar a Mãe de um colega nosso da escola primária, senhora essa que nos conhece desde miúda (é importante frisar isto, meu Deus) e dizer-nos - a dita senhora - que nem estava a reconhecer-nos porque nós estamos "uma lasca", para depois comentar com a senhora da loja que o filho mais novo dela deveria era ter-se casado connosco, que nós "estamos... no ponto"!

[Palavra de honra que eu não acho isto normal! Não acho mesmo nada normal que uma mãe de família (que até já é avó) me classifique como "lasca" que está "no ponto". Se calhar nunca lhe ocorreu é que se estou assim, talvez seja porque nunca casei com o filho dela, aquele rapaz muito esforçado, que comprou e me ofereceu todos os cromos da única colecção que cheguei a completar - a d'«Os Caça-Fantasmas») na esperança de que eu, um dia, lhe agradecesse a oferenda com um beijinho, o que nunca sucedeu. A vida é mesmo assim: umas recebem os cromos das colecções e tornam-se "lascas", as outras... bom, as outras casam-se com eles e não é preciso dizer mais nada. Já sei, já sei, vou para o Inferno, mas pelo menos, vou... "no ponto".]

© [m.m. botelho]

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[m.m. botelho] || Marta Madalena Botelho
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