31.3.11

flores silvestres

Terça-feira, 29 de Março, 21 horas. Entro no elevador e, atrás de mim, entra um casal. A senhora pergunta se eu vou sair no piso 0. Respondo que sim. Ela pergunta ao marido se é no piso 0 que eles também vão sair e ele confirma com a cabeça. De seguida, a senhora justifica-se perante mim dizendo que é o cansaço, que está no prédio desde as 14 horas por causa de uma consulta de um Advogado e que nem sequer lanchou. Pede desculpa pela pergunta que adjectiva de disparatada. Eu returco que não tem de quê e sorrio.

O elevador pára no piso 0. Eu sou a primeira a sair e despeço-me dizendo «boa noite». A senhora responde o mesmo e acrescenta «Tudo de bom para si, que me bastaram 30 segundos consigo naquele elevador para perceber que é uma pessoa muito educada». Eu agradeço e retribuo.

Enquanto procuro na mala a chave do carro, penso que ainda vale a pena marcar a diferença com pequenos gestos de amabilidade e lembro-me de que, podem até ser em menor quantidade e pouca gente dar por elas, mas mesmo entre as ervas daninhas crescem flores silvestres, algumas até pequeninas, frágeis, solitárias, mas crescem.

© [m.m. botelho]

25.3.11

instantâneos [25]

© Francisco Carvalho [2011]
Rua Miguel Bombarda. Porto. Portugal.
visto aqui

traições, perdões e superações

«Não me venham com coisas. As pessoas não perdoam ou superam traições. Simplesmente aprendem a não questionar o passado, não analisar o presente e não planear o futuro.»

Até ao momento em que somos confrontados com uma traição, seja ela de que cariz for, achamos sempre que somos capazes de ultrapassar a coisa e gerir o futuro como se nada se houvesse passado, em nome do sentimento traído (seja ele o Amor, a Amizade, o Companheirismo, etc.).

Depois do confronto com a traição, há os que percebem imediatamente que a superação é impossível e que nada será como dantes, porque algo foi permanentemente alterado e não pode ser refeito e partem imediatamente para outra, arrumando o livro na prateleira e riscando as pessoas do mapa; e há os que querem tanto perdoar e superar o sucedido que fazem das tripas coração para o conseguir. Esses são os que tentam, desalmadamente, fazer tudo o que está ao seu alcance e até o que não está, para agarrarem o que restou do sentimento e dar-lhe uma dimensão idêntica à que tinha antes da traição. Nesse processo, desgastam-se tremendamente, porque é como se estivessem a tentar transformar cascalho em ouro sabendo, de antemão, que não possuem a pedra filosofal. Estuporam-se primeiro psicológica, depois fisicamente, até que chegam ao estádio em que não dormem, não comem, não riem e não conseguem trabalhar porque a desolação da revelação da impossibilidade da recuperação do cenário anterior à traição se torna uma evidência tão grande e uma realidade tão indesmentível, que só resta escorregar parede abaixo, enterrar a cabeça entre os joelhos e aceitar que é impossível, que não há volta a dar-lhe, que há algo que se perdeu, que se estragou, que é irrecuperável e que, para complicar a coisa, às vezes nem se sabe bem o que é, embora quase sempre lhe possamos chamar «confiança». Depois, é fazer o que tiver de ser feito, que é como quem diz arejar a cabeça, limpar o dia-a-dia do que está a mais, arrumar as tralhas na maleta e começar a trilhar novo rumo.

Ora, são experiências destas que nos dão a lucidez para reflectir, concluir e escrever observações como a que a Ana do «Caroço de Tangerina» escreveu.

Até há uns meses, eu fazia parte do grupo dos que acham que são capazes de ultrapassar a traição e gerir o futuro como se nada se houvesse passado, em nome do sentimento traído. Já hoje, faço parte do outro grupo e tenho o discurso totalmente oposto. É que até há uns meses, eu sabia que a traição existia como possibilidade nos relacionamentos humanos (já que também fui menina das minhas diabruras, embora apenas um par, uma delas absolutamente inconsequente e ambas perfeitamente justificáveis pela imaturidade física e, principalmente, emocional), mas nunca tinha estado na posição daquele que tem de enfrentar e lidar com a traição. Logo, tinha apenas uma pálida ideia da dificuldade que seria gerir a situação e, por isso, acreditava piamente que uma traição era passível de ser perdoada, superada e esquecida, embora admitisse que havia traições e traições e que nem tudo era igualmente resolúvel ou aceitável (depende de quem trai, com quem trai, como trai, durante quanto tempo trai e em circustâncias trai). No fundo, porque nunca tinha estado no papel daquele que é confrontado com a traição, fazia uma errónea leitura do que é que as pessoas conseguem fazer perante e depois dela porque tenho sempre a mania de achar que, à primeira vista, é tudo muito mais fácil do que na verdade é.

Hoje, eu concordo com a Ana, sem tirar nem pôr. Porém, nisto, como em tudo o resto, é possível que a doutrina divirja e, assim sendo, entendimentos diversos aceitam-se e respeitam-se, até porque cada um faz as coisas como sabe e como pode e nem todos sabemos e podemos o mesmo. Felizmente para a Humanidade, nestas coisas de lidar com a traição há de tudo, como na farmácia. O que não convém que haja é meias-tintas, que é para a coisa, volta e meia, não aflorar ao pensamento e abalar as estruturas do que se foi reerguendo a tanto custo. Ora, é essa separação das águas, essa total reabilitação do outro, essa reposição da fé e da confiança naquele que nos atraiçoou, tarefa de tal modo hercúlea e penosa, que a maior parte de nós, quando tem uma lâmina de considerável tamanho cravada nas costas, não consegue fazer. Acho que se percebe perfeitamente porquê: porque um lanho destes dói para caraças e consta que não há analgésico, antidepressivo ou ansiolítico que diminua a dor por aí além, isto é, ajuda, mas não resolve. O que dava jeito, mesmo, era que alguém inventasse o «spray do esquecimento», porque o Homem, esse, já não tem solução: imperfeito foi criado, e assim permanecerá, traindo até ao último dos seus suspiros, crente, certamente, no ditado que diz que «entre mortos e feridos, alguém há-de escapar».

© [m.m. botelho]

instantâneos [24]

visto aqui

aviso à navegação

A partir de hoje, passa a ser possível ler integralmente através do feed os textos publicados neste blogue. O que a gerência agradece encarecidamente é que não se copie descaradamente sem se mencionar a fonte porque se, em rigor, original ninguém é pelo menos desde a Babilónia Antiga, ao menos dêem-se os créditos pela maçada de ter digitado o texto (e os meus até que são granditos e, como tal, dão o seu trabalho).

Em tempos de austeridade económico-financeira, uma liberalidade para com a meia dúzia de leitores que lê o que escrevo porque aprecia, os dois ou três que o fazem por padecerem de uma psicopatologia denominada masoquismo e os outros não sei quantos nem quero saber que o fazem não sei porquê nem me interessa.

© [m.m. botelho]

24.3.11

viver e deixar viver

Olhando para trás, vejo que houve um traço comum no meu comportamento, não obstante as mudanças de cenário que foram ocorrendo na minha vida, particularmente no chamado «departamento amoroso». Com efeito, mesmo tendo uma pessoa ao meu lado não deixei, por exemplo, de fazer as coisas que gostava, não deixei de reclamar e defender o meu espaço de autonomia e onde só eu posso entrar e movimentar-me, não abdiquei das minhas convicções políticas e do meu fraquinho (não é mais do que isso) clubístico, não deixei de dizer o que pensava ou sentia sobre tudo e mais alguma coisa (por isso é que raramente havia discussões, mas frequentemente havia troca de ideias enriquecedoras).

Fiz o mesmo em relação às pessoas que partilharam fases da sua vida ao meu lado. O que reclamava para mim, foi o mesmo que dei aos outros. Só isso me fazia sentido.

Deve ser por isso que nunca vi as relações como grilhões. Ao invés, são para mim espaço de partilha e onde não é preciso deixar de se ser quem é para se ser feliz. Como sou feliz comigo mesma, ter alguém ao meu lado apenas reforça essa felicidade, mas não a aumenta, nem a diminui.

Não consigo sequer conceber a ideia de precisar de alguém para ser feliz. Como me disseram uma vez, sei que tenho em mim tudo o que preciso para ser feliz. E sou feliz quer esteja acompanhada, quer esteja sozinha, porque não é do outro que depende a minha felicidade, mas de mim, só de mim. Cada um tem a sua medida das coisas, cada um tem a sua forma de encarar a vida. A minha é esta e não me parece má.

Se forem suficientemente interessantes para que eu me apaixone e os ame, os outros não me atrapalham, não me prendem, não me sufocam, sejam caras-metades, sejam família, sejam amigos. Gosto de estar apaixonada e de amar e ser amada, mas não preciso disso para ser feliz. Preciso muito mais de liberdade para ser quem sou e de respeito por quem sou, pelo que penso e pelo que faço do que de tudo o resto. É, provavelmente, por isso que já ouvi inúmeras vezes que é fácil (con)viver comigo: porque a única coisa que peço é que quem está comigo viva e me deixe viver. O resto, é impulsionado pela força dos afectos, não pela dependência. Desde que se tenha a capacidade de viver e deixar viver, é absurdamente simples. Tão simples que até custa a acreditar, mas não é por isso que é menos possível. Afianço que não só é possível, como é tremendamente gratificante.

© [m.m. botelho]

um fio de cabelo que fosse

Não sei ao certo do que é que se fala quando se fala do par certo para cada pessoa, mas acho que, ao fim de 30 anos, tenho uma ideia do que seria o meu par certo, a «metade da minha laranja», como lhe chamam os ingleses. Julgo que me bastaria com alguém que se entusiasmasse comigo todos os dias sem me tentar mudar.

Como é que cheguei a esta conclusão? De uma forma muito simples: porque me apercebi de que todas as pessoas que amei até hoje me entusiasmaram todos os dias sem que eu tivesse sentido sequer vontade (quanto mais necessidade) de lhes tentar mudar um fio de cabelo que fosse. E se é isto que me faz feliz de dentro para fora, é bem provável que seja isto que também me fará feliz de fora para dentro.

© [m.m. botelho]

22.3.11

dizem que houve um tempo em que até os animais falavam

Pode até ser um disparate, uma estupidez, um sinal de desinteligência, mas eu sou daquelas pessoas que, no que respeita a relações humanas, precisa que lhe expliquem tudo muito bem explicadinho. Por exemplo, se alguém está aborrecido comigo, agradeço e espero que me diga que está e porquê. Depois, eu posso optar por retorquir dando o meu ponto de vista e esclarecer o que entenda que tem de ser esclarecido ou, simplesmente, arrumar os meus tarecos e pôr-me a milhas.

Porque é que eu preciso que as pessoas ajam assim comigo? Simples: porque eu ajo assim com as pessoas. Para os outros, que sejam lá como quiserem, anjos ou filhos da puta, que a mim tanto me faz; que sejam como os outros exigirem; que sejam como a educação de cada um ditar; que sejam como o carácter de cada um disser que devem ser, mas comigo, comigo, se fazem o favor, que sejam exactamente da mesma forma que eu sou: absolutamente francos, honestos e claros, muito claros, de preferência. Isto, claro, se quiserem dar-se ao trabalho. Se não quiserem, como eu não posso obrigar ninguém a fazer nada, resta-me a felicidade de saber que a porta da rua é serventia da casa.

Se há coisa que abomino é a hipocrisia. E, logo a seguir, a mentira. Prefiro que me digam o que pensam sobre mim, ainda que isso seja terrível, do que finjam que está tudo bem e «beijinho para cá e beijinho para lá», «minha querida» e o diabo a quatro, quando, na realidade, estão a representar ou a ocultar alguma coisa de menos positivo que sentem em relação a mim. Prefiro que não me atendam o telefone a que atendam e depois se limitem a «hums», «ahs» e «pois». Prefiro que me mandem um sms dizendo «não me escrevas mais» do que não respondam e, da próxima vez que nos vejamos ou falemos, se dirijam a mim com a maior das latas para me dar dois beijos no rosto. Não tenho pachorra para hipocrisias, para faz-de-conta, para silêncios ditos eloquentes que no fundo não dizem nada. Fazerem-me isso é o pior que me podem fazer, porque é do que mais me magoa.

Não é preciso chamar «cabrão» a alguém para lhe dizer que não o queremos na nossa vida. Não é preciso ser mal-educado, fazer uma cena melodramática, sequer abdicar dos salamaleques linguísticos. Não era o António Aleixo que dizia «Digo verdades a rir / aos que me mentem a sério»? Pois bem, nem sequer é preciso ser muito carrancudo para dizer umas verdades. Basta dizer, com toda a pompa e circunstância ou então seca, mas educadamente, «não te quero na minha vida e agradeço que não me contactes». Nem sequer é preciso dizer, como fazem os putos, «vai morrer longe»; basta dizer «não me interessas mais e não quero ter mais nada que ver contigo». Mas quando assim for, que se admita que é para sempre, porque se há coisa que não cabe nestas matérias é o «quem sabe daqui a uns tempos» ou o «depois logo se vê». Depois não se vê nada, porque, citando novamente o Aleixo: «Vinho que vai para vinagre / não retrocede caminho / só por obra de milagre / pode de novo ser vinho».

Se formos pessoas civilizadas e minimamente francas, assim daquelas com um pingo (só um pingo, não é preciso mais) de decência, diremos os motivos que nos levam a tomar tal atitude de «chega para lá». Não porque tenhamos obrigatoriamente que nos justificar - porque, como diz uma grande Amiga, as pessoas têm liberdade para fazerem tudo o que quiserem, inclusivé, acrescento eu, para não fazerem nada -, mas porque, digamos, é um bocadinho menos cruel e mais humano que expliquemos ao outro porque é que não o gramamos. E quanto mais rápido isso for dito e explicado, melhor, porque assim não se criam momentos constrangedores entre as pessoas, nem anda o tipo que nós não gramamos a maçar-nos a vida e a perder o seu precioso tempo, o que é uma chatice para ambos.

Lembro-me, a este propósito, de uma coisa que me disseram sobre um assunto que eu andava a adiar porque sabia que no dia em que batesse com a porta, não haveria quem me substituísse. Disseram-me que quanto mais adiasse a coisa, mais mal-entendidos se criariam, mais situações de desconforto seriam geradas e isso era totalmente desnecessário e poderia ter efeitos nefastos para as relações pessoais. E isto, para além de ser uma grande verdade, tem aplicação universal a tudo o que acontece na nossa vida.

Uma das expressões de que eu mais gosto diz assim: «mata-se o bicho, acaba a peçonha». O mesmo sucede com os episódios da vida: diz-se o que se tem a dizer, sem margem para dúvidas e sem andar a dar umas no cravo e outras na ferradura e pronto, cada um vai à sua vida e, com sorte, será feliz para sempre, como nos contos de fadas. Bastante simples, desde que inequívoco.

A maior parte das pessoas com quem falo sobre isto acha que as coisas não são assim. Acham que basta um sinal, uma coisa subentendida, que basta que não se tome iniciativas (ainda que se responda às iniciativas alheias) para que se deixe muito claro que não se quer mais nada daquela pessoa que não distância. Já eu, tenho alguma dificuldade em perceber que distância quer quem não diz nada durante meses, mas depois um dia nos encontra e nos quer cumprimentar com dois beijinhos, que distância quer quem não liga, mas atende o telefone se formos nós a ligar, que distância quer quem não fala de si mas até quer saber coisas sobre nós, se nós as contarmos.

Como estou em minoria, devo ser eu que estou errada, dizem-me, mas, palavra de honra, por muito respeito e consideração que tenha pelas opiniões alheias em geral e por estas em particular, com esta visão das coisas não concordo de todo, porque isto não se afere por probabilidades e por estatísticas. Os que dizem «bom dia» quando entram no elevador também são uma minoria, os que não têm dívidas também são uma minoria, os Advogados que se levantam quando o juiz se levanta também são uma minoria, os que não fumam em frente aos pais também são uma minoria, os que dizem «saúde» quando alguém espirra também são uma minoria e nem por isso estão errados. Eu faço isso tudo e, azar do caraças, também pertenço à minioria dos totós que apreciam a frontalidade e a honestidade e que, portanto, precisam que lhes digam, com as letrinhas todas, que querem distância deles quando é isso que querem.

Mandem-me à caca, mas mandem-me mesmo, não me façam sinais de fumo nem se escondam atrás do que a maioria faz para justificar que, assim sendo, está bem feito, porque é o normal, porque não é preciso mais, porque chega. Não chega. Para mim, não chega. Chamem-me burrinha, que é para o lado que eu durmo melhor, mas concedam-me pelo menos o direito de desejar que as pessoas tenham comigo a franqueza que eu tenho com elas porque, caramba, eu não mereço menos do que isso e essa é a única coisa que eu peço. Sim, porque eu nem sequer peço a ninguém que me aprecie ou goste de mim. Só peço que, caso queira mandar-me às urtigas, mande mesmo, sem margem para dúvidas, sem fugir às palavras. A falar é que a gente se entende, não é? Então falem, digam, escrevam, sem subterfúgios comodistas, porque só a falar é que a gente se faz entender.

© [m.m. botelho]

já não chove há uma data de dias

Não vás mais ver se chove. Poupa-te ao trabalho. Não chove, pá. Pronto, agora descansa e cala-te lá. Só tu, palerma, é que ainda não sabias que já não chove há uma data de dias. Só tu.

© [m.m. botelho]

20.3.11

«o que Deus quiser»

Há uma enorme diferença entre dizer «o que for se verá» e dizer «que seja o que Deus quiser». No primeiro caso, não temos expectativas sobre o que acontecerá, mas sabemos que fizemos ou ainda podemos fazer algo que contribua para o que vai acontecer; no segundo, também não temos expectativas sobre o que acontecerá, mas pomos tudo na mão de Deus, ou do destino, ou de outra coisa qualquer que não os nossos ombros, porque sabemos que já nada mais podemos ou conseguimos fazer.

Quando chegamos ao fim, a um fim qualquer, seja do que for, e já nada podemos fazer, só podemos mesmo dizer «que seja o que Deus quiser» e, se formos fervorosos crentes ou, como eu, meros tementes com fé do tamanho de um grão de mostarda, acreditar que o que Deus vai querer será bom para nós. Deve ser a isso que se referem as pessoas que dizem que «entregam» as coisas a Deus. E hoje, aqui, a partir de agora, eu não consigo nem quero fazer mais nada senão deixar-me cair no Seu regaço, entregar-Lhe tudo, deixar que Ele me leve onde tiver de me levar, que me dê o que eu merecer, na esperança de que as Suas forças substituam as minhas, tão esgotadas, e que Ele pegue em mim ao colo como se de uma criança pequena se tratasse. E «que seja o que Deus quiser». Só peço e espero é que, finalmente, seja bom. Por favor, meu Deus, que seja bom.

© [m.m. botelho]

«wave goodbye»

So we shake hands and cry
Now I must wave goodbye
[...]
You know I don't want to cry again
I'll never see your face again
I don't want to cry again


Kings of Convenience. «Manhattan skyline» (A-ah cover).
Do álbum «Quiet is the new loud» [2001].

instantâneos [23]

visto aqui

19.3.11

a maior de todas

Se me perguntassem qual a maior loucura que já cometi por amor, eu, que já cometi umas quantas, não teria grandes dúvidas em responder: a maior de todas foi acreditar que seria «para sempre».

© [m.m. botelho]

16.3.11

instantâneos [22]

visto aqui

Conheço algumas, mas uma mão chega para as contar. E tenho o privilégio de todas elas gostarem de mim. Por isso, ainda que o mundo se vire de pernas para o ar, não me resta alternativa senão constatar o óbvio: sou uma mulher de sorte, sou uma mulher de muita sorte.

© [m.m. botelho]

artéria aorta

Coisas que vejo por aí e que me fazem pensar ou apelam às minhas preferências pessoais, agora coligidas num só lugar. Sem constrangimentos, sem limitações, sem espartilhos mentais, sem porquês. Gosto do meu tumblr. Gosto mesmo.

© [m.m. botelho]

15.3.11

heróis de nós mesmos

fonte: visto aqui

A propósito dos blogues ditos pessoais, uma grande Amiga minha (sem dúvida, das maiores que tenho), disse-me há tempos que é preciso ser muito maturo e muito contido para conseguir escrever sobre o que se sente sem evidenciar as próprias fragilidades. «Obviamente», dizia-me, «não é para todos». Para não variar muito, reconheço-lhe inteira razão no que diz.

Julgo que a maturidade e a contenção de que a minha Amiga falava nada têm que ver com a idade, nem com as circunstâncias de vida das pessoas, nem com a arte e o engenho para a escrita, mas sim com o modo como as pessoas estão (bem ou mal) estruturadas. Desnudar as fragilidades em forma de escrito, clamar aos sete ventos o quanto se está a sofrer para, com isso, exercer pressão sobre o alegado causador do sofrimento é, no dizer dessa minha querida Amiga, uma forma como outra qualquer de chamar à atenção. Porque, diz ela também, quanto mais desgraçadinho se diz que se é, mais simpatia se gera. E há gente que se basta com isso, porque é precisamente isso que procura.

Sucede que essa simpatia só é gerada em quem se limita a ler e não se dá ao trabalho (ou não tem a habilidade) de desconstruir o que é escrito. Regra geral, só se colhe a simpatia de quem não tem lá muitos dedos de testa e, porque não sabe viver as suas próprias dores e amarguras de outra forma, também adopta o registo do «coitadinho a quem tudo corre mal» e que tanto jeito dá para zurzir contra o mundo, principalmente quando centrarmo-nos no sofrimento que vivemos nos ajuda a não encarar a nossa própria responsabilidade na causa desse sofrimento.

É bem verdade que atraímos aquilo que procuramos. Quem adopta o discurso do «ai que mal que eu estou» só atrai gente que, em idênticas circunstâncias, também acha que a única saída é chorar pelos cantos. A dado passo, já ninguém sente mais nada por aquela pessoa a não ser pena e, nessas situações, a pena alheia é tão útil como um penso rápido sobre uma ferida profunda. A única coisa que ela dá ao sofredor é uma zona de conforto momentânea, que rapidamente se esfuma no ar. Logo a seguir, lá tem o desgraçadinho de ir a correr chorar-se um pouco mais, para que venha de lá outra pancadinha nas costas, mais uns minutos de sensação de que há alguém no mundo que o compreende e está solidário consigo. E isto torna-se um ciclo vicioso, um registo permanente, cansativo, vazio, desprovido de qualquer substância, registo esse infelizmente tão frequente em tantos blogues, internet fora.

É muito tramado ter de curar as feridas sozinho, lambê-las como fazem os cães, ficar no silêncio a ranger os dentes, adormecer e acordar com os olhos esbugalhados ao longo de meses e, mesmo assim, durante todo esse tempo, sair à rua com a cabeça erguida. É muito mais fácil exibir com alarido os cortes sangrantes, esperar deitado no chão que venha de lá alguém fazer o curativo, carpir com estardalhaço as mágoas, dizer que não se dorme e mostrar profundas olheiras, enfiar-se em casa e esperar lá pelas visitas que haverão de levar a canja de galinha à cama. Mais fácil, de facto, mas muito menos dignificante.

A diferença entre os que fazem uma e outra coisa é a mesma que distingue os heróis dos cobardes. Heróis são aqueles que, mesmo debaixo de fogo, não abandonam o campo de batalha, são os que são baleados mas não tombam à primeira, nem à segunda, nem à terceira, são os que não perdem tempo a tentar colher a simpatia alheia, à espera que alguém lhes venha dizer palavrinhas de conforto enquanto eles esperneiam no chão, mas que se fazem à vida porque sabem que só eles mesmos é que podem fazer algo por si e pôr-se de pé novamente. Heróis são os que, quando tudo o que apetecia era ficar mergulhado no desespero e na solidão, saem da cama todos os dias, ainda que a muito custo, para enfrentar os amigos que não sabem (nem têm de saber) o que se passa, os colegas de trabalho e as suas manias irritantes, a família a quem se oculta a dor por protecção, os desconhecidos que merecem amabilidade, ainda que amável seja a última coisa que apetece ser naquelas circunstâncias. Heróis são os que preferem partir a dobrar, os que preferem cortar o mal pela raiz a alimentar coisas moribundas ou dissimuladas, os que preferem dar e receber indiferença à pena, os que fazem das tripas coração para suportar os dias um atrás do outro quase desfeitos, mas não acabados, os que são capazes de falar do que sentem sem se vitimizarem em cada frase que dizem ou escrevem.

Nos momentos de crise, nos momentos de tragédia pessoal, temos de ser héróis de nós mesmos, heróis da nossa salvação das desgraças a que a vida nos conduziu, sem questionar se o que nos está a suceder é justo ou merecido. As mais das vezes não é, mas isso é o que menos importa. O que importa é que nos aguentemos na tempestade até à bonança, que sobrevivamos ao conflito até que cheguem as tréguas e isso não se alcança com dramas, penas e pancadinhas nas costas. Isso faz-se tendo coluna vertebral, bom-senso e discrição - a tal maturidade e contenção de que falava a minha sábia Amiga. O resto são floreados decadentes, disparates voláteis, palavreado atirado para o ar do qual, daqui a uns anos, todos, até os que o disseram ou escreveram, haveremos de rir muito.

© [m.m. botelho]

13.3.11

instantâneos [21]


do filme «In pursuit of happiness» [2006], de Gabriele Muccino
visto aqui

12.3.11

desmemorização

fonte: visto aqui

«- Esquecemo-nos de algumas coisas, não é?
- Sim. Esquecemo-nos do que queríamos recordar e recordamos o que queríamos esquecer.»
Cormac McCarthy, «A Estrada» [2006]

Quem, como eu, foi amaldiçoado com uma memória muito mais prodigiosa do que seria necessário, vê-se forçado a, now and then, ter de fazer exercícios de desmemorização. São uma espécie de "treinamento do esquecimento", que exige, antes de mais, uma enorme focalização no próprio e uma resistência absoluta ao que é exterior e nos desvia de nós mesmos. Depois, é necessário que se tracem objectivos que constituam possibilidades de reforço pessoal que e se invistam neles todas as energias possíveis.
Este é um processo lento e exigente, mas é talvez o único modo de reduzir as proporções do que a memória teima em registar. A desmemorização completa não é possível, mas a diminuição do espaço que as coisas ocupam na nossa cabeça é, relegá-las para um plano secundário é. Não é fácil, mas com a devida concentração faz-se. Porque, tendo em mente que é o melhor para nós, tudo se faz. Tudo mesmo. Só parece que não quando nem sequer se tenta.

© [m.m. botelho]

11.3.11

à tona

Uma vez, alguém me disse que fazer o que o meu coração me pedisse, deixar-me guiar pela minha intuição, fazer o que sentisse dentro de mim que deveria ser feito, seria a única forma de me aproximar mais de mim mesma, de ser quem realmente sou. As palavras não foram todas estas - foram, aliás, foram muito menos -, mas o sentido foi todo este.

Há quem diga que quem age assim, quem pauta a vida por estes parâmetros são os sôfregos, os impulsivos, os que reflectem pouco. A mim parece-me que é justamente o contrário. Ter a capacidade de agir de acordo com o que cada um de nós precisa é a única forma de sermos autênticos, é a única forma como deveríamos ser.

Há um tempo para tudo: para nos entristecermos, para nos contorcermos de dor (daquela que rasga o peito e dificulta a respiração), para sermos surpreendidos, para nos zangarmos a valer, para nos sentirmos magoados (às vezes mesmo feridos, a sangrar por dentro, moribundos), para nos sentirmos desiludidos, para nos sentirmos desolados, para voltarmos a entristecer-nos, enfim, há um tempo para todas as etapas que os acontecimentos inesperados, improváveis, inimagináveis e dolorosos nos causam.

Felizmente para nós e para o Universo, este tempo também tem um fim. Cada tempo destes tem uma duração diferente dentro de cada um de nós, porque cada um de nós tem o seu tempo interior, que é único, porque depende de muitas coisas que não são lineares em todos os seres humanos.

Por isso mesmo, a mesma pessoa disse-me, também, que o importante - mas difícil - é perceber quando esse fim chegou e, quando tal acontecer, não deixar passar isto em branco. Disse-me, concretamente, «quando sentires que esse tempo chegou, não o deixes passar-te ao lado». Não devemos, com efeito, deixá-lo passar-nos ao lado, pois será a nossa vida que estará a passar-nos ao lado. E o que fazer, então? O que fazer quando sentimos que muitas das coisas que nos deixaram em verdadeiro turbilhão hoje já não nos deixam assim, que o nosso coração ficou mais limpo, mais leve, mais sereno, ainda que à custa de muito termos sofrido?

Julgo que não há uma resposta universal, que se aplique a toda a gente, nem sequer a todas as circunstâncias, mas que há algumas coisas que podem facilitar a vida de toda a gente. E porque assim é, creio que o que podemos fazer é deixar-nos guiar pela intuição, deixar-nos conduzir pelo que as nossas vozes interiores nos dizem e fazer a nossa parte para que o mundo fique um bocadinho menos pesado por causa das nossas angústias. Obviamente, cada um à sua maneira, cada um com os seus sinais próprios, com os seus gestos característicos.

Só assim vamos ficando mais próximos de nós e do nosso carácter, que é, no fundo, aquilo que é desejável que aconteça quando os terramotos passam: que tudo o que, de nós, havia de bom subsista. O preço de não o fazermos pode ser excessivamente penoso ou mesmo impossível de suportar: podemos perder-nos de nós mesmos, ficar enredados na apatia e nunca recuperar o que às vezes ainda é recuperável (porque há coisas que nunca se recuperam e compreendê-lo é igualmente imprescindível).

A sensação assemelha-se um pouco a uma vinda à tona depois de um mergulho profundo. A opção pode ser ficar a boiar, ao sabor das marés, ou nadar até um porto seguro e começar a nossa autoreconstrução. Provavelmente, daremos por nós bastante mudados em alguns aspectos, mas também reencontraremos a nossa essência, se tivermos a ousadia de olhar para dentro e se não tivermos permitido que a dor nos tornasse em pessoas amargas, o que às vezes é uma tentação enorme, porque é uma via fácil.

Então, não seremos impulsivos, mas genuínos; não seremos tontos, mas ponderados; não seremos inconscientes, mas corajosos. Em suma, teremos crescido (ainda que à lei da bala) e teremos ganho a capacidade de sermos autênticos.

Ser autêntico implica arriscar, que é o mesmo que dizer que implica agir, sem antecipar nem o acolhimento, nem as consequências que os nossos gestos terão nos outros, porque não é isso que deve presidir às nossas tomadas de decisão sobre os nossos actos. Se os houvermos tomado por nós, a partir de nós e para nós, eles terão sempre, sempre sentido, tal como terão sempre, sempre valido a pena.

[Escrevi este texto em 07.11.2010. Podia tê-lo escrito hoje outra vez.]

© [m.m. botelho]

10.3.11

instantâneos [20]

representação de Veneza como «A Justiça»
visto aqui

[«Tarda, mas não falha», diz-se. Continuo a querer acreditar que sim.]

9.3.11

quarta-feira de cinzas

Quarta-feira de cinzas. Dia de expiação, de clamores, de piedade, de mãos a bater no peito. Começou a Quaresma. Acabou o Carnaval. É tempo de voltar a pôr as máscaras.

© [m.m. botelho]

8.3.11

de carnaval

Fragmento de «A náusea», de Jean Paul Sartre [1938].
fonte: visto aqui

7.3.11

frágil


Dustin O'Halloran. «Fragile nr. 4».
Do álbum «Lumiere» [2011].

Magnífico.

6.3.11

os imortais

Fingimos que não, mas somos todos obcecados pela ideia da morte. Poucos são os que proclamam não lhe ter medo, poucos são os que vivem sem se preocuparem com ela. A grande maioria de nós, conhecendo-lhe a inevitabilidade, procura um modo de lhe diminuir os efeitos, como se uma espécie de imortalidade simbólica, que continue para além do nosso tempo de vida e do espaço em que nos movemos e existimos, nos tranquilizasse sempre que nos lembramos da nossa finitude.

- Temos filhos porque acreditamos que, através deles, deixaremos uma marca no mundo. Desejamos ter netos com o mesmo propósito. Perpetuamos neles os nomes de família, o ADN, a linhagem, uma extensão de nós mesmos fora e para além de nós mesmos.

- Escrevemos, pintamos, compomos, criamos na esperança de que o que é produto da nossa autenticidade, da nossa criatividade e da nossa unicidade perdure para lá do nosso desaparecimento, na esperança de que a História venha a gravar em si o nosso nome.

- Abraçamos as religiões e as suas reconfortantes teorias de uma existência extraterrena, de um plano paralelo, onde não há princípio nem fim. Acreditamos em "alma", "reencarnação", "céu", "inferno" e "eternidade", em tudo o que possa constituir uma promessa de continuação após a morte, de transcendência.

- Vemo-nos como elementos de um universo que existe há biliões e biliões de anos. Dizemo-nos parte de uma imensa cadeia sem fim e, através dela, sentimo-nos, de certa forma, também nós perenes.

- Agarramo-nos à ideia de que viver intensamente a vida, aproveitar ao máximo cada instante e cada oportunidade, explorar tudo até ao limite, fazer tudo o que seja possível, existir de forma avassaladora no «aqui e agora» nos permite prolongar os momentos, talvez até parar o tempo. Ignoramos, então, que haverá um «depois» e recusamo-nos a pensar nos desenvolvimentos, nas consequências, no fim.

Sabemos que todos morreremos um dia, mas todos queremos ser imortais. Não sei se o desejamos porque somos ansiosos e angustiados, temerosos e crentes ou apenas humanos. Talvez seja porque somos todos um pouco de tudo isso. Porque somos.

© [m.m. botelho]

5.3.11

à prova

fonte: visto aqui

«A vida consiste em sobreviver a uma série de provas, a começar pelo próprio nascimento.»
Robert Jay Lifton, «The broken connection: on death and the continuity of life» [1979]

4.3.11

the time of your life

Li num blogue, já não consigo recordar-me qual, uma frase em inglês que anotei no pequeno caderno cor-de-laranja que há uns meses anda comigo para todo o lado. Era esta: «The biggest mistake you can make is to drift apart from someone who you once had the time of your live with».

Não sei se será o maior erro, mas é seguramente um erro. Pessoas que nos façam sentir como nunca nos sentimos antes, pessoas que nos revelem universos que até aí nos eram desconhecidos e que apenas imaginávamos serem possíveis no plano dos sonhos, pessoas que nos façam viver momentos após os quais sentimos que, se morrêssemos, já teria valido a pena ter vivido, pessoas assim não batem à nossa porta todos os dias; pessoas assim batem à nossa porta, se formos tipos com uma admirável dose de sorte, duas ou três vezes durante toda uma vida. Por isso, apartarmo-nos delas será sempre um erro, um enorme e lamentável erro. Por voltas que dê, não consigo encontrar outra palavra que melhor sirva para o descrever.

© [m.m. botelho]

3.3.11

toda a vida à minha espera?

O filme «127 Hours» [2010], de Danny Boyle, relata a história verídica de Aron Ralston que, em 2003, ficou preso com um braço esmagado num desfiladeiro no fundo do Blue John Canyon, depois da derrocada de uma rocha.

A dado passo, voltado para uma câmara de filmar que levava consigo, Aron diz estas palavras: «Esta pedra esteve à minha espera toda a minha vida. E toda a vida dela. Não é incrível? Desde que era só um pedaço de meteorito há um milhão de biliões de anos. Lá no Espaço. Tem estado à espera. Para aterrar aqui. Precisamente aqui. E eu, eu tenho caminhado em direcção a ela toda a minha vida. O meu ADN trouxe-me direitinho até aqui. Desde o minuto em que nasci. Todas as vezes que respirei, todas as acções que empreendi foram-me trazendo a isto. A esta pequena fissura na crosta da Terra. A esta pedra. Cósmico. Incrível. Deslumbrante.».

Nunca fui muito receptiva à ideia de que a nossa existência está predeterminada. No entanto, confesso que, às vezes, dou por mim a pensar que o que me acontece tinha mesmo de me acontecer. É como se sentisse que algumas alegrias e alguns tormentos - especialmente alguns tormentos - me estavam reservados para que, através deles, possa empreender as necessárias batalhas que me tornarão mais forte, mais independente, mais matura, mais Mulher.

Defendo que as lágrimas são tão indispensáveis a uma vida plena como os sorrisos. O bom reforça-nos, solidifica-nos, impulsiona-nos, mas é o mau que nos revolve, que nos sacode o corpo e a mente e nos leva a expelir as cargas que vamos colocando sobre os ombros e que tornam a nossa viagem mais lenta.

À medida que vamos criando as nossas estruturas, sabemos que haverá de ser nelas que encontraremos tanto o bom, como o mau. Sabemos, de antemão, que haverá de ser quem nos ama que nos ferirá, que haverá de ser quem tem a nossa confiança que a trairá, que haverá de ser quem cuidamos que nos menosprezará. Os outros, a quem não devotamos e que não nos devotam nenhum destes sentimentos, não têm a virtualidade de o fazer.

Talvez seja por isso que eu sou capaz de pressentir quando alguém haverá de me retirar o tapete: porque uma série de passos - desde a baixa das defesas à concessão de determinado estatuto na minha vida -, ainda que não dados com essa intenção, acabou por conduzir a isso, porque aquela situação esteve toda a vida à minha espera, porque fui eu mesma que, ainda que não soubesse, caminhei para ela, porque aceitei correr os riscos. Do mesmo modo que sou capaz de pressentir quando algo de positivo me está reservado e, contra todas as probabilidades, opiniões alheias, ventos e marés, sei que o conseguirei alcançar.

Não creio que estes acontecimentos sejam inevitáveis, destino, sorte traçada. Prefiro encará-los como consequências. Consequências que talvez nós busquemos, que talvez estejam lá para nós desde sempre. Ou então, é tudo obra do acaso, que também haverá de ter o seu papel a desempenhar no meio de tudo isto. Quem sabe? Creio que é mesmo como diz Aron Ralston em «127 Hours»: «Não, vocês não percebem. Eu sei que não percebem. Mas, para mim, faz sentido. Todo o sentido. Tinham de estar aqui.».

© [m.m. botelho]

2.3.11

tão fofinhos que eles são

fonte: visto aqui

Tenho cada vez menos pachorra para "a fogueira das vaidades", cada vez menos pachorra para assistir ao desfilar de reis e rainhas que vão nus à luz dos holofotes sob os quais se colocam, sabe-se lá se intencionalmente, se porque a cabecinha não dá para mais. Por enquanto, ainda me divirto a topar as diferenças avassaladoras entre as posturas das pessoas que estão em situações com alguns pontos de contacto. Há os bons malandros, os meramente malandros e os que nunca passarão de aspirantes. Por enquanto, ainda vai tendo graça perceber quem são uns e os outros, ainda me vai rasgando um sorriso assistir ao espernear infantil dos "wannabe" em desespero de causa, tão fofinhos que eles são. Mais do que isso não, porque não há por que levar certas coisas muito a sério. Até porque haveremos todos - todinhos - de morrer um dia, não é? Pois é.

© [m.m. botelho]

começar o futuro

© explodingdog [25.02.2011]

«You couldn't change the past but the future could be a different story.
And it had to start somewhere.»
do filme «Little Children» [2006], de Todd Field

1.3.11

equívocos recorrentes

fonte: visto aqui

Não contar com a inteligência dos outros. Acreditar que a mentira tem perna longa. Subestimar a perspicácia alheia. Convencer-se de que a simulação é tão boa que os outros nunca vão dar por ela. Crer que se sabe tudo. Partir do princípio de que se é capaz de antecipar a reacção do outro a determinado acontecimento. Agir acreditando piamente que o que foi antecipado é o que vai acontecer. Apostar seja o que for, apenas com base na teoria das probabilidades. Ignorar que um dia o tabuleiro muda e a sorte acaba. Achar que, na vida, há almoços grátis. E "eu conheço-te tão bem". E "para sempre". E certezas.

© [m.m. botelho]

a indispensável dose certa

O objectivo de cada um de nós deve ser viver a vida em equilíbrio, sem grandes oscilações, de forma estruturada e protegida (segura). Estar preparado para os desafios que se nos colocarem. Desenvolver e saber usar as aptidões indispensáveis para superar as adversidades.

No relacionamento com os outros, o equilíbrio passa pela exacta retribuição do que se recebe. Se o que se recebe é nada, só pode dar-se nada. Se se dá mais do que isso, a balança desalinha e sempre, sempre em nosso prejuízo. Às vezes, as pessoas nada pedem, mas nós damos: estima, preocupação, consideração. Damos porque não sabemos estar na vida de outra forma. Porém, não recebemos. Ora, nesse caso, outra conclusão não pode tirar-se senão a de que estamos na vida de uma forma desequilibrada e que os únicos que sofrerão danos com isso seremos nós mesmos.

Por muito que custe, é preciso que sejamos capazes de amar e que sejamos capazes de ser indiferentes, às vezes em relação à mesma pessoa, dependendo do momento e do papel que ela vai assumindo na nossa vida. A faculdade de agir dos dois modos é igualmente necessária para uma existência equilibrada. É imperioso que sejamos capazes de nos adaptarmos às circunstâncias e que moldemos as nossas reacções e respostas em função da sucessão de acontecimentos e posturas dos outros.

Tal como ao bom cozinheiro não basta saber manejar apenas a faca de cortar carne, mas se exige que saiba usar um considerável naipe de gumes, também o homem equilibrado não pode limitar-se a sentir coisas boas. Ao invés, tem de ser capaz de reagir com o sentimento-resposta adequado ao que está a viver, ainda que sentimento tenha de ser menos positivo.

É por isso que uma certa dose - a dose certa - de agressividade é necessária. Tão necessária que dela depende, indubitavelmente, a nossa sobrevivência.

[Levei na cabecinha. Pois levei. Só me fez bem.]

© [m.m. botelho]

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