28.9.08

portugal: brandos costumes = bolorentas manias

Faço questão de que a minha crónica de hoje comece com uma afirmação ou, como dizem os nossos queridos amigos ingleses (lembremo-nos do Tratado de Methuen e logo se avivará em nós a memória de tão profunda e profícua amizade), um statement: a palavra favorita dos portugueses é «crise». Pede-se uma opinião a um português sobre o estado do seu país e a primeira palavra que lhe vem à boca é crise. É imediato, é irreflectido, é tão evidente que até nem é preciso perguntar: crise, crise, crise.

Ainda me lembro, era eu gaiata (gosto tanto da palavra «gaiata»!), já a Ivone Silva e o Camilo de Oliveira apregoavam na televisão (eram os tempos em que eu ainda tinha televisão), de garrafa na mão: «isto é que vai uma crise!». Já passaram mais de vinte anos e o discurso poderia ser exactamente o mesmo, não fosse a grande actriz já nos ter deixado.

Aliás, diga-se em abono da verdade, os portugueses são tão profícuos em crises como em opiniões. Eu diria mesmo que a segunda palavra favorita dos portugueses é «opinião». Os portugueses adoram dar a sua opinião e entenda-se «dar» na verdadeira acepção da palavra: o português adora dar o seu parecer sobre tudo quanto é assunto, motu proprio, sem que ninguém lhe peça, sem que venha ao caso. Ah, o português, esse abnegado cidadão do mundo que, consciente do seu papel determinante no rumo de todas as questões e mais alguma, nunca teme nem se abstém de dar a sua opinião, numa demonstração de esforço e sacrifício pelo seu país!

E eis-me chegada à terceira palavra favorita dos portugueses: «país». Os portugueses gostam tanto da sua nação que não deve haver um único que não tenha a bandeira de Portugal em casa (nem que seja daquelas que em vez dos castelos que D. Afonso Henriques tanto se esfalfou a conquistar aos mouros tenha pagodes chineses). Português que se preze ama a pátria mais do que a própria mãe. Por exemplo, se, numa casa portuguesa com certeza, a mãe pedir ao filho que desça três andares, pegue na botija do gás que está na garagem e a traga para cima para que ela possa cozinhar o almoço que ele haverá de comer, o filho responderá que agora não pode ir porque está num momento decisivo do jogo na PSP (leia-se Playstation Portable). Mas se um dos senhores da bola pedir aos portugueses que coloquem a bandeira nacional por tudo quanto é lado, eles largam tudo e não se importam de andar a fazer figurinhas ridículas com uma bandeira espetada numa haste de plástico na janela do seu Fiat Punto branco, desde que seja em nome da nação.

Assim sendo, aos portugueses interessa, acima de tudo, resolver a crise que, em sua opinião, assola este país. Tudo o mais é fait diver. Os portugueses querem lá bem saber do debate mensal na Assembleia da República, do «Magalhães», da visita de Hugo Chavez ou da exposição de Picasso no Algarve. E nem lhes falem do casamento entre pessoas do mesmo sexo porque, como diria Manuel Alegre, já chega de andarmos a falar de assuntos menos importantes só porque são fracturantes e estão na moda.

Os portugueses já têm muito em que pensar! Logo a começar, na malfadada Euribor e nas comissões da banca e, depois, na Justiça e na atribuição das indemnizações a Paulo Pedroso e Pinto da Costa, no aumento da criminalidade, nos números do Euromilhões e no apuramento da selecção nacional para o Mundial 2010. E depois há as notícias do Público, do Portugal Diário e do Correio da Manhã onde é imperioso que cada português deixe expressa a sua opinião...

Portugal é, diz-se, um país de brandos costumes. Sim, sem dúvida, um país de costumes. Portugal, o «meu país de marinheiros, o meu país das naus, de esquadras e de frotas» de que falava António Nobre, agora só gosta de navegar em águas conhecidas, em águas tranquilas, em segurança. Portugal quase já só vai onde lhe mandam, só faz o que lhe deixam fazer, só arrisca se outros lhe garantirem o apoio (financeiro e político, na maior parte dos casos).

Não é por acaso que, mesmo tendo passado tanto tempo, os textos que a Ivone Silva interpretou no Sabadabadu continuam tão actuais (tão assustadoramente actuais!), mas sim porque as prioridades dos portugueses são sempre as mesmas (as tais palavras favoritas) e, à luz da emergência dessas preocupações, todas as outras questões se tornam inoportunas.

Algo sobressai no meio de tudo isto: Portugal está desfasado da realidade em que, por força das circunstâncias, é obrigado a movimentar-se. Por isso, chega com décadas de atraso a locais de onde os outros já partiram, simplesmente porque se recusa a pegar no leme do seu próprio destino, a tomar decisões por si mesmo, a escolher quais são, de facto, as suas prioridades.

Ah, se ao menos os costumes fossem menos brandos!...

[Também publicado em PNETmulher]

© Marta Madalena Botelho

26.9.08

como sempre

chien qui fume | porto | 18.09.2008

Variar um pouco, para não ser sempre o mesmo.
- Mas que mal tem ser sempre o mesmo?
- Nenhum, absolutamente nenhum. Eu sou uma mulher de ideias feitas, um animal de hábitos, uma tipa cheia de manias e costumes.

Naquela noite comeu-se peru, para variar um pouco, para não ser sempre o mesmo.
E a conversa, o flirt dos talheres, o namorico dos copos, o engate dos guardanapos? Excelentes, como sempre.

© [m.m. botelho]

21.9.08

a alteração do regime jurídico do divórcio para totós ou apenas uma proposta de abordagem diferente

A propósito da alteração do regime jurídico do divórcio discute-se muito o modelo do divórcio, ignorando a discussão em torno daquilo que lhe é sempre anterior, o casamento. Este texto pretende ser uma proposta de abordagem diferente para a reflexão em torno da alteração do regime jurídico do divórcio e algumas matérias que lhe são conexas.

Duas perguntas.

1. Por que razão, em vez de se procurarem outras soluções para pôr fim ao casamento, não se opta por extinguir definitivamente o contrato, abolindo a figura jurídica, sem mais?

2. Por que é que o Estado não deixa, de uma vez por todas, de querer regulamentar as relações afectivas entre duas pessoas adultas, livres e capazes, deixando-as exercer livre e conscientemente os seus direitos à liberdade, à autonomia sexual e à felicidade individual (este último, fui importá-lo à Constituição Americana, já que não está expressamente consagrado na Constituição da República Portuguesa, embora decorra do seu espírito)?


Quatro observações.

1. O amor entre as duas pessoas adultas, livres e esclarecidas, bem como as relações que desse sentimento derivem, não devem ser regulamentados por nenhum Estado ou, a admitir-se alguma regulamentação, ela deverá ser a menor possível.

2. As escolhas que digam respeito à felicidade de cada um cabem em exclusivo a essas pessoas e nelas não deve haver ingerências políticas, sociais, morais, religiosas ou quaisquer outras.

3. Abolir a figura jurídica do casamento teria como reflexo a queda de inúmeros preconceitos, discriminações, intromissões morais e religiões no plano legislativo e, acima de tudo, teria a virtude de acabar com desigualdades ridículas (como as de género e as fiscais) que subsistem (sim, em pleno século XXI) e são muito potenciadas pela existência da figura do casamento.

4. Para o caso de se cair na tentação fácil e redutora de justificar a necessidade legal da existência do contrato de casamento invocando o conceito de "família", convém nunca perder de vista que "família" e "casamento" são coisas absolutamente distintas e independentes. Não é o casamento que gera a família; o que sucede às vezes é que há famílias que nascem de um casamento, mas não é por isso que deixa de haver famílias que devem ser reconhecidas como tal e que surgiram e se mantêm fora do casamento. Evitemos, portanto, as falácias, que só inquinam as discussões e põem a nu a argumentação demagógica.


Uma ressalva.

Defender a extinção da figura jurídica do casamento não é sinónimo de que se tenha algo contra o casamento. Pode mesmo ser-se contra a existência da figura mas, sendo ela uma realidade, optar-se por se contrair casamento e/ou defender o direito de todas as pessoas a casar, sem que isso denuncie qualquer contradição. Metaforicamente falando, trata-se de «dançar ao som da música», uma vez que devido à existência do casamento, só é possível aceder a uma série de vantagens de índole vária no estado civil de "casado". (Aqui sempre viria a propósito invocar Voltaire para, mutatis mutandis, como ele, dizer «Não estou de acordo com aquilo que dizeis (com a existência do casamento), mas lutarei até ao fim para que vos seja possível dizê-lo (contraí-lo)»).


Uma consideração crítica.

A celeuma em torno deste assunto foi esclarecedora daquilo que em Portugal se pensa sobre o casamento, o divórcio e os seus efeitos. Tal como em muitas outras matérias, a sociedade portuguesa exibiu em todo o seu esplendor a profunda ignorância de que padece relativamente à realidade matrimonial de um grande número de casais portugueses. Com efeito, os portugueses continuam a fingir:

1. que não há desigualdade de facto entre os cônjuges;

2. que um dos cônjuges (geralmente, a mulher) acaba sempre por contribuir mais do que o outro em espécie (com trabalho, para falar mais claramente) para a vida doméstica e familiar (situação ainda mais frequente quando há filhos);

3. que a causa da esmagadora maioria dos divórcios litigiosos não é a falta de amor, mas sim a violação reiterada dos deveres conjugais (respeito, fidelidade, coabitação, cooperação e assistência);

4. que a possibilidade prevista pela Lei de um dos cônjuges ser considerado culpado é, muitas vezes, o único ponto de força que resta ao cônjuge que é vítima da violação dos deveres conjugais para conseguir "negociar" o fim do contrato de casamento de uma forma digna.

Por outro lado, tudo isto denunciou que os portugueses não foram capazes de ver que a alteração do regime jurídico do divórcio proposta:

1. só caminhava para a igualdade de facto dos cônjuges nos casos em que ela já existia, pois enfraquecia em muito a posição do cônjuge mais dependente, caso o houvesse;

2. permitia ao cônjuge que apenas contribuiu para a vida familiar e doméstica com dinheiro pudesse exigir ao cônjuge que a ela mais se dedicou com tempo, trabalho e abnegação (abdicando, por exemplo, de se entregar à carreira profissional como deveria) uma indemnização;

3. permitia que o cônjuge que reiteradamente violou os deveres conjugais pudesse obter o divórcio por iniciativa própria sem indemnizar ou compensar o cônjuge que foi vítima da violação desses deveres;

4. permitia que, por exemplo, um cônjuge que toda a vida agrediu física e verbalmente o outro mas que contribuiu com mais dinheiro para a vida familiar pudesse não só obter unilateralmente o divórcio, mas também, pelos contributos em dinheiro, pudesse obter uma indemnização do cônjuge a quem toda a vida agrediu, com a agravante de, não havendo culpa na extinção do contrato, nunca ser responsabilizado pela sua conduta violadora das imposições do contrato que celebrou.

Os exemplos de situações graves que a alteração proposta potenciaria poderiam ser inúmeros, como facilmente se antevê. Por isso, deixo aqui a sugestão aos interessados para que leiam as considerações do Senhor Presidente da República sobre a matéria, com as quais concordo em parte.


E termino.

Esta cegueira lusa, potenciada pela "politiquice" demagógica praticada pela imprensa, pelos bloggers, pelos "comentadores de serviço", etc. causa-me alguma urticária, confesso. Ao que me perguntam porque é que, se assim é, eu não mudo de país, respondo citando o Miguel Esteves Cardoso (vénia): «Eu estou completamente apaixonado por Portugal, sempre apaixonado doente e tudo o que eu vejo, ou quase tudo o que eu vejo e ouço, acho maravilhoso»...

Posto isto, que prossiga o debate.

[Três Tristes Tigres. «O mundo a meus pés». Partes Sensíveis. 1993. Uma excelente banda sonora para qualquer divórcio.]

[Também publicado em PNETcrónicas]

© Marta Madalena Botelho

18.9.08

competição desleal


Três Tristes Tigres. «Subida aos céus».
Do álbum/compilação «Visita de estudo» [2001].

17.9.08

momentos de glória (2)

Nada como recebermos um telefonema de um Colega que nos pergunta se sabemos qual o artigo que prevê a realização da conferência de interessados no processo de divórcio porque está farto de o procurar - em vão - no Código de Processo Civil, a quem nós respondemos que não sabemos artigos de cor mas que o poderá encontrar facilmente na parte dos processos especiais, ao que o Colega, por sua vez, replica que não tem o "Código dos Processos Especiais" [?] acrescentando um enfadado «Que chatice!» para que percebamos, repentina e aliviadamente, que afinal não somos o ser mais tonto à face da Terra.

© [m.m. botelho]

momentos de glória (1)

Nada como, depois de passarmos cinco minutos a tentar - em vão - tapar completamente os orifícios doseadores de uma tampa de um frasco de adoçante, alguém se aproximar e, com toda a delicadeza, colocar essa mesma tampa no frasco, fazendo-a rodar gentilmente até ao clique final que a fechará completamente selando, em consequência os orifícios doseadores para que nos sintamos, repentina e profundamente, o ser mais tonto à face da Terra.

© [m.m. botelho]

16.9.08

a culpa é do soneto

Num excepcional texto publicado na PNETliteratura, Jorge Reis-Sá ironiza sobre as maiúsculas, as secretárias rectas dos anos 80, os inerentes problemas de costas que advém do seu uso por pessoas muito crescidas, a distinção inaceitável entre os poetas e o resto da matilha, a necessidade do uso de muletas para caminhar, um par de quadras para engatar cachopas, Florbela Espanca e saudosismos inconsequentes. E conclui: a culpa deste país estar desequilibrado é, afinal, de um soneto. Está cheio de razão.

© Marta Madalena Botelho

15.9.08

comer (com) a vida

A vida come-se quando é boa; come-nos quando é má. E às vezes, quando menos esperamos, também comemos com ela.
Em Portugal, antes de todas as coisas, está o tempo. Este tempo. Este que ninguém nos pode tirar e a que os povos com tempos piores chamam, à falta de melhor, clima.
Depois, há coisas que crescem por causa do tempo. Como o tempo é bom, são boas. E como as coisas são boas, os portugueses querem comê-las. E comem-nas bem comidas, o mais perto que possam ficar da nascença. Ou da cozinha. O resto bem pode ser do pior que pode haver no mundo. Não é. Mas pode ser, à vontade do freguês, conforme se quiser.
Que se lixe esse resto. Quando se come bem – quando se come a vida à nossa volta, com Portugal inteiro à nossa volta, a comer connosco – esse resto também não parece grande por aí além.
Que fique por saber como realmente se vive em Portugal. Mas que fique claro que comer, não se come mal. Que sirva este meu livro de gordo desmentido.
E o resto é como o resto. Ah, Portugal, nosso restaurante! Mas, quando se come bem e se está com a barriga cheia, o resto que está mal é como o resto de um bom almoço.
Alguma coisa há-de fazer-se com ele. Porventura deliciosa, se faz favor.

Miguel Esteves Cardoso
sinopse do livro Em Portugal Não Se Come Mal | Assírio & Alvim | 2008
nas livrarias a partir de hoje [ler as primeiras 24 páginas do livro]

14.9.08

o que é que Madonna tem?

Esta noite, Madonna pisará pela terceira vez um palco em Portugal. À sua frente, 75.000 fanáticos pela sua música, mas não só. Madonna tem «seguidores», «idólatras», gente que está onde a sua «diva» está. Madonna não prende pela música ou, pelo menos, não só pela música. A ousadia, a postura de confronto, o constante desafio aos poderes instituídos, as subliminares mensagens de sátira política, social e religiosa levam a que uma legião de pessoas de todo o mundo a venere. Por ela, pagam-se pequenas fortunas no mercado negro dos bilhetes para concertos, passam-se noites ao relento a dormir na calçada dura e fria, percorrem-se quilómetros, atravessam-se fronteiras, sufoca-se entre milhares de pessoas para ser um dos sete mil que estão mais próximos do palco. Por ela, tudo isto fazem os súbditos da rainha da música pop.

O que é que Madonna tem? Tem tudo como ninguém. Aos cinquenta anos continua a ter mais versatilidade do que muitas cantoras com metade da sua idade. Madonna assume e adora o trono da personificação de tudo o que seja «contra a corrente». É, por tudo o que fez e a que se sujeitou, uma sobrevivente.

Lembro-me perfeitamente do quão piroso era gostar de Madonna nos meus tempos de liceu. Acreditem, era muito, muito piroso. Os véus, os crucifixos, as rendas, os colares chegados ao pescoço eram conotados com tudo o que de mais parolo podia existir debaixo dos céus (é preciso ter em conta que nos anos 90 estávamos todos ultra-sensíveis: andávamos a ressacar de uma década com laca nos cabelos, chumaços nos blasers e tecidos com padrões de figuras geométricas...). Mas Madonna é uma camaleoa e, como tal, soube percorrer o caminho que muitos deixam a meio e consolidar definitivamente a sua carreira alicerçando-a na diferença. Nos nossos dias deixou de ser piroso gostar de Madonna e Madonna – convenhamos – está ela mesma muito menos pirosa.

Não há alminha que nunca tenha cantarolado «Like a virgin» tentando imitar a voz delico-doce com que ela canta essa canção. Mas de virgem, inocente e doce a autora do polémico Sex tem muito pouco. É precisamente por estarem conscientes disso que tantos a adoram: porque Madonna encarna muito daquilo que não ousam ser.

[Também publicado em PNETmulher.]

© Marta Madalena Botelho

nem com pauzinhos de canela

Raramente bebo café fora de casa. Antes de mais, porque acho obsceno o preço de um café expresso em Portugal. No Majestic, por exemplo, um café, quer seja expresso, quer seja de saco, custa a bela quantia de 1,75€. Um café simples, daqueles pretos, básicos, que sabe a café e não sabe a mais nada, repito, custa a bela quantia de 1,75€. Mas a coisa não se fica por aqui. Na Casa do Livro, um local muito agradável para conversar e estar com os amigos, custa, se a memória me não atraiçoa, 1,50€. E que dizer do Piolho D’Ouro, esse ex libris da Baixa do Porto que, para servir ao cliente um café na esplanada, cobra nada mais, nada menos do que 0,80€?

Ainda me lembro da primeira vez que me insurgi contra o aumento do preço do café. Foi há já uns anos, andava eu pelos bancos da Faculdade, naqueles tempos em que o dinheiro era sempre pouco e o tempo sempre curto para tudo o que havia para fazer e comprar, incluindo o café, ao menos depois do almoço, para a cabeça não tombar sobre a sebenta durante as animadas tardes de douta prelecção. No local onde eu costumava beber café, a reboque da cedência de lugar do escudo ao Euro, o aumento foi de quase 50%. Quando, ao longe, o empregado me atirou com o novo preço – «Cinquenta cêntimos!» – pus-me a fazer contas rápidas de cabeça: «Cinquenta cêntimos são cem escudos, ora de sessenta para cem vão quarenta...». Indignada, levantei-me da cadeira e, chegando ao balcão, disparei: «Olha lá, mas está tudo doido?! Então ainda no Natal o café custava sessenta "paus" e agora em Janeiro custa mais quarenta?». Do outro lado, a explicação: «Ah pois! O que esperavas? Se fosses tu a ter uma casa aberta para um bando de tipos que andam sempre a contar os tostões que mal lhes dá para os copos, que só abancam aqui para beber a bica, também aproveitavas a oportunidade para mexer no preço!». Obviamente, paguei o café e pirei-me. Julgo que nem preciso dizer que comecei a beber muito menos café fora de casa do que bebia até então.

Ao cabo de todo este tempo, continuo a considerar que aquela resposta foi injusta. Quem fixa os preços dos bens que vende é, claro está, o comerciante. Mas não me parece honesto para com o cliente que se inflacione o preço de determinado produto muito acima do seu valor real apenas porque é um produto muito consumido (ou mesmo o mais consumido). É indubitável que a maior parte das pessoas que lê o jornal nas esplanadas deste país consome um café ou pouco mais, mas das três uma: (1) ou se incentiva o consumo de outro tipo de produtos, nomeadamente, divulgando-os (porque é que são tão raros os locais onde é fornecida ao consumidor a informação sobre os produtos ao seu dispor sem que aquele tenha de a pedir?) ou baixando-lhes o preço; (2) ou passa a comercializar-se apenas aquilo que é procurado; (3) ou se interioriza definitivamente que a palavra «negócio» pode ter dois significados: «lucro» e «prejuízo». Onerar o consumidor de um determinado produto de modo a compensar o investimento em produtos menos procurados e dos quais, portanto, o retorno apenas será alcançado a médio prazo é no mínimo injusto e no máximo desonesto para com o cliente.

Sorrateiramente, o fenómeno do aumento excessivo e injustificado do preço do café quando o mesmo passou a ser pago em Euros ocorreu em todo o lado, mesmo em espaços onde a justificação que me foi dada naquele dia frio de Janeiro nos meus tempos de faculdade não colhe, já que comercializam em larga escala outro tipo de bens, como são bons exemplos os que referi no início deste texto. Porém, se, aqui e ali, confronto amigos e conhecidos com o facto, perguntam-me o que haverão de fazer e logo se apressam a dizer que na vizinha Espanha, em França ou em Itália o café é ainda mais caro e quase nunca de melhor qualidade. Que me importa a mim que um expresso custe 2,50€ em Barcelona ou mesmo 3,00€ em Copenhaga?!

Eu, pela minha parte, sei o que fiz. Uma vez que não queria privar-me do consumo de café (uma das minhas bebidas preferidas) comprei uma máquina de café expresso e passei a bebê-lo em casa. Posso assegurar que o trabalho de limpar/carregar o manípulo e lavar a chávena é largamente compensado pela poupança monetária e que o retorno do investimento financeiro se alcança ao fim de escassos meses.

Além disso, fazer e beber o café em casa tem uma suprema vantagem: ninguém é obrigado a levar com os malfadados pauzinhos de canela que pululam por toda a parte e que todos os proprietários de estabelecimentos de restauração acham que são apreciados pelos clientes, mesmo quando não são**. Se, ao menos, nos dessem a possibilidade de escolher entre a canela e o metal das velhinhas colheres que dobrávamos para fazer alfinetes de gravata para os trajes académicos!... Sim, isto já é a saudade do tempo de estudante a falar por mim... A saudade do tempo em que a bica depois de almoço custava apenas sessenta "paus"...
_______________________

* Se bem que, às vezes, a prelecção causasse sonolência, não se pense que a culpa era sempre imputável aos Mestres, por quem, aliás, na sua maioria, tenho elevada consideração académica. A estafa era, as mais das vezes, a própria matéria...

** A minha indignação é suscitada por solidariedade, já que eu não adoço nem mexo o café.

[Também publicado em PNETmulher.]

© Marta Madalena Botelho

10.9.08

quanto tempo (2)

chien qui fume | porto | 10.09.2008

O tempo do teu corpo se dobrar sobre a cadeira. O tempo do teu gesto acender um cigarro. O tempo da tua perna se cruzar sobre a outra. O tempo da tua língua humedecer os teus lábios. O tempo das tuas mãos abraçarem uma chávena. O tempo dos teus ombros se lançarem para trás. O tempo dos teus pés brincarem com os meus. O tempo dos teus olhos caírem sobre os meus cabelos. O tempo dos teus dedos tamborilarem sobre a mesa. O tempo dos teus braços se enredarem no meu cheiro. O tempo do teu desejo se prender e render ao meu.

© [m.m. botelho]

quanto tempo (1)

leitaria quinta do paço | porto | 10.09.2008

Quanto tempo demora um parquímetro a emitir um recibo? Quanto tempo demora uma criança a atravessar a rua? Quanto tempo demora uma roda a descrever uma volta inteira? Quanto tempo demora abrir um livro de banda desenhada? Quanto tempo demora manchar com café uma página? Quanto tempo demora uma gaivota a sobrevoar um telhado? Quanto tempo demora desapertar um atacador? Quanto tempo demora uma nuvem a fundir-se noutra? Quanto tempo demora uma chave a abrir uma fechadura? Quanto tempo demora um passo a seguir outro? Quanto tempo demora a noite a cair sobre nós?

© [m.m. botelho]

9.9.08

dupla personalidade

Ninguém vai exigir que eu explique pois, na verdade, creio que ninguém terá o interesse bastante em saber porquê. Mas, ainda que eu tivesse de explicar porquê, não saberia como fazê-lo. Se tivesse de justificar com a primeira ideia que me ocorre diria: não resisti.
Não resisti a espreitar as diferenças que o site Web Pages As Graphs poderia encontrar entre o viagens interditas e o voo-inclinado, os dois blogues onde escrevo. Embora sem certezas, eu não ficaria surpreendida se o resultado fosse algo diferente, uma vez que o cariz dos dois espaços é bem diverso. O que eu nunca imaginei é que a diferença pudesse ser tão grande.



Pus-me a pensar que talvez estes desenhos não passem de indícios da existência de duas personalidades dentro de mim: uma mais complexa, impenetrável, proibida; outra mais liberta, em constante movimento, quantas vezes acelerado e vertiginoso. Em ambos os blogues e em ambas as imagens sou eu e apenas eu: viagem interdita em voo inclinado.

Post scriptum: as cores e a construção das imagens com pontinhos está explicada ao fundo da página Web Pages as Graphs e nada tem que ver com o conteúdo escrito dos blogues propriamente dito, mas com a linguagem HTML utilizada para o aspecto gráfico daqueles. Este texto não passa, por isso, de um mero exercício de fantasia, construído a partir da coincidência entre o modo como eu mesma vejo os dois blogues e o modo como eles foram representados. A coincidência, essa sim, foi a parte inesperada de tudo isto. E aquele ponto preto solitário num imenso mar branco não poderia dizer mais do que o que diz.

© [m.m. botelho]

8.9.08

«deixa-me cometer esse erro.»

Alguns de nós tentam escapar-lhe e, com maior ou menor esforço, lá vão conseguindo. Outros, porém, rendem-se como se de uma evidência se tratasse. Será que a idade é mesmo a justificação para que o desejo de ter filhos desperte ou aumente? Já todos sabemos que, como escreveu o António Variações e cantaram os Humanos, «a culpa é da vontade» e que sem vontade não há idade que lhe valha. Então, será que a idade nos muda a vontade?
Eu não sei, não tenho certezas de nada, mas desde ontem que ando a matutar nisso, depois deste inesperado diálogo:

- Mas estás a pensar nisso a sério?
- Em quê? Ter filhos?
- Sim, em ter filhos.
- Estou, estou. Não é coisa que tenha de fazer já, mas é algo que quero fazer. Já tenho 28 anos e a idade tem-me feito pensar mais nisso a sério.
- Espera lá. Tu só és vinte e poucos dias mais velho do que eu. Eu também tenho 28 anos e não sinto nada disso, por isso não me venhas com coisas: a idade não tem influência! Se, ao menos fosse eu com essa conversa, a escudar-me atrás da contagem decrescente do relógio biológico das mulheres, ainda percebia. Agora tu, que podes ter filhos até aos noventa anos... Apanhaste-me de surpresa!
- Ó, vá lá. Deixa-me querer ter filhos aos 28 anos. Deixa-me cometer esse erro. Eu ainda sou novo, ainda tenho muitos erros para cometer pela vida fora.
- Não sei se deixo. Mas prometo pensar nisso.


Sim, meu caro amigo. Este texto é, claramente, uma provocação.

© Marta Madalena Botelho

7.9.08

(manu)[e]screver

Gosto muito de escrever. Do acto de escrever, propriamente dito. De pegar na caneta e no papel e traçar letras. Por isso, também gosto muito de canetas e papéis. E de lápis. Gosto tanto de canetas, papéis e lápis que acho que posso dizer que são os meus objectos favoritos. Isto se é que se pode dizer que se tem objectos favoritos sem parecer muito ridículo.

Guardo meia dúzia de canetas e pequenos cadernos de anotações com muito carinho no meu coração e na minha memória. Alguns deles ocupam esse espaço não apenas porque me fascinam, mas também por causa das pessoas que mos ofertaram. Guardá-los religiosamente é quase como guardar um pouco dessas pessoas. Como se, de cada vez que pego neles e lhes dou uso, garatujando nem que seja a maior das tontarias ou a frase mais desprovida de sentido, estivesse a tocar nessas pessoas, a senti-las mesmo ali ao pé, ao alcance da minha mão. Como se, escrevendo, agitasse a minha relação com elas e juntas andássemos para aí aos traços, que é como quem diz às voltas com as palavras, aos rodopios, numa roda de emoções e caracteres. Mas o Tempo e a Distância – e a modorra que nos impede de os diminuir – têm-se encarregado de manter a caneta dentro do copo
que repousa sobre a secretária e os caderninhos brancos imaculados, as folhas muito certinhas e alinhadas, sem sinais de terem sido tocados. O que (não) escrevo são as nossas conversas, aquelas conversas que não temos porque deixaram de ter sentido, porque as palavras entre nós deixaram de ter o mesmo significado e a transmissão da informação passou a ter ruído, prejudicando a mensagem. Aos poucos, fomos deixando de ter assunto, do mesmo modo que a tinta se acaba nas cargas das canetas.

Cada vez mais uso o teclado do computador em vez das minhas próprias mãos para escrever. Julgo até que a minha caligrafia é cada vez menos acessível à leitura dos outros. Logo a minha caligrafia, tão esmerada na escola primária, por meio da qual granjeei tantos elogios, agora simplesmente esguia e impetuosa, demasiado indefinida, sempre vestida de preto, quase defunta.

Nesta chamada «sociedade da tecnologia e informação» tudo tem de ser normalizado, estilizado, uniformizado, até o desenho das letras. Os cadernos e as canetas caíram em desuso, e em desuso caiu também o hábito de guardar dentro de grandes caixas de papelão as cartas e os postais que em tempos recebemos e que tinham cor, cheiro e textura, cada um deles diferente, único e irrepetível.

Fica tanto por manuscrever. Fica tanto por dizer.

[Também publicado em PNETmulher.]

© Marta Madalena Botelho

6.9.08

providencial

al forno | porto | 2008.09.06

Mesmo completamente às escuras e em cima da hora, tudo sucede providencialmente. A reserva. O percurso. O estacionamento. A mesa bem posicionada. O menu. A sangria. A refeição. A sala à meia-luz.
Quando nos concentramos no Universo, o Universo concentra-se em nós. E tudo se concentra, acontece e importa ao redor da nossa mesa.

© [m.m. botelho]

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algumas notas importantes sobre os direitos de autor

» O âmbito do direito de autor e os direitos conexos incidem a sua protecção sobre duas realidades: a tutela das obras e o reconhecimento dos respectivos direitos aos seus autores.
» O direito de autor protege as criações intelectuais do domínio literário, científico e artístico, por qualquer modo exteriorizadas.
» Obras originais são as criações intelectuais do domínio literário, científico e artístico, qualquer que seja o seu género, forma de expressão, mérito, modo de comunicação ou objecto.
» Uma obra encontra-se protegida, logo que é criada e fixada sob qualquer tipo de forma tangível de modo directo ou com a ajuda de uma máquina.
» A protecção das obras não está sujeita a formalização alguma. O direito de autor constitui-se pelo simples facto da criação, independentemente da sua divulgação, publicação, utilização ou registo.
» O titular da obra é, salvo estipulação em contrário, o seu criador.
» A obra não depende do conhecimento pelo público. Ela existe independente da sua divulgação, publicação, utilização ou exploração, apenas se lhe impondo, para beneficiar de protecção, que seja exteriorizada sob qualquer modo.
» O direito de autor pertence ao criador intelectual da obra, salvo disposição expressa em contrário.