19.10.08

esta vida de magalhães está a dar cabo de mim!

Eu assumo: tenho uma ligeira, ligeiríssima embirração com o Magalhães. Não, não é devido ao impacto positivo ou negativo que poderá ter na aprendizagem das nossas crianças, não é por causa daquele menu com ratinhos absolutamente redutor e infantil, nem sequer é por causa das inqualificáveis e indescritíveis acções de formação a que alguns docentes se sujeitaram onde cantavam a Grândola numa versão adulterada para enaltecer a amizade que eles sentem pelo pequeno Magalhães, nada disso. Isso, verdade seja dita, não me aquece nem me arrefece porque, a bem da verdade, não me está a apetecer gastar nem que seja meia dúzia de caracteres a propósito do assunto.

Eu até simpatizo bastante com a máquina. Aqui há dias, passei uns bons vinte minutos sentada naquelas cadeirinhas de plástico que estão na secção de livros infantis da Fnac só para poder experimentar o Magalhães. Fiquei rendida a dois aspectos: por um lado é azul, e eu gosto muito da cor azul (embora não pelos mesmos motivos do Dr. Pôncio Monteiro); em segundo lugar, porque o computador pesa menos de um quilo e, ainda por cima, tem aquela alça muito prática para ser transportado. Não fosse o tamanho reduzido das teclas que se mostraram desajustadas aos meus dedos e, naquela noite, eu mesma teria passado a ser uma orgulhosa proprietária de um Magalhães.

A causa da minha embirração com o Magalhães é outra: o nome. Se era para fazer dele um computador pretensamente «português dos quatro costados», então, deveria chamar-se Silva e mais nada. Afinal de contas, Silva é o sobrenome mais comum entre a população portuguesa e aquele que mais "exportámos" para o Brasil. Magalhães, assim de repente, rima com alemães e isso parece-me uma coisa muito pouco portuguesa. Se ao menos rimasse com fado ou bacalhau!... Se era para invocar o navegador português, tinham-lhe chamado Fernão que sempre se prestava a rimas mais diversificadas e interessantes!

Mas há mais inconvenientes. Por exemplo, o que é que o Durão Barroso e o Magalhães têm em comum? O til, claro. E o til pode ser um problema. Como toda a gente está recordada, quando Durão Barroso assumiu a presidência da Comissão Europeia, o seu nome foi publicado nos jornais do mundo inteiro. E o que é que aconteceu ao til? Nuns casos, desapareceu, sem mais, e o Durão deu origem ao "Durao". Noutros casos, sacrificou-se a palavra inteira e o acento de José e o senhor passou a ser nomeado "Jose" Manuel Barroso. O Magalhães, coitado, haverá de sofrer da mesma terrível sorte, a de ver o seu nome decepado pelos teclados internacionais que impiedosamente mutilam o til e dará lugar, planeta fora, ao "Magalhaes". Volto a insistir: se fosse Silva, eram trabalhos escusados.

Eu até aceito que Magalhães seja, digamos, mais chique do que Silva, embora «chique a valer», como diria o Dâmaso Cândido de Salcede (outro belo nome) n’«Os Maias», fosse um nome com letras dobradas, mas adiante. Mas, se a ideia era dar um ar empinocado ao computador, eu até condescendia num Da Silva ou De Silva. Estou a lembrar-me de três figuras famosas que fazem jus ao sobrenome e à partícula: a pintora portuguesa Maria Helena Vieira Da Silva, o pintor espanhol Diego Rodriguez De Silva y Velázquez e o corredor brasileiro Ayrton Senna Da Silva. Ao lado deles, o computador Da Silva só poderia sair enaltecido. E se o Magalhães fosse Silva, seria fácil encontrar-lhe dois padrinhos que ajudassem à sua divulgação. Refiro-me a dois ilustres Silvas: os Presidentes da República de Portugal (Aníbal Cavaco Silva) e do Brasil (Luís Inácio Lula da Silva). Era perfeito!

Tenho tanta pena que assim não seja que até me lembrei de iniciar uma petição para mudar o nome ao Magalhães, mas depois reconsiderei por achar que seria infrutífero. Num país onde pouco muda, não haveria de ser o nome de um computador a excepção. Resta-me, na intimidade, chamar Silva aos Magalhães com que me for cruzando. Sempre dará para manter a boa tradição portuguesa de, à boca pequena, atribuir epítetos "carinhosos" às pessoas em substituição dos seus nomes verdadeiros.

[Também publicado em PnetMulher]

© Marta Madalena Botelho

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