9.3.10

má informação e má opinião

© explodingdog [28.01.2010]

Nos tempos que correm, parece ter-se tornado necessidade universal tecer observações sobre todos os assuntos. Não há alma em Portugal que não tenha uma palavra a dizer sobre as escutas do "Processo Face Oculta", as viagens de Inês de Medeiros a Paris, a tragédia na Madeira, o Plano de Estabilidade e Crescimento, o ordenado de Rui Pedro Soares, os escândalos sexuais do Vaticano, o programa de Miguel Sousa Tavares... Enough. Se enunciasse todos os tópicos, a lista não teria fim.

Mais do que os blogues, o Facebook e o Twitter tornaram-se repositório de todo o tipo de comentários. Com efeito, enquanto os blogues exigem reflexão, ponderação e alguma capacidade de escrita, tanto o Facebook como o Twitter se contentam com apenas alguns caracteres, ideias isoladas, tiradas infundadas, frases instantâneas. Por isso é que estas duas plataformas se tornaram tão apetecíveis e conheceram uma enorme adesão em tão pouco tempo. A catadupa de informação convive bem com a observação de circunstância, que por sua vez convive bem com a desnecessidade de reflexão, que por sua vez convive bem com a desnecessidade de fundamentação, que por sua vez convive bem com a falta de rigor. Sucede que eu, que sou utilizadora entusiasta tanto do Twitter como do Facebook, convivo francamente mal com a realidade que acabei de descrever e duvido, sinceramente, que o mal esteja do meu lado.

Vivemos tempos em que as pessoas sentem a necessidade de opinar para se sentirem socialmente activas, como se quem não comentasse não existisse. Por outro lado, parece-me que [erradamente] se enraizou a ideia de que comentar tudo e todos dá a quem o faz um estatuto de sujeito inteligente, actualizado, culto, quando é exactamente o contrário: a maior parte das vezes é exibida uma pobreza intelectual confrangedora, uma tendência para maledicência «só porque sim», um profundo desconhecimento dos temas. As páginas online dos jornais são o melhor exemplo disso: estão repletas de comentários de quem, nitidamente, não leu sequer a notícia, tendo-se ficado pelo título, o qual frequentemente não reflecte minimamente o teor do texto desenvolvido, como já tive oportunidade de notar diversas vezes em textos publicados neste blogue. Outro espelho disto a que me refiro tem sido, nos últimos tempos, o Twitter, onde é cada vez mais notória a ausência de limites do bom senso nas opiniões que se expressam. E não há dia em que não receba e-mails contendo as mais estapafúrdias afirmações como se de dogmas se tratasse, mensagens que as pessoas automaticamente reencaminham sem sequer se darem ao trabalho de confirmar a informação, sem fazerem a mínima diligência para assegurar que o que vão dizer aos outros não é uma patranha. Deixam-se, assim, instrumentalizar pela intriga, sem disso se darem conta e sem se aperceberem do quanto contribuem para a proliferação dos interesses que acreditam piamente estar a combater.

As manchetes dos jornais que são publicadas a conta-gotas e em obediência a critérios de timing político (ao invés do desejável timing informativo), o autêntico show off das inúmeras comissões parlamentares transmitidas em directo, os programas televisivos ditos «de opinião» que proliferam em todos os canais e o clima permanente de instabilidade política e social constituem o ramalhete de circunstâncias que potenciam a dispersão da desinformação.

Da informação espera-se que seja precisa, completa, relevante, imparcial, isenta e fiável. Obviamente, a opinião não tem de ter estas características, sendo, por definição, a expressão de impressões pessoais sobre determinado assunto, mas tem de ser séria, isto é, bem argumentada e bem fundamentada. Embora nenhuma das duas seja desejável, agora parece mais claro do que nunca que pior do que uma sociedade que não tem informação e opinião é uma sociedade que tem má informação e má opinião, porque piores do que o silêncio e o desconhecimento são a mentira, a falta de ética e a falta de seriedade. E já que a palavra está tanto na moda, atrevo-me a falar de uma "contaminação" da informação e da opinião pública pela desonestidade, cenário absolutamente indesejável numa sociedade que se pretende esclarecida. Como Régio, em «Cântico Negro», apetece dizer: «Prefiro escorregar nos becos lamacentos, / Redemoinhar aos ventos, / Como farrapos, arrastar os pés sangrentos, / A ir por aí...».

© Marta Madalena Botelho

eu

[m.m. botelho] || Marta Madalena Botelho
blogues: viagens interditas [textos] || vermelho.intermitente [textos]
e-mail: viagensinterditas @ gmail . com [remover os espaços]

blogues

os meus refúgios || 2 dedos de conversa || 30 and broke || a causa foi modificada [off] || a cidade dos prodígios || a cidade surpreendente || a curva da estrada || a destreza das dúvidas || a dobra do grito || a livreira anarquista || a mulher que viveu duas vezes || a outra face da cidade surpreendente || a minha vida não é isto || a montanha mágica || a namorada de wittgenstein || a natureza do mal || a tempo e a desmodo || a terceira noite || as folhas ardem || aba da causa || adufe || ágrafo || ainda não começámos a pensar || albergue dos danados || alexandre soares silva [off] || almocreve das petas [off] || animais domésticos || associação josé afonso || ana de amsterdam || antónio sousa homem || atum bisnaga || avatares de um desejo || beira-tejo || blecaute-boi || bibliotecário de babel || blogtailors || blogue do jornal de letras || bolha || bomba inteligente || cadeirão voltaire || café central || casadeosso || causa nossa || ciberescritas || cibertúlia || cine highlife || cinerama || coisas do arco da velha || complexidade e contradição || córtex frontal [off] || crítico musical [off] || dados pessoais || da literatura || devaneios || diário de sombras || dias assim || dias felizes || dias im[perfeitos] || dias úteis || educação irracional || entre estantes || explodingdog > building a world || f, world [guests only] || fogo posto || francisco josé viegas - crónicas || french kissin' || gato vadio [livraria] || guilhermina suggia || guitarra de coimbra 4 [off] || húmus. blogue rascunho.net || il miglior fabbro || imitation of life || indústrias culturais || inércia introversão intusiasmo || insónia || interlúdio || irmão lúcia || jugular || lei e ordem || lei seca [guests only] || leitura partilhada || ler || literatura e arte || little black spot || made in lisbon || maiúsculas [off] || mais actual || medo do medo || menina limão || menino mau || miss pearls || modus vivendi || monsieur|ego || moody swing || morfina || mundo pessoa || noite americana || nuno gomes lopes || nu singular || o amigo do povo || o café dos loucos || o mundo de cláudia || o que cai dos dias || os livros ardem mal || os meus livros || oldies and goldies || orgia literária || ouriquense || paulo pimenta diários || pedro rolo duarte || pequenas viagens || photospathos || pipoco mais salgado || pó dos livros || poesia || poesia & lda. || poetry café || ponto media || poros || porto (.) ponto || postcard blues [off] || post secret || p.q.p. bach || pura coincidência || quadripolaridades || quarta república || quarto interior || quatro caminhos || quintas de leitura || rua da judiaria || saídos da concha || são mamede - cae de guimarães || sem compromisso || semicírculo || sem pénis nem inveja || sem-se-ver || sound + vision || teatro anatómico || the ballad of the broken birdie || the sartorialist || theoria poiesis praxis || theatro circo || there's only 1 alice || torreão sul || ultraperiférico || um amor atrevido || um blog sobre kleist || um voo cego a nada || vida breve || vidro duplo || vodka 7 || vontade indómita || voz do deserto || we'll always have paris || zarp.blog

cultura e lazer

agenda cultural de braga || agenda cultura de évora || agenda cultural de lisboa || agenda cultural do porto || agenda cultural do ministério da cultura || agenda cultural da universidade de coimbra || agenda de concertos - epilepsia emocional || amo.te || biblioteca nacional || CAE figueira da foz || café guarany || café majestic || café teatro real feitorya || caixa de fantasia || casa agrícola || casa das artes de vila nova de famalicão || casa da música || centro cultural de belém || centro nacional de cultura || centro português de fotografia || cinecartaz || cinema 2000 || cinema passos manuel || cinema português || cinemas medeia || cinemateca portuguesa || clube de leituras || clube literário do porto || clube português artes e ideias || coliseu do porto || coliseu dos recreios || companhia nacional de bailado || culturgest || culturgest porto || culturporto [rivoli] || culturweb || delegação regional da cultura do alentejo || delegação regional da cultura do algarve || delegação regional da cultura do centro || delegação regional da cultura do norte || e-cultura || egeac || era uma vez no porto || europarque || fábrica de conteúdos || fonoteca || fundação calouste gulbenkian || fundação de serralves || fundação engenheiro antónio almeida || fundação mário soares || galeria zé dos bois || hard club || instituto das artes || instituto do cinema, audiovisual e multimédia || instituto português da fotografia || instituto português do livro e da biblioteca || maus hábitos || mercado das artes || mercado negro || museu nacional soares dos reis || o porto cool || plano b || porto XXI || rede cultural || santiago alquimista || são mamede - centro de artes e espectáculos de guimarães || sapo cultura || serviço de música da fundação calouste gulbenkian || teatro académico gil vicente || teatro aveirense || teatro do campo alegre || theatro circo || teatro helena sá e costa || teatro municipal da guarda || teatro nacional de são carlos || teatro nacional de são joão || teatropólis || ticketline || trintaeum. café concerto rivoli

leituras e informação

365 [revista] || a cabra - jornal universitário de coimbra || a oficina [centro cultural vila flor - guimarães] || a phala || afrodite [editora] || águas furtadas [revista] || angelus novus [editora] || arquitectura viva || arte capital || assírio & alvim [editora] || associação guilhermina suggia || attitude [revista] || blitz [revista] || bodyspace || book covers || cadernos de tipografia || cosmorama [editora] || courrier international [jornal] || criatura revista] || crí­tica || diário de notícias [jornal] || el paí­s [jornal] || el mundo [jornal] || entre o vivo, o não-vivo e o morto || escaparate || eurozine || expresso [jornal] || frenesi [editora] || goldberg magazine [revista] || granta [revista] || guardian unlimited [jornal] || guimarães editores [editora] || jazz.pt || jornal de negócios [jornal] || jornal de notí­cias [jornal] || jusjornal [jornal] || kapa [revista] || la insignia || le cool [revista] || le monde diplomatique [jornal] || memorandum || minguante [revista] || mondo bizarre || mundo universitário [jornal] || os meus livros || nada || objecto cardí­aco [editora] || pc guia [revista] || pnethomem || pnetmulher || poets [AoAP] || premiere [revista] || prisma.com [revista] || público pt [jornal] || público es [jornal] || revista atlântica de cultura ibero-americana [revista] || rezo.net || rolling stone [revista] || rua larga [revista] || sol [jornal] || storm magazine [revista] || time europe [revista] || trama [editora] || TSF [rádio] || vanity fair [revista] || visão [revista]

direitos de autor dos textos

Os direitos de autor dos textos publicados neste blogue, com excepção das citações com autoria devidamente identificada, pertencem a © 2008-2019 Marta Madalena Botelho. É proibida a sua reprodução, ainda que com referência à autoria. Todos os direitos reservados.

direitos de autor das imagens

Os direitos de autor de todas as imagens publicadas neste blogue cuja autoria ou fonte não sejam identificadas como pertencendo a outras pessoas ou entidades pertencem a © 2008-2019 Marta Madalena Botelho. É proibida a sua reprodução ainda que com referência à autoria. Todos os direitos reservados.

algumas notas importantes sobre os direitos de autor

» O âmbito do direito de autor e os direitos conexos incidem a sua protecção sobre duas realidades: a tutela das obras e o reconhecimento dos respectivos direitos aos seus autores.
» O direito de autor protege as criações intelectuais do domínio literário, científico e artístico, por qualquer modo exteriorizadas.
» Obras originais são as criações intelectuais do domínio literário, científico e artístico, qualquer que seja o seu género, forma de expressão, mérito, modo de comunicação ou objecto.
» Uma obra encontra-se protegida, logo que é criada e fixada sob qualquer tipo de forma tangível de modo directo ou com a ajuda de uma máquina.
» A protecção das obras não está sujeita a formalização alguma. O direito de autor constitui-se pelo simples facto da criação, independentemente da sua divulgação, publicação, utilização ou registo.
» O titular da obra é, salvo estipulação em contrário, o seu criador.
» A obra não depende do conhecimento pelo público. Ela existe independente da sua divulgação, publicação, utilização ou exploração, apenas se lhe impondo, para beneficiar de protecção, que seja exteriorizada sob qualquer modo.
» O direito de autor pertence ao criador intelectual da obra, salvo disposição expressa em contrário.