Sempre me questionei sobre o que será isso do «espírito do Natal». Uso correntemente a expressão e sei o que pretendo dizer quando a emprego. O que não sei é se os que me ouvem e os outros que a usam o fazem com o mesmo sentido. Todavia, creio que, no fundo, todos temos um ponto em comum: o «espírito do Natal» oscila entre a tranquilidade que advém de um inexplicável sentido de proximidade e comunhão de afectos que parecem "nascer" nesta altura do ano e o frenesim de presentear os que nos são queridos com algo que os faça felizes.
Na verdade, acho que poucas vezes fui invadida pelo «espírito do Natal». Quanto aos afectos, sinto-os durante todo o tempo, por quem os sinto, e mais não há a dizer. Por outro lado, não me lembro de alguma vez ter sido arrastada, à última da hora (que Dezembro é o último mês do ano), por uma vaga de solidariedade para com o semelhante. Quanto aos presentes, confesso que não tenho muita pachorra para o ritual da escolha, da compra, do embrulho, embora goste muito de dar e de receber presentes.
Este ano, não comprei nenhum presente de Natal para ofertar. Os pouquíssimos que já ofereci ou vou oferecer foram todos escolhidos por mim, mas comprados por outras pessoas que me libertaram do fardo de um processo que me é desconfortável. Isto não foi sempre assim, claro. Houve um tempo em que, mesmo não gostando de o fazer, o fazia. E houve um tempo, também, em que gostei verdadeiramente de o fazer. Este ano, contudo, decidi que só o faria se, chegado o tempo, me fizesse sentido fazê-lo. E não fez. Por isso, não há data no calendário que me force a fazer algo que nada me diz, não há convenção social que me vergue à estucha inerente à coisa, não há «espírito do Natal» que me entre pelos poros e me faça abdicar do princípio que estabeleci.
Para o ano, espero, haverá novamente Natal e, então, verei o que me fará sentido fazer, porque o que sinto agora pode sofrer alterações, como, de resto, já sofreu noutras alturas da minha vida. O que isto tem de maravilhoso que mereça ser plasmado por escrito é tão somente o facto de eu me dar conta da possibilidade de alteração de um comportamento e de ela não me perturbar, de eu recusar espartilhar-me em absolutos e em imutáveis, de eu ter deixado de resistir à mudança, de eu ser capaz de pôr em prática a ideia de que o que for, se verá e o que tiver de ser, será. Sim, isto é maravilhoso e merece ser plasmado por escrito, porque parte apenas de um pequeno e, porventura, insignificante exemplo da minha vida, mas é a materialização de uma grande, enorme, gigantesca evolução operada em mim.
© [m.m. botelho]
Na verdade, acho que poucas vezes fui invadida pelo «espírito do Natal». Quanto aos afectos, sinto-os durante todo o tempo, por quem os sinto, e mais não há a dizer. Por outro lado, não me lembro de alguma vez ter sido arrastada, à última da hora (que Dezembro é o último mês do ano), por uma vaga de solidariedade para com o semelhante. Quanto aos presentes, confesso que não tenho muita pachorra para o ritual da escolha, da compra, do embrulho, embora goste muito de dar e de receber presentes.
Este ano, não comprei nenhum presente de Natal para ofertar. Os pouquíssimos que já ofereci ou vou oferecer foram todos escolhidos por mim, mas comprados por outras pessoas que me libertaram do fardo de um processo que me é desconfortável. Isto não foi sempre assim, claro. Houve um tempo em que, mesmo não gostando de o fazer, o fazia. E houve um tempo, também, em que gostei verdadeiramente de o fazer. Este ano, contudo, decidi que só o faria se, chegado o tempo, me fizesse sentido fazê-lo. E não fez. Por isso, não há data no calendário que me force a fazer algo que nada me diz, não há convenção social que me vergue à estucha inerente à coisa, não há «espírito do Natal» que me entre pelos poros e me faça abdicar do princípio que estabeleci.
Para o ano, espero, haverá novamente Natal e, então, verei o que me fará sentido fazer, porque o que sinto agora pode sofrer alterações, como, de resto, já sofreu noutras alturas da minha vida. O que isto tem de maravilhoso que mereça ser plasmado por escrito é tão somente o facto de eu me dar conta da possibilidade de alteração de um comportamento e de ela não me perturbar, de eu recusar espartilhar-me em absolutos e em imutáveis, de eu ter deixado de resistir à mudança, de eu ser capaz de pôr em prática a ideia de que o que for, se verá e o que tiver de ser, será. Sim, isto é maravilhoso e merece ser plasmado por escrito, porque parte apenas de um pequeno e, porventura, insignificante exemplo da minha vida, mas é a materialização de uma grande, enorme, gigantesca evolução operada em mim.
© [m.m. botelho]