Às vezes, sucede que, num segundo [num nanossegundo, talvez], algo do que nos liga ao Outro se quebra, se esfuma, se volatiliza e lhe perdemos o rasto. Não sabemos, em concreto, o que é, mas apressados e seguros, na nossa mania de darmos nomes às coisas, apelidamo-lo de muitas maneiras, cada um a seu modo, dependendo do tipo de ligação que temos com o Outro: encantamento, admiração, deslumbre, fascínio, paixão, arrebatamento. Seja o que for e chame-se lá como se chamar, certo é que sofreu uma alteração. Bastou um segundo [um nanossegundo, talvez].
Confrontados com o sucedido, damos voltas à cabeça para tentar perceber o que era aquilo que se transmutou algures no percurso, como se chamava, o que lhe aconteceu exactamente e porque raio é que aconteceu. Temos muitas perguntas, buscamos muitas respostas e enredamo-nos em profundas elaborações sobre tudo isto.
Depois, para alguns, chega o dia em que já mais nenhuma pergunta importa senão esta: «É possível recuperá-lo?». De entre esses alguns, os mais afortunados começam a ouvir dentro de si uma voz, a princípio ténue, que vai ganhando corpo e volume até que lhes rasga o peito e lhes diz, limpidamente: «Só o saberás se o tentares». Em raros casos, da dúvida nasce a acção: os mais audazes tentam mesmo.
São audazes, não são loucos. Loucos são aqueles que os julgam.
© [m.m. botelho]
Confrontados com o sucedido, damos voltas à cabeça para tentar perceber o que era aquilo que se transmutou algures no percurso, como se chamava, o que lhe aconteceu exactamente e porque raio é que aconteceu. Temos muitas perguntas, buscamos muitas respostas e enredamo-nos em profundas elaborações sobre tudo isto.
Depois, para alguns, chega o dia em que já mais nenhuma pergunta importa senão esta: «É possível recuperá-lo?». De entre esses alguns, os mais afortunados começam a ouvir dentro de si uma voz, a princípio ténue, que vai ganhando corpo e volume até que lhes rasga o peito e lhes diz, limpidamente: «Só o saberás se o tentares». Em raros casos, da dúvida nasce a acção: os mais audazes tentam mesmo.
São audazes, não são loucos. Loucos são aqueles que os julgam.
© [m.m. botelho]