17.4.11

nojo

Como diria o outro (ou a outra, já não sei) é oficial: estou naquela fase que a minha querida Isabel previu que haveria de chegar porque, no seu entender, ainda não havia aflorado com a intensidade que era suposto, tendo em conta os contornos do que me tinha acontecido. Disse-me ela variadas vezes que eu ainda não me tinha zangado o suficiente, que eu ainda não me tinha zangado «a sério» com as pessoas e as situações que me fizeram muito mal.

É engraçado que isto suceda logo agora, quando eu me sinto lindamente com a vida, muito satisfeita comigo e muito bem com os meus amigos e família e todos os que gostam de mim. É engraçado que estando eu tão bem, seja precisamente agora que, em relação aos protagonistas do episódio lamentável em que me vi envolvida há uns tempos, eu esteja a desenvolver uma espécie de aversão. É muito mais do que irritação, é aversão. Diria nojo, mesmo. Daí a vontade e a necessidade da distância, de não ouvir sequer os nomes das pessoas em causa, de não querer saber nada de nada que diga respeito a essa gente.

É curioso que eu tenha demorado tanto tempo a chegar aqui, mas isto levou-me a concluir que sou lenta no processamento das emoções negativas e, simultaneamente, impaciente na concretização das emoções positivas. Quero logo resolver o mal para que tudo fique bem e fico tempos infinitos agarrada à utopia de que tudo se vai compor, sem sequer me aperceber de que não há composição possível. Por isso é que demoro imenso tempo - muito mais do que seria desejável - a zangar-me. Acho sempre que é desnecessário. Mas não é. Zangar-me a valer com quem se portou muito mal comigo é absolutamente essencial para resolver e ultrapassar as coisas, porque não há perdões nem superações no que toca a traições [que também foi outra coisa que eu demorei a perceber, irra!].

Se me fosse dado escolher um dia da minha vida para alterar, sei exactamente qual escolheria. Não escolheria aquele em que fui traída, escolheria o dia em que conheci cada um dos traidores. Apagá-los-ia do meu percurso, não quereria sequer conhecê-los. Se pudesse, escolhia que a minha vida nunca se tivesse cruzado com essas vidas. Isto é mais do que aversão, não é? É, pois. Isto é nojo, do mais puro e do mais profundo. Não há dúvidas, portanto, de que estou a entrar na fase que a minha querida Isabel anteviu e disse estar a demorar demasiado. Finalmente!

Obviamente, eu podia ser muito pudica e não o confessar, porque silenciando o que sinto evitava que as pessoas soubessem o que me vai no peito, mas enfim, nunca fui dissimulada e a estas horas já não é novidade para ninguém que eu não gosto das pessoas em causa porque já o disse directamente a quem de direito. Por outro lado, mantendo o silêncio sobre a coisa também evitava ferir as susceptibilidades das ditas pessoas, que até podem vir a ler isto que está na internet à vista de toda a gente, mas que se lixe, que leiam se cá vierem parar, azar o seu, porque eu, a esta altura do campeonato, já me estou nas tintas para as suas susceptibilidades, tal como as referidas criaturas se estiveram nas tintas para as minhas quando decidiram fazer o que fizeram, magoando-me como me magoaram e por aqui me fico. Vai daí, em vez de pudica, prefiro ser honesta e franca e escrevê-lo com as letras todas, leia isto quem vier a ler, porque neste momento me apetece dizê-lo, sem estar a pensar em quem vai ler ou no que quem vai ler vai pensar: tenho nojo daquela gente, repulsa pura e dura, uma repugnância imensa.

Na altura não percebi, mas no dia em que me traíram, saiu-me a sorte grande: começou a sua saída da minha vida, a purga do meu espaço, a limpeza dos meus dias. Já considerei aquele o pior dia da minha vida, mas hoje considero-o um dos melhores. Sem dúvida, um dos melhores. Só lamento que a revelação da podridão que me rodeava não tivesse ocorrido mais cedo mas, felizmente, a verdade é como o azeite e, por isso, vem sempre acima. E, um dia, eu haveria de a ver, caramba. Bem me dizia a minha querida Isabel que um dia eu haveria de a ver.

© [m.m. botelho]

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