Os sentimentos mais arrebatadores, como a paixão e o amor, têm como efeito fazer-nos pensar no objecto dos mesmos desde que acordamos até que nos deitamos. Desconheço se terão também o efeito de nos fazer sonhar com ele, o objecto da nossa afeição, visto que num ano e tal (contado com precisão) me recordo de apenas quatro sonhos (devidamente anotados num caderno de capa preta) e nenhum deles votado ao assunto (talvez porque os afectos foram definhando e há já muitos meses desse ano que não existiam). Agora, que existem, o estado de coisas mantém-se: não me lembro de nadinha do que sonho... ainda!
É algo que me entristece, o facto de não poder resgatar o meu material onírico para depois discorrer sobre ele quando estou acordada. Por outro lado, pensando bem, talvez isso seja uma bênção. Se já tenho tanto a ocupar-me a mente quando estou acordada (desde que abro a pestana até que a fecho para o sono dos justos), como teria eu tempo para me debruçar sobre o que penso quando estou a dormir? Não teria, seguramente.
Há quem me diga que haverá de chegar o dia em que recordarei os sonhos com toda a naturalidade do mundo e que aquelas páginas agora em branco do caderno de capa preta ficarão cheias de palavras. Durante muito tempo, olhava para elas e via as linhas azuis claras debaixo de palavras que não estavam lá escritas, mas que eu gostaria que estivessem. Sim, durante algum tempo, eu quis muito sonhar com isto e aquilo (que eu sei o que é, mas não quero escrever aqui). Agora, não quero sonhar com nada. Não sei se o dia da recordação virá, não quero saber. Ando a viver uma espécie de "sonho lindo" de olhos abertos e isso faz-me tão bem e é tão bom que, sinceramente, pouco me importa o que a minha cabeça processa quando está em modo "às escuras". Estou acordada e a viver, mas a sonhar em simultâneo e isso basta-me.
Ora, depois de uma extraordinária viagem a Israel, o que mais é que uma alma simples como a minha pode pedir? Nada. Não posso pedir nada e nem sei como agradecer tudo isto. Acho que vou só aproveitar e desejar, com todas as forças, que nunca acabe. Sim, porque há sempre um sonho que é o último e eu quero acreditar com todas as forças que este é o meu. Já acreditei outras vezes e enganei-me, mas eu nunca disse que desistia daquilo que quero com facilidade e tudo por uma simples razão: porque não desisto. Não desisto, não, por isso é que sei que haverá de chegar o dia em que acertarei no alvo e o sonho perdurará e será o último: bom, pleno, feliz e perene.
Deixemos o tempo fazer o seu trabalho e as cãs assomarem mais, que ainda são muito poucas. Eu estarei cá, de bilhete na mão, para verificar o resultado da minha aposta, com igual coragem para descobrir se será bom ou mau. Deixar de apostar é que não. Deixar de sonhar acordada é que nunca.
© [m.m. botelho]
É algo que me entristece, o facto de não poder resgatar o meu material onírico para depois discorrer sobre ele quando estou acordada. Por outro lado, pensando bem, talvez isso seja uma bênção. Se já tenho tanto a ocupar-me a mente quando estou acordada (desde que abro a pestana até que a fecho para o sono dos justos), como teria eu tempo para me debruçar sobre o que penso quando estou a dormir? Não teria, seguramente.
Há quem me diga que haverá de chegar o dia em que recordarei os sonhos com toda a naturalidade do mundo e que aquelas páginas agora em branco do caderno de capa preta ficarão cheias de palavras. Durante muito tempo, olhava para elas e via as linhas azuis claras debaixo de palavras que não estavam lá escritas, mas que eu gostaria que estivessem. Sim, durante algum tempo, eu quis muito sonhar com isto e aquilo (que eu sei o que é, mas não quero escrever aqui). Agora, não quero sonhar com nada. Não sei se o dia da recordação virá, não quero saber. Ando a viver uma espécie de "sonho lindo" de olhos abertos e isso faz-me tão bem e é tão bom que, sinceramente, pouco me importa o que a minha cabeça processa quando está em modo "às escuras". Estou acordada e a viver, mas a sonhar em simultâneo e isso basta-me.
Ora, depois de uma extraordinária viagem a Israel, o que mais é que uma alma simples como a minha pode pedir? Nada. Não posso pedir nada e nem sei como agradecer tudo isto. Acho que vou só aproveitar e desejar, com todas as forças, que nunca acabe. Sim, porque há sempre um sonho que é o último e eu quero acreditar com todas as forças que este é o meu. Já acreditei outras vezes e enganei-me, mas eu nunca disse que desistia daquilo que quero com facilidade e tudo por uma simples razão: porque não desisto. Não desisto, não, por isso é que sei que haverá de chegar o dia em que acertarei no alvo e o sonho perdurará e será o último: bom, pleno, feliz e perene.
Deixemos o tempo fazer o seu trabalho e as cãs assomarem mais, que ainda são muito poucas. Eu estarei cá, de bilhete na mão, para verificar o resultado da minha aposta, com igual coragem para descobrir se será bom ou mau. Deixar de apostar é que não. Deixar de sonhar acordada é que nunca.
© [m.m. botelho]