Quase vinte e cinco minutos depois de estar a tentar convencer-me a comprar um gadget que faz biliões de coisas e de eu ter desconstruído todos os seus argumentos com grande facilidade usando apenas três contra-argumentos, que são estes:
1. o gadget que eu ia à loja comprar (muito mais barato, claro) desempenhava as funções que eu queria (não biliões, mas as que eu queria) na exacta medida da minha necessidade;
2. eu não precisava da função "x" naquele gadget que estava a ser-me impingido porque já tinha outro gadget que a fazia;
3. apesar de gadgetfreak eu só faço bons negócios, já que, como qualquer gadgetfreak que se preze eu sei quando é que vai sair a nova versão daquele gadget e também sei se posso comprá-lo online por metade do preço da comercialização das lojas portuguesas;
a funcionária da loja vira-se para mim e enceta o seguinte diálogo:
Ela - Ok, já vi que não vou conseguir convencê-la. Posso fazer-lhe uma pergunta?
Eu - Além dessa que acabou de fazer?
Eu - Sim, além desta (e sorri; eu consinto com a cabeça).
Ela - A senhora é Advogada?
Eu - Sou, sim.
Ela - Logo vi.
Eu - E viu como?
Ela - Porque é osso duro de roer. É má.
Eu - Má, eu? Olhe, que não, olhe que não.
Ela - É má, por isso é que é boa.
Eu - Se explicasse o que acabou de dizer, eu cá não me importava nada.
Ela - Eu explico. Olhe, infelizmente, já precisei de Advogados duas vezes na vida. A primeira vez foi quando fui despedida da loja onde trabalhava antes desta e a segunda foi por causa de um acidente de viação que tive. Por isso, os meus conhecidos pedem-me muitas vezes conselhos quando precisam e têm de escolher um Advogado e o que eu lhes digo sempre é: escolhe um que seja mau, porque quando são maus é porque são bons. É o que eu costumo dizer às pessoas.
Eu - Olhe, não sei se hei-de considerar isso como um elogio. É que eu não acho que seja má.
Ela - Quando eu digo "maus" é daqueles que são duros de roer, daqueles que dão luta. Claro que é um elogio. Ganhou-me por 1-0. Não vai levar o que eu lhe queria vender, mas o que veio cá comprar. Tem dúvidas de que é um elogio?
Eu - Tirarei as dúvidas por completo quando me aparecer alguém no escritório que me diga que vai recomendado pela Senhora.
Ela - 2-0! Pronto! Ganhou-me por 2-0! Eu não digo que se vê logo? Eu bem digo!
Moral da história: Não te metas com uma Advogada gadgetfreak que é boa porque é má, porque acabas a perder 2-0. Ou isso, ou outra coisa qualquer que agora não me ocorre, mas alguma moral isto deve ter.
© [m.m. botelho]
1. o gadget que eu ia à loja comprar (muito mais barato, claro) desempenhava as funções que eu queria (não biliões, mas as que eu queria) na exacta medida da minha necessidade;
2. eu não precisava da função "x" naquele gadget que estava a ser-me impingido porque já tinha outro gadget que a fazia;
3. apesar de gadgetfreak eu só faço bons negócios, já que, como qualquer gadgetfreak que se preze eu sei quando é que vai sair a nova versão daquele gadget e também sei se posso comprá-lo online por metade do preço da comercialização das lojas portuguesas;
a funcionária da loja vira-se para mim e enceta o seguinte diálogo:
Ela - Ok, já vi que não vou conseguir convencê-la. Posso fazer-lhe uma pergunta?
Eu - Além dessa que acabou de fazer?
Eu - Sim, além desta (e sorri; eu consinto com a cabeça).
Ela - A senhora é Advogada?
Eu - Sou, sim.
Ela - Logo vi.
Eu - E viu como?
Ela - Porque é osso duro de roer. É má.
Eu - Má, eu? Olhe, que não, olhe que não.
Ela - É má, por isso é que é boa.
Eu - Se explicasse o que acabou de dizer, eu cá não me importava nada.
Ela - Eu explico. Olhe, infelizmente, já precisei de Advogados duas vezes na vida. A primeira vez foi quando fui despedida da loja onde trabalhava antes desta e a segunda foi por causa de um acidente de viação que tive. Por isso, os meus conhecidos pedem-me muitas vezes conselhos quando precisam e têm de escolher um Advogado e o que eu lhes digo sempre é: escolhe um que seja mau, porque quando são maus é porque são bons. É o que eu costumo dizer às pessoas.
Eu - Olhe, não sei se hei-de considerar isso como um elogio. É que eu não acho que seja má.
Ela - Quando eu digo "maus" é daqueles que são duros de roer, daqueles que dão luta. Claro que é um elogio. Ganhou-me por 1-0. Não vai levar o que eu lhe queria vender, mas o que veio cá comprar. Tem dúvidas de que é um elogio?
Eu - Tirarei as dúvidas por completo quando me aparecer alguém no escritório que me diga que vai recomendado pela Senhora.
Ela - 2-0! Pronto! Ganhou-me por 2-0! Eu não digo que se vê logo? Eu bem digo!
Moral da história: Não te metas com uma Advogada gadgetfreak que é boa porque é má, porque acabas a perder 2-0. Ou isso, ou outra coisa qualquer que agora não me ocorre, mas alguma moral isto deve ter.
© [m.m. botelho]