Durante quase toda a minha vida fui uma panhonhas de primeira apanha no que concerne ao que os outros faziam e, por arrasto, me envolvia e fazia sofrer. Foram momentos muito raros na minha vida, porque tenho a sorte de ser uma tipa que já riu e foi feliz muito mais do que chorou e sofreu. Talvez por isso não soubesse lidar com momentos destes e fosse panhonhas, naba, totó ao lidar com eles.
Entretanto, algumas mudanças se operaram em mim. Uma delas foi o ganho da consciência de que, em determinados momentos da nossa vida, por muito que queiramos não conseguimos lidar com certos comportamentos e certas pessoas à nossa volta. Então, nesse caso, o melhor é não criar conflitos com os outros, mas sim afastarmo-nos deles, assumindo a nossa incapacidade, falta de vontade, pachorra ou o que seja para lidarmos com eles naquele momento. Assim, ninguém se magoa, não há lugar a sarcasmos, a hipocrisias ou a deslealdades, ainda que só nós nos apercebamos deles. Trata-se apenas de um afastamento para poder limpar o coração e os olhos dos jorros de sangue e lágrimas. Apenas isso, mas tão essencial.
Se o afastamento se manterá ou não, a vida se encarregará de o mostrar, acredito. Sei que o tempo tem um papel fundamental a desempenhar na vida de todos nós e que às vezes grita tanto aos nossos ouvidos que precisamos dele, que não temos alternativa senão pôr determinadas coisas em suspenso e esperar que o tempo faça o seu papel.
Acima de tudo, estão as minhas necessidades e o meu bem-estar e se eu me peço a mim mesma espaço e tempo, estaria a desrespeitar-me muitíssimo se não mos concedesse; estaria, no fundo, a ser uma panhonhas de primeira apanha. Não quero voltar a sê-lo.
Tal como sucede com os jardins, também nós, às vezes, precisamos de revolver a terra e arrancar-lhe todas as raízes para que algo novo e belo possa ser plantado e floresça. É tramado quando se trata de arrancar árvores centenárias ou daquelas que têm raízes muito extensas, mas até essas um dia têm de ceder o seu lugar. Como é óbvio, este é um processo muito mais exigente para o jardineiro do que para a árvore, porque ele é que tem de cortar, arrancar, arar, plantar, regar, zelar pelo novo florescimento, mas nem todos vêem isto, porque há sempre, pelo menos, duas perspectivas do mesmo cenário. Que fazer? Nada. Aceitar que cada um vê como pode e sabe e seguir em frente.
Posso vir a mudar de ideias (porque só os burros é que não mudam), mas hoje sinto que prefiro mil vezes um afastamento tranquilo e leal a uma proximidade tumultuosa e desconfiada. Hoje sei que prefiro que o meu coração seja um jardim bonito, mesmo que plantado de novo, do que um jardim muito antigo, mas cheio de raízes e plantas mortas. Por isso, eu que nunca plantei uma árvore no sentido exacto do termo, ando a estragar as unhas e as mãos na terra fictícia do jardim do meu peito, mas sei que é o melhor que posso e devo fazer por mim. Vão-se os anéis, mas fiquem os dedos, mesmo que com as unhas estragadas. Os dedos são insubstituíveis, eu sou insubstituível para mim mesma e é isso que, antes de mais, tem de guiar o que eu faço com a minha vida. É isso que, antes de mais, devia guiar o que todos nós fazemos com as nossas vidas.
© [m.m. botelho]
Entretanto, algumas mudanças se operaram em mim. Uma delas foi o ganho da consciência de que, em determinados momentos da nossa vida, por muito que queiramos não conseguimos lidar com certos comportamentos e certas pessoas à nossa volta. Então, nesse caso, o melhor é não criar conflitos com os outros, mas sim afastarmo-nos deles, assumindo a nossa incapacidade, falta de vontade, pachorra ou o que seja para lidarmos com eles naquele momento. Assim, ninguém se magoa, não há lugar a sarcasmos, a hipocrisias ou a deslealdades, ainda que só nós nos apercebamos deles. Trata-se apenas de um afastamento para poder limpar o coração e os olhos dos jorros de sangue e lágrimas. Apenas isso, mas tão essencial.
Se o afastamento se manterá ou não, a vida se encarregará de o mostrar, acredito. Sei que o tempo tem um papel fundamental a desempenhar na vida de todos nós e que às vezes grita tanto aos nossos ouvidos que precisamos dele, que não temos alternativa senão pôr determinadas coisas em suspenso e esperar que o tempo faça o seu papel.
Acima de tudo, estão as minhas necessidades e o meu bem-estar e se eu me peço a mim mesma espaço e tempo, estaria a desrespeitar-me muitíssimo se não mos concedesse; estaria, no fundo, a ser uma panhonhas de primeira apanha. Não quero voltar a sê-lo.
Tal como sucede com os jardins, também nós, às vezes, precisamos de revolver a terra e arrancar-lhe todas as raízes para que algo novo e belo possa ser plantado e floresça. É tramado quando se trata de arrancar árvores centenárias ou daquelas que têm raízes muito extensas, mas até essas um dia têm de ceder o seu lugar. Como é óbvio, este é um processo muito mais exigente para o jardineiro do que para a árvore, porque ele é que tem de cortar, arrancar, arar, plantar, regar, zelar pelo novo florescimento, mas nem todos vêem isto, porque há sempre, pelo menos, duas perspectivas do mesmo cenário. Que fazer? Nada. Aceitar que cada um vê como pode e sabe e seguir em frente.
Posso vir a mudar de ideias (porque só os burros é que não mudam), mas hoje sinto que prefiro mil vezes um afastamento tranquilo e leal a uma proximidade tumultuosa e desconfiada. Hoje sei que prefiro que o meu coração seja um jardim bonito, mesmo que plantado de novo, do que um jardim muito antigo, mas cheio de raízes e plantas mortas. Por isso, eu que nunca plantei uma árvore no sentido exacto do termo, ando a estragar as unhas e as mãos na terra fictícia do jardim do meu peito, mas sei que é o melhor que posso e devo fazer por mim. Vão-se os anéis, mas fiquem os dedos, mesmo que com as unhas estragadas. Os dedos são insubstituíveis, eu sou insubstituível para mim mesma e é isso que, antes de mais, tem de guiar o que eu faço com a minha vida. É isso que, antes de mais, devia guiar o que todos nós fazemos com as nossas vidas.
© [m.m. botelho]