«Quando comecei a sair à noite, há anos, havia sempre uns tipos mais velhos que iam ficando esquecidos, geração a geração, e iam adoptando as gerações cada vez mais novas por companhia. A dada altura, (acontecia com 2 ou 3 personagens) mesmo os solteirões da geração deles já tinham mudado de vida e deixado as saídas diárias, a geração seguinte à deles já estava a casar e ter filhos, e esses tipos já não eram os mais velhos do grupo de pessoas com quem saiam à noite, eram apenas tipos de 30 anos no meio de miúdos de 14, algo desajustados e patéticos como se usassem roupa demasiado pequena para o seu tamanho. Tentavam adaptar-se aos novos códigos e tribos, mas, depois do entusiasmo da recepção inicial, eram tratados, pelos mais novos, com algum desconforto, como se trata um tio gágá que insiste em fazer graçolas inconvenientes às nossas amigas. E lá iam, insistindo no ridículo da nova vaga de amigos com os quais, à semelhança dos anteriores, se incompatibilizariam, porque a idade mental é mais sincera e cruel do que a física e até na primeira se deixavam ficar confrangedoramente para trás. Há disto em todo o lado.»
Laura Abreu Cravo,
no post «Os que ficam», do blogue «A alma conservadora».
no post «Os que ficam», do blogue «A alma conservadora».
[Está tão bem escrito que não é preciso retirar ou acrescentar seja o que for. O mais curioso é que, consoante os grupelhos, o inverso às vezes também se verifica.]
© [m.m. botelho]
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