Perante os desaires da existência humana, mal de quem se foca promordialmente em qualquer outra coisa que não nos valores. Quando a vida dá as suas voltas, de muito pouco valerá zurzir contra o facto, clamar que é injusto e que ninguém merecia que tal acontecesse. A única coisa (talvez), a que poderemos agarrar-nos é aos nossos valores, ao nosso carácter e aos nossos princípios, se forem bons, e procurar dar a volta por cima das voltas da vida.
É essa, provavelmente, a grande diferença entre os que tombam do cavalo e se esfolam completamente, às vezes mesmo deixando de ser quem eram e revelando-se irreconhecíveis aos que mais intimamente se mostraram, e os que mantêm a força nas pernas para reagir e prosseguir o caminho a pé, ainda que com as suas limitações, hesitações e lentidão. O percurso é, essencialmente, solitário, pelo que convém que cada um tenha, em si mesmo, as capacidades para reagir. Caso contrário, arrisca-se a ser um fantasma de outros, quando o tabuleiro virar (porque ele vira sempre, mais tarde ou mais cedo), sem capacidade de agir a não ser ancorado nos discursos e nos actos alheios. Quem se escuda no que os outros dizem e fazem por si, argumentando que já alguém explicou o que havia para ser explicado e, por isso, nada mais tem de acrescentar, não tenha dúvidas de que não será capaz de articular palavra ou reacção quando o tabuleiro virar. Talvez, então, se dê conta de que andou a fingir que crescia e se fazia gente, quando, em boa verdade, nada mais fez do que abrigar-se sob a capa dos outros.
Cada um constatará que capacidades (valores, carácter e princípios) tem e cultivou ao longo dos anos no dia em que a vida o puser à prova. A "paralisia", a existir, é visível, por muito que se tente disfarçá-la, e se há verdadeiros mestres do disfarce, também há ingénuos que se comparam a eles quando não passam de canas verdes.
Termino como comecei: mal de quem se agarra a arrazoados. A fibra dos homens vê-se na sua coragem para lutar sob quaisquer que sejam as circunstâncias.
© [m.m. botelho]
É essa, provavelmente, a grande diferença entre os que tombam do cavalo e se esfolam completamente, às vezes mesmo deixando de ser quem eram e revelando-se irreconhecíveis aos que mais intimamente se mostraram, e os que mantêm a força nas pernas para reagir e prosseguir o caminho a pé, ainda que com as suas limitações, hesitações e lentidão. O percurso é, essencialmente, solitário, pelo que convém que cada um tenha, em si mesmo, as capacidades para reagir. Caso contrário, arrisca-se a ser um fantasma de outros, quando o tabuleiro virar (porque ele vira sempre, mais tarde ou mais cedo), sem capacidade de agir a não ser ancorado nos discursos e nos actos alheios. Quem se escuda no que os outros dizem e fazem por si, argumentando que já alguém explicou o que havia para ser explicado e, por isso, nada mais tem de acrescentar, não tenha dúvidas de que não será capaz de articular palavra ou reacção quando o tabuleiro virar. Talvez, então, se dê conta de que andou a fingir que crescia e se fazia gente, quando, em boa verdade, nada mais fez do que abrigar-se sob a capa dos outros.
Cada um constatará que capacidades (valores, carácter e princípios) tem e cultivou ao longo dos anos no dia em que a vida o puser à prova. A "paralisia", a existir, é visível, por muito que se tente disfarçá-la, e se há verdadeiros mestres do disfarce, também há ingénuos que se comparam a eles quando não passam de canas verdes.
Termino como comecei: mal de quem se agarra a arrazoados. A fibra dos homens vê-se na sua coragem para lutar sob quaisquer que sejam as circunstâncias.
© [m.m. botelho]