O filme que escolhi ver ontem foi «O discurso do Rei». O critério foi o do horário de início: este era o que começava primeiro, circunstância que, no final de um dia de trabalho fora de casa, pode mesmo ser determinante.
«O discurso do Rei» é um invulgar filme sobre a fragilidade humana, sobre o combate contra o medo, sobre a tensão entre o querer e o dever, sobre a importância da autoconfiança e o papel que o afecto pode desempenhar no seu reforço.
Bertie, segundo filho do Rei Jorge V de Inglaterra, padece de gaguez. A mulher empenha-se na sua cura e, por recomendação, entra em contacto com Lionel Logue, um terapeuta da fala com métodos pouco ortodoxos. A partir daqui, a acção foca-se na relação entre os dois homens. Quando o irmão abdica para poder casar-se com a mulher que ama, Bertie vê-se a braços com o seu maior medo: ter de proferir os eloquentes discursos que se esperam de um Rei. E não pode evitar o confronto.
Lamentavelmente, o argumento explora apenas superficialmente a faceta de actor frustrado de Lionel. Julgo que, de certa forma, constitui uma oposição à situação vivida por Bertie. Lionel, um apaixonado por Shakespeare, gostaria de ter sido actor de teatro, mas nunca conseguiu pisar os grandes palcos. Bertie, um frustrado amante de modelismo forçado pelo pai a ser coleccionador de selos, não quer ser Rei, mas as circunstâncias conduzem-no ao trono. Isto acontece com todos nós em determinadas dimensões da nossa vida: há coisas que não queremos e que nos acontecem e coisas que desejamos e que nem sempre conseguimos alcançar. Teria sido estimulante assistir a uma abordagem mais profunda deste aspecto.
Mas «O discurso do Rei» cumpre a sua função ao desperta-nos para a noção de que, tal como Bertie, todos termos a nossa própria gaguez e de que todos podemos ultrapassá-la. É um filme sobre obstáculos, receios e dificuldades, mas também é um filme sobre soluções. Veio em boa altura, na minha vida. Veio na altura ideal.
© [m.m. botelho]
«O discurso do Rei» é um invulgar filme sobre a fragilidade humana, sobre o combate contra o medo, sobre a tensão entre o querer e o dever, sobre a importância da autoconfiança e o papel que o afecto pode desempenhar no seu reforço.
Bertie, segundo filho do Rei Jorge V de Inglaterra, padece de gaguez. A mulher empenha-se na sua cura e, por recomendação, entra em contacto com Lionel Logue, um terapeuta da fala com métodos pouco ortodoxos. A partir daqui, a acção foca-se na relação entre os dois homens. Quando o irmão abdica para poder casar-se com a mulher que ama, Bertie vê-se a braços com o seu maior medo: ter de proferir os eloquentes discursos que se esperam de um Rei. E não pode evitar o confronto.
Lamentavelmente, o argumento explora apenas superficialmente a faceta de actor frustrado de Lionel. Julgo que, de certa forma, constitui uma oposição à situação vivida por Bertie. Lionel, um apaixonado por Shakespeare, gostaria de ter sido actor de teatro, mas nunca conseguiu pisar os grandes palcos. Bertie, um frustrado amante de modelismo forçado pelo pai a ser coleccionador de selos, não quer ser Rei, mas as circunstâncias conduzem-no ao trono. Isto acontece com todos nós em determinadas dimensões da nossa vida: há coisas que não queremos e que nos acontecem e coisas que desejamos e que nem sempre conseguimos alcançar. Teria sido estimulante assistir a uma abordagem mais profunda deste aspecto.
Mas «O discurso do Rei» cumpre a sua função ao desperta-nos para a noção de que, tal como Bertie, todos termos a nossa própria gaguez e de que todos podemos ultrapassá-la. É um filme sobre obstáculos, receios e dificuldades, mas também é um filme sobre soluções. Veio em boa altura, na minha vida. Veio na altura ideal.
© [m.m. botelho]