Eu bem disse que tinha gostado e que ia repetir. Ontem à noite, voltei a ir ao cinema sozinha. Era noite de S. Valentim. A maior parte das pessoas que estavam na sala estava acompanhada. Não vi absolutamente ninguém sozinho, para além de mim. Curiosamente, na sala, muitos casais de pessoas mais velhas, com idade para serem meus pais.
Fiquei sentada na terceira fila a contar do fim, entalada entre dois casais daquela geração. Fui a última a chegar, os meus vizinhos já estavam sentados, mas cheguei até antes da hora (agora, eu raramente me atraso para os meus compromissos com hora marcada: faz parte dos meus muitos progressos como ser humano). Quando me viram inclinar para entrar na fila, olharam-me como se eu fosse um extraterrestre. Se calhar, não estavam à espera de ver uma personagem como eu a chegar àquele lugar, mas eu até estava com uma aparência muito banal: sozinha, um saco de compras na mão esquerda, uma garrafa de água na direita e o tiracolo da mala atravessado no peito (com o casaco que estava a usar, estilo militar, gosto de usar a mala assim). A senhora que estava à minha direita, uma louraça espampanante, retirou a mala e o casaco para eu poder sentar-me. Agradeci e ela sorriu simpaticamente. O sujeito do lado esquerdo, endireitou-se na cadeira e pôs os óculos para me ver melhor. Mal o olhei, só sei que tinha bigode e que um duche antes do cinema não lhe teria feito mal nenhum.
Eu sentei-me, desliguei o telemóvel, tirei o casaco e abri a garrafa de água, para não estar a fazer barulho durante o filme. Como sempre, cruzei a perna esquerda sobre a direita. E depois não me lembro de mais nada. Concentrei-me no momento e pus os olhos na tela onde passavam os trailers. Acho que sorri. Não, não acho. Tenho a certeza de que sorri. Senti-me bem. Senti-me feliz, satisfeita comigo mesma. Sim, só posso mesmo ter sorrido.
© [m.m. botelho]
Fiquei sentada na terceira fila a contar do fim, entalada entre dois casais daquela geração. Fui a última a chegar, os meus vizinhos já estavam sentados, mas cheguei até antes da hora (agora, eu raramente me atraso para os meus compromissos com hora marcada: faz parte dos meus muitos progressos como ser humano). Quando me viram inclinar para entrar na fila, olharam-me como se eu fosse um extraterrestre. Se calhar, não estavam à espera de ver uma personagem como eu a chegar àquele lugar, mas eu até estava com uma aparência muito banal: sozinha, um saco de compras na mão esquerda, uma garrafa de água na direita e o tiracolo da mala atravessado no peito (com o casaco que estava a usar, estilo militar, gosto de usar a mala assim). A senhora que estava à minha direita, uma louraça espampanante, retirou a mala e o casaco para eu poder sentar-me. Agradeci e ela sorriu simpaticamente. O sujeito do lado esquerdo, endireitou-se na cadeira e pôs os óculos para me ver melhor. Mal o olhei, só sei que tinha bigode e que um duche antes do cinema não lhe teria feito mal nenhum.
Eu sentei-me, desliguei o telemóvel, tirei o casaco e abri a garrafa de água, para não estar a fazer barulho durante o filme. Como sempre, cruzei a perna esquerda sobre a direita. E depois não me lembro de mais nada. Concentrei-me no momento e pus os olhos na tela onde passavam os trailers. Acho que sorri. Não, não acho. Tenho a certeza de que sorri. Senti-me bem. Senti-me feliz, satisfeita comigo mesma. Sim, só posso mesmo ter sorrido.
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