Um dos motivos pelos quais eu não posso duvidar de que, como diz a O., eu sou «uma abençoada» é o facto de a minha vida ter momentos magníficos, às vezes em catadupa. As últimas três semanas foram exemplo disso, porque me aconteceram coisas muito boas, muito inesperadas e sobre as quais, por isso, tenho mesmo de escrever, ou não estivesse este blogue a tornar-se um espaço cada vez mais importante para mim. Ando desde então para o fazer, mas o tempo não tem sido muito e fui adiando, porque outros valores mais altos se alevantaram. Mas de hoje, isto não passa.
Como uma coisa boa nunca vem só, este ano terei quatro destinos de férias e/ou descanso. Um deles já está cumprido e é sobre isso que quero escrever aqui, para que fique registado nesta espécie de "diário das coisas importantes e pessoais" em que se transformou o «voo.inclinado». Sucede que foi tudo tão retemperador e bom que eu só consigo resumir aqueles dias assim:
Dia 1: Santa Apolónia à noite. Um hamburguer comprado no Chiado [e logo naquela noite o molho de salsa haveria de estar esgotado!] e comido no Miradouro da Graça. Uma tarte de maçã que, sem eu saber, afinal foi novidade. Bairro Alto em excelente companhia [nunca te esqueças, Marta: se, à uma da manhã, há quem páre o carro em plena auto-estrada para te telefonar e perguntar se continua para o Porto ou se vai ter contigo a Lisboa porque sabe que tu lá estás a passar uns dias, só para beber um copo contigo e te dar um abraço quando o poderia fazer dali a uns dias, ergue os olhos ao céu e agradece por teres pessoas assim na tua vida]. Um pé-de-dança no «Frágil». «Sabeis quem era o Chiado?» e ninguém sabia nem queria saber, pelo que «Tu [que sou eu] és mesmo "nerd", pá!» [palavras da L.]. Um discurso da J., merecedor de bastos aplausos, na mesa do Fernando Pessoa n'«A Brasileira», com poemas e o mais que veio à memória. A cena mais surreal alguma vez vista na Avenida Casal Ribeiro, com direito a imitações do "gandim" e da "Madonna" com chapéu e tudo. Uma mulher de burqa [que eu não vi!]. Uma conversa indescritível e irrepetível num dialecto inventado pela J. e pela M.. Muitas barrigadas de riso. Uma das noites mais doidas que já vivi na cidade [e já vivi algumas]. Muitos abraços dados e retribuídos. Um «adoro-vos» gritado da janela aberta do carro às seis da manhã.
Dia 2: Pequeno-almoço preparado por gentileza alheia [manteiga nas torradas incluída]. Ponte «Vasco da Gama». A verdadeira Torta de Azeitão pelo caminho. Ferryboat para Tróia. Almoço tardio no «Comporta Café» [tagliatelli vegetariano e água lisa]. Música cubana ao vivo [por um dueto que eu mesma baptizei de «Zé Maria e Zé Manel»] e um café. O adeus à esplanada ao som de «Comandante Che Guevara». Praia da Comporta. Mar da Comporta. Conversa. Cavalos na praia ao cair da noite. Jantar em Cachopos, n'«A Escola» [queijo de Azeitão, arroz de choco com camarão, empada de coelho bravo com coentros, doce de pinhão bravo com limão, o vinho que, infelizmente, já não recordo]. Um par de cigarros. Viagem desde Alcácer do Sal até Lisboa ao som da noite [rádio no "off"]. «Já chegámos».
Dia 3: Pequeno-almoço preparado por gentileza alheia [mas desta vez sem manteiga nas torradas incluída]. Ponte «25 de Abril». Caparica. Café com gelo no bar da Praia da Rainha. A areia a escaldar da Praia da Rainha. Muito sol e mar. Muita conversa. Uma bola de Berlim com creme [e que se dane a ASAE!]. Mais mar e sol. Regresso a Lisboa. Um belo banho reparador. Jantar no «Mesa de Frades» [sangria de vinho tinto, linguiça grelhada, salada de bacalhau com grão, azeitonas, pataniscas de bacalhau com arroz de feijão vermelho, mousse de chocolate e abacaxi]. Muito calor. Três fados para começar. Um cigarro à porta para arejar. A voz do Pedro Moutinho, que chegou atrasado, mas chegou. Um descafeinado com gelo e conversa à porta com o Pedro Moutinho. Mais fados do Pedro Moutinho, partilhados com o Norte via telemóvel. Outros fados por ilustres desconhecidos. «O amor é louco» cantado por uma inesperada parelha da assistência. Mais cigarros e sangria à porta. O fecho da noite com quatro fados de amadores só para os cinco que resistiam sentados. O regresso a casa. Uma conversa à janela com a linha do eléctrico mesmo abaixo. Uma cerveja, uma «Coca Cola», alguns cigarros e a luz da TV a revelar só parte da sala.
Dia 4: Pequeno-almoço preparado por mim [à terceira, lá consegui antecipar-me]. Café com gelo no Largo de S. Martinho. Marginal em direcção a Cascais. Mais um «Olá!» ao Senhor El-Rei D. Carlos [já foram tantos, que já lhe perdi a conta]. Um périplo que prefiro não lembrar, mas que foi divertido. Uma fila interminável de carros até ao Parque da praia. Uma "espécie de slide" numa duna para chegar até à areia da praia Grande do Guincho porque não me apetecia ir pelo trilho [ainda estou para saber como consegui a proeza do convencimento da L. para a "aventura"]. Muito mar do Guincho, bastante para lá da rebentação das ondas, areia e sol. Uma bola de Berlim sem creme [no Guincho cumpre-se a lei, que maçada!]. Mais mar do Guincho na companhia de uma "espécie de surfista" que por lá andava. Mais areia e mais sol até o dia findar. De novo a marginal e o indispensável «Adeus!» ao Senhor El-Rei D. Carlos. Jantar numa mesa mesmo junto à praia na «Capricciosa» de Carcavelos [pizza «4 Stagioni» e «Imperiale» e «Coca Cola»]. O pôr-do-sol visto da esplanada. A minha indispensável meia-de-leite com gelo. Regresso a Lisboa. Banho terapêutico. A baixa de Lisboa à noite a pé, boa companhia e muita conversa. Rever, no cruzamento de almas mais inesperado da noite, a T. [com quem não estava desde Janeiro e que, só por acaso, é do Porto]. Uma cerveja e uma água lisa. O regresso a casa de táxi porque as pernas pesavam. Mais conversa e um par de cigarros na sala. Janela aberta e a TV sem som, num canal qualquer.
Dia 5: Pequeno-almoço preparado por gentileza alheia [resultado final: ganhei por 3-1, sim, que quem saiu a ganhar fui eu]. Café com gelo no Largo de S. Martinho. Conversa e arrumações. Mais de metade da empada de coelho bravo que havia sobrado do jantar n'«A Escola» para almoço. Um pulo aos «Pastéis de Belém» para fugir ao calor e adoçar o bico. Uma visita ao Museu dos Coches porque «Tu [que sou eu] és uma "nerd", tens cara de "nerd", fumas à "nerd" e falas à "nerd".» e, portanto, se tenho a fama, que ao menos tenha o proveito e sempre se vê o landau em que o Senhor El-Rei D. Carlos e o Príncipe Luís Filipe seguiam quando foram assassinados. Mais um café com gelo em Santa Apolónia. A passagem em revista das memórias excelentes dos dias anteriores. Um abraço apertado e um «Até logo.».
Foram dias fantásticos, que vou lembrar durante muito, muito tempo, não só por terem sido bem passados, mas ainda por todo o significado que tiveram, o qual não posso explicar porque não há como explicar, mas que quem gosta de mim e partilhou estes momentos comigo compreende sem que eu diga uma palavra. Só posso mesmo agradecer aos que estiveram ali, ao meu lado, sempre, não obstante eu ser uma "nerd", rótulo que, vindo de quem vem e com a estima com que me é posto, aceito de bom grado e sei ser elogio.
[A vossa sorte é que eu, mais do que "nerd", sou uma paz de alma, é o que é. E, sim, também é verdade: gramo-vos à brava.]
© [m.m. botelho]
Como uma coisa boa nunca vem só, este ano terei quatro destinos de férias e/ou descanso. Um deles já está cumprido e é sobre isso que quero escrever aqui, para que fique registado nesta espécie de "diário das coisas importantes e pessoais" em que se transformou o «voo.inclinado». Sucede que foi tudo tão retemperador e bom que eu só consigo resumir aqueles dias assim:
Dia 1: Santa Apolónia à noite. Um hamburguer comprado no Chiado [e logo naquela noite o molho de salsa haveria de estar esgotado!] e comido no Miradouro da Graça. Uma tarte de maçã que, sem eu saber, afinal foi novidade. Bairro Alto em excelente companhia [nunca te esqueças, Marta: se, à uma da manhã, há quem páre o carro em plena auto-estrada para te telefonar e perguntar se continua para o Porto ou se vai ter contigo a Lisboa porque sabe que tu lá estás a passar uns dias, só para beber um copo contigo e te dar um abraço quando o poderia fazer dali a uns dias, ergue os olhos ao céu e agradece por teres pessoas assim na tua vida]. Um pé-de-dança no «Frágil». «Sabeis quem era o Chiado?» e ninguém sabia nem queria saber, pelo que «Tu [que sou eu] és mesmo "nerd", pá!» [palavras da L.]. Um discurso da J., merecedor de bastos aplausos, na mesa do Fernando Pessoa n'«A Brasileira», com poemas e o mais que veio à memória. A cena mais surreal alguma vez vista na Avenida Casal Ribeiro, com direito a imitações do "gandim" e da "Madonna" com chapéu e tudo. Uma mulher de burqa [que eu não vi!]. Uma conversa indescritível e irrepetível num dialecto inventado pela J. e pela M.. Muitas barrigadas de riso. Uma das noites mais doidas que já vivi na cidade [e já vivi algumas]. Muitos abraços dados e retribuídos. Um «adoro-vos» gritado da janela aberta do carro às seis da manhã.
Dia 2: Pequeno-almoço preparado por gentileza alheia [manteiga nas torradas incluída]. Ponte «Vasco da Gama». A verdadeira Torta de Azeitão pelo caminho. Ferryboat para Tróia. Almoço tardio no «Comporta Café» [tagliatelli vegetariano e água lisa]. Música cubana ao vivo [por um dueto que eu mesma baptizei de «Zé Maria e Zé Manel»] e um café. O adeus à esplanada ao som de «Comandante Che Guevara». Praia da Comporta. Mar da Comporta. Conversa. Cavalos na praia ao cair da noite. Jantar em Cachopos, n'«A Escola» [queijo de Azeitão, arroz de choco com camarão, empada de coelho bravo com coentros, doce de pinhão bravo com limão, o vinho que, infelizmente, já não recordo]. Um par de cigarros. Viagem desde Alcácer do Sal até Lisboa ao som da noite [rádio no "off"]. «Já chegámos».
Dia 3: Pequeno-almoço preparado por gentileza alheia [mas desta vez sem manteiga nas torradas incluída]. Ponte «25 de Abril». Caparica. Café com gelo no bar da Praia da Rainha. A areia a escaldar da Praia da Rainha. Muito sol e mar. Muita conversa. Uma bola de Berlim com creme [e que se dane a ASAE!]. Mais mar e sol. Regresso a Lisboa. Um belo banho reparador. Jantar no «Mesa de Frades» [sangria de vinho tinto, linguiça grelhada, salada de bacalhau com grão, azeitonas, pataniscas de bacalhau com arroz de feijão vermelho, mousse de chocolate e abacaxi]. Muito calor. Três fados para começar. Um cigarro à porta para arejar. A voz do Pedro Moutinho, que chegou atrasado, mas chegou. Um descafeinado com gelo e conversa à porta com o Pedro Moutinho. Mais fados do Pedro Moutinho, partilhados com o Norte via telemóvel. Outros fados por ilustres desconhecidos. «O amor é louco» cantado por uma inesperada parelha da assistência. Mais cigarros e sangria à porta. O fecho da noite com quatro fados de amadores só para os cinco que resistiam sentados. O regresso a casa. Uma conversa à janela com a linha do eléctrico mesmo abaixo. Uma cerveja, uma «Coca Cola», alguns cigarros e a luz da TV a revelar só parte da sala.
Dia 4: Pequeno-almoço preparado por mim [à terceira, lá consegui antecipar-me]. Café com gelo no Largo de S. Martinho. Marginal em direcção a Cascais. Mais um «Olá!» ao Senhor El-Rei D. Carlos [já foram tantos, que já lhe perdi a conta]. Um périplo que prefiro não lembrar, mas que foi divertido. Uma fila interminável de carros até ao Parque da praia. Uma "espécie de slide" numa duna para chegar até à areia da praia Grande do Guincho porque não me apetecia ir pelo trilho [ainda estou para saber como consegui a proeza do convencimento da L. para a "aventura"]. Muito mar do Guincho, bastante para lá da rebentação das ondas, areia e sol. Uma bola de Berlim sem creme [no Guincho cumpre-se a lei, que maçada!]. Mais mar do Guincho na companhia de uma "espécie de surfista" que por lá andava. Mais areia e mais sol até o dia findar. De novo a marginal e o indispensável «Adeus!» ao Senhor El-Rei D. Carlos. Jantar numa mesa mesmo junto à praia na «Capricciosa» de Carcavelos [pizza «4 Stagioni» e «Imperiale» e «Coca Cola»]. O pôr-do-sol visto da esplanada. A minha indispensável meia-de-leite com gelo. Regresso a Lisboa. Banho terapêutico. A baixa de Lisboa à noite a pé, boa companhia e muita conversa. Rever, no cruzamento de almas mais inesperado da noite, a T. [com quem não estava desde Janeiro e que, só por acaso, é do Porto]. Uma cerveja e uma água lisa. O regresso a casa de táxi porque as pernas pesavam. Mais conversa e um par de cigarros na sala. Janela aberta e a TV sem som, num canal qualquer.
Dia 5: Pequeno-almoço preparado por gentileza alheia [resultado final: ganhei por 3-1, sim, que quem saiu a ganhar fui eu]. Café com gelo no Largo de S. Martinho. Conversa e arrumações. Mais de metade da empada de coelho bravo que havia sobrado do jantar n'«A Escola» para almoço. Um pulo aos «Pastéis de Belém» para fugir ao calor e adoçar o bico. Uma visita ao Museu dos Coches porque «Tu [que sou eu] és uma "nerd", tens cara de "nerd", fumas à "nerd" e falas à "nerd".» e, portanto, se tenho a fama, que ao menos tenha o proveito e sempre se vê o landau em que o Senhor El-Rei D. Carlos e o Príncipe Luís Filipe seguiam quando foram assassinados. Mais um café com gelo em Santa Apolónia. A passagem em revista das memórias excelentes dos dias anteriores. Um abraço apertado e um «Até logo.».
Foram dias fantásticos, que vou lembrar durante muito, muito tempo, não só por terem sido bem passados, mas ainda por todo o significado que tiveram, o qual não posso explicar porque não há como explicar, mas que quem gosta de mim e partilhou estes momentos comigo compreende sem que eu diga uma palavra. Só posso mesmo agradecer aos que estiveram ali, ao meu lado, sempre, não obstante eu ser uma "nerd", rótulo que, vindo de quem vem e com a estima com que me é posto, aceito de bom grado e sei ser elogio.
[A vossa sorte é que eu, mais do que "nerd", sou uma paz de alma, é o que é. E, sim, também é verdade: gramo-vos à brava.]
© [m.m. botelho]